Início Araraquara Língua Brasileira de Sinais é destaque no “Canal Direto com a Prefeitura”

Língua Brasileira de Sinais é destaque no “Canal Direto com a Prefeitura”

Daniela Klemp e Adriano Romin falaram sobre o Dia Nacional do Tradutor e Intérprete de Libras, celebrado nesta quarta-feira (26)

Neste 26 de julho comemora-se o Dia do Intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras), profissional encarregado de prestar serviços à comunidade surda, tornando-se uma espécie de ponte comunicacional entre pessoas surdas e ouvintes através da língua de sinais. A Libras é uma língua reconhecida por lei no Brasil e possui estrutura e gramática próprias. Por ser uma língua visuoespacial, ela é muito mais fácil de ser aprendida pelos surdos e por isso é o primeiro idioma da comunidade surda no país. Para abordar o tema, o programa “Canal Direto com a Prefeitura” convidou Daniela Klemp e Adriano Romin, intérpretes de Libras da Prefeitura de Araraquara.

Daniela relatou que seu primeiro contato com a Libras aconteceu há aproximadamente 15 anos. “Eu sempre me encantei com a língua de sinais, mas meu primeiro contato foi em um momento em que eu tive que mudar de cidade e lá em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, eu conheci uma pastoral de surdos na igreja católica e, na ocasião, não prestei atenção na missa, fiquei prestando atenção na intérprete. Logo na semana seguinte, já fiz uma inscrição em um curso e nunca mais saí desse mundo dos surdos.

Para Adriano, esse contato se deu por conta dos pais. “Meu pai e minha mãe são surdos, então meu primeiro contato foi por conta deles, inclusive tive até um atraso de fala na língua portuguesa porque eu comecei a desenvolver a Libras e em casa era só Libras, Libras, Libras, Libras. Então esse foi meu primeiro contato e estou há 30 anos”, relembrou.

Desafios da profissão

Para Daniela, o maior desafio do intérprete de Libras é reunir informações antes do evento no qual esse profissional vai trabalhar. “Precisamos buscar os sinais, às vezes buscar os sinais locais do lugar onde estamos interpretando, ou termos jurídicos, por exemplo, ou sinais daquela palestra específica. Outra dificuldade também é que muitas vezes, na hora que estamos interpretando, as pessoas esquecem que somos o canal daquela palestra para as pessoas e começam a transitar na nossa frente. Nesse caso, precisamos encontrar um lugar em que possamos estar para poder fazer com que o surdo entenda a comunicação assim como o ouvinte que também está ali sentado. E é importante termos um material antes. Acho que quando temos um material do palestrante, com as informações que vão ser dadas, conseguimos nos preparar melhor um pouco antes com a temática. Isso também nos deixa mais seguros para transmitir a mensagem para a comunidade surda”, salientou.

Além da tradução em si, os profissionais dessa área precisam adaptar alguns termos para que a mensagem não tenha um outro sentido para quem a recebe. “Temos que pegar a mensagem que está sendo dita e trazer para o mais real, adaptar para aquela cultura. Por exemplo, quando alguém pergunta se as pessoas estão ouvindo, nós não podemos traduzir dessa forma, porque se torna pejorativo, preconceituoso, então temos que adaptar culturalmente, por exemplo, perguntando se as pessoas estão vendo, como estão sentindo, se está tudo bem, nesse sentido. É uma adaptação cultural que temos que fazer sempre”, acrescentou Daniela.

Adriano deixou uma dica para as pessoas que pretendem aprender a Libras. “Para aquele que realmente tem interesse em aprender a Língua Brasileira de Sinais, eu indico que faça um curso básico para entender como é, porque não aprendemos só a língua, mas também a identidade cultural dos surdos. Ter o contato com o surdo é primordial também, porque você está falando com ele, você está aprendendo com a língua dele. Eu acho que esse é o começo para se ter um caminho dentro desse mundo”, orientou.

Trabalho que emociona

Adriano relatou que a execução desse trabalho também resulta em grandes emoções. “Às vezes estamos em um lugar onde estamos realizando o sonho de uma pessoa surda, mediando na comunicação. Acho que tem várias emoções que passamos em determinadas esferas. Eu vou falar um que recentemente marcou para mim como profissional intérprete, que foi o João Rock. Acho que esse foi um desafio porque tem que estudar a mensagem. E a música é uma arte, então não é só interpretar literalmente a palavra, temos que dar o ritmo, dar a instrução, a batida, a língua, diretamente também para a comunidade surda”, explicou.

Para Daniela, uma das características que encantam nessa profissão é a oportunidade de atuar em vários setores diferentes. “Um trabalho que me marcou foi um parto de uma amiga em São Bernardo. Deram a ela a possibilidade de ter o marido e o intérprete por perto. Mas, infelizmente, o surdo ainda não tem esses acessos assim tão livremente. E outra coisa que emociona é dentro da terapia, quando vemos as crianças evoluindo na língua, aprendendo, porque o primeiro contato deles, quando nascem, não é por sinais. A maioria dos casos que atendemos no Centro de Reabilitação é de famílias ouvintes, então precisamos conscientizar essas famílias, conscientizar essas crianças para que elas consigam se adaptar. E temos casamentos, eventos em geral. Cada momento é único e estamos ali com aquele surdo, vamos vendo que eles estão entendendo e interagindo. É muito legal fazer com que eles se sintam parte daquele evento. Nos sentimos honrados em emprestar um órgão que temos, que é o nosso ouvido, e pegar essa mensagem, passar para o visual para que eles consigam entender. É um trabalho que somos remunerados para fazer, mas ao mesmo tempo é gratificante demais”, ressaltou.
Muito a conquistar

Daniela comentou que houve uma grande evolução na comunicação com as pessoas surdas, porém ainda há um longo caminho pela frente. “Eu acho que já tivemos um avanço, mas precisamos avançar mais. O ideal seria a pessoa surda que quer resolver um problema e ter um atendente que saiba se comunicar na língua dela. Porque eles querem não ficar na dependência e os familiares fazem com que eles se tornam dependentes, porque sempre tem que chamar uma mãe, um pai. Então é importante deixar claro para os munícipes que nós, dentro da Prefeitura, estamos aqui, somos contratados, passamos em um concurso, somos capacitados, então qualquer munícipe surdo que precisar de nós, estamos à disposição, seja na saúde, seja para resolver problemas dentro da Prefeitura, porque nós somos intérpretes da Prefeitura. Se precisar de alguma coisa fora, também podemos auxiliar, mas aí tem que ser fora do horário de trabalho da Prefeitura”, mencionou.

Adriano também citou um caso que ocorreu em sua família para apontar que ainda há muito a ser melhorado. “Recentemente, meu irmão ganhou uma filhinha, minha primeira sobrinha, mas antes disso tivemos várias batalhas porque o hospital não queria dar acessibilidade, que é um direito dele, ou seja, não estávamos pedindo favor nenhum. Eles falavam que tinha que chamar a família e colocaram várias exigências, mas isso não é cabível porque meus familiares também são surdos, assim como meu irmão, que é independente, e minha cunhada, que também é surda. Precisamos entrar na Justiça para conseguir esse direito e, depois que conseguimos, só faltou um tapete vermelho. Infelizmente, tivemos que passar por várias situações. Acho que faltam algumas coisinhas para melhorar, mas acredito que já avançamos muito. Na Prefeitura, estamos fazendo o máximo para realizar esse atendimento e estamos disponíveis também na área da saúde ou para auxiliar em outras informações. Qualquer coisa, estamos à disposição”, acrescentou.

Serviço público

Quem precisar de tradução e interpretação de Libras relacionados aos serviços da Prefeitura deve procurar o Centro de Reabilitação de Saúde Auditiva na Rua Nove de Julho, 3.700, próximo ao Centralizado, ou entrar em contato pelo Whatsapp (16) 99635-0544. “As pessoas podem mandar vídeo, mandar mensagem, e nós respondemos. Na medida que vão chegando as mensagens, vamos responder todo mundo”, concluiu Daniela.

Redação

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