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Marina Colasanti

Por Tito Cassoni

Marina Colasanti é pouco conhecida dos brasileiros, por isso vou apresenta-la. Nascida na cidade de Asmara, em 1937, capital da Eritréia, país vizinho da Etiópia, no cone nordeste da África. A Etiópia, chamava-se Abissínia até 1935 quando foi invadida pela Itália fascista tendo como chefe Benito Mussolini, que queria dar início ao império italiano. Mas essa já é outra história.

Marina, ainda jovem, mudou-se para Trípoli, capital da Líbia e daí para a Itália. Em 1948 veio para o Brasil com 11 anos e sentou moradia na cidade do Rio de Janeiro, onde mora até hoje. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant’Anna e tem duas filhas.

Iniciou-se como artista plástica, ingressando posteriormente no jornal carioca “Jornal do Brasil”dando início à sua carreira de jornalista. Foi publicitária e tradutora. Escreveu mais de 50 títulos publicados no Brasil e exterior, como contos, crônicas e poesias. Ganhou prêmios no Brasil e Portugal. Atualmente participa ativamente de Congressos, Simpósios, Cursos, e Feiras Literárias tanto no Brasil como fora dele.

E para homenageá-la aqui vai uma sua poesia, publicada no Folhetim, Caderno da Folha no dia 24 de fevereiro de 1985, (já lá se vão 34 anos), com 48 anos, quando você, caro leitor, já estava desenganado com os militares no Brasil e nem pensava que um dia eles poderiam voltar para “salvar o Brasil”. Mas vamos falar de poesia. Poesia de Marina Colasanti!

SEXTA-FEIRA À NOITE
Marina Colasanti

Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro, papéis, documentos
e folheiam nas revistas
a vida de seus ídolos.

Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.

O tema dessa poesia já batia de frente com o machismo e previa o aparecimento do feminismo. É isso que dá guardar jornais velhos. De vez em quando descobrimos pérolas dispersas entre traças, traços e troços. E assim, torço para que você, caro(a) leitor(a) tenha gostado. Pelo menos, recordamos juntos.

Redação

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