Darcy Dantas
Cansada de lutar contra moinhos de vento, empenhei
meus instrumentos de luta. Lembrei-me que aqueles que
plantam, aqueles que transportam, não brigam com
moinhos de vento, sim com a realidade triste, as vezes
cruel.
Em cada silêncio de tuas vozes, dizem inúmeras palavras,
pois falam além da boca. Falam com os olhos, basta
folhear as retinas para se ler a dura história ali inscrita.
Lê-se a marcha nas estradas, lê-se a dor plural, o
horizonte proibido. E você homem terra, em cada silêncio
de tua voz, dizes inúmeras palavras pois falas para além
da boca. Com o estranho balé que seus braços criam ao
rodar seu volante, o homem das estradas tem a certeza
que chegar é seu destino, é o que importa.Com ortografia
única pode-se ler nas paredes dos teus gestos, o norte de
teu sangue.
Os que plantam, assim como aqueles que rodam pelas
estradas lembram-se dos risos e brincadeiras dos filhos,
mas a vida, deve continuar. Ficam as lembranças.
Quantas vezes debruçados no próprio cansaço, esperam
que seu “Ulisses” não tenha naufragado, e que venha
num rompante orientado pelas estrelas das solitárias
noites a dar-lhes a coragem, as vezes presa por um fio.
Vejo que minha voz é pobre comparada a de vocês. Vejo
que minha luta não existe. Invejo vocês, sem qualquer
sentimento nocivo. Sem vocês como se arranjariam os
doutos, os políticos quadrilheiros, que fazem suas
barganhas sabendo sim que estão a prejudicar seu
próximo. Vocês sustentam uma País, enquanto que esses
“vermes” sustentam sua ganância. Para vocês minha
homenagem , homens que fazem da vida uma luta
constante, e nela acreditam . Não deixem de sonhar
jamais.
Eu, apenas desejava um pouco da essência de vocês. Não
a tenho. E sou triste por isso.