E foi embora de nosso convívio a professora Eulália Schiavon, que deu aulas de educação física a várias gerações em Araraquara e foi uma das criadoras dos Jogos da Primavera, competição esportiva que na década de 60 chegou a reunir 2 mil alunos em diversas praças esportivas da cidade e promovia históricos eventos de abertura no ginásio Gigantão. A professora Eulália, que orientava as alunas de ginástica, que criava coreografias e laços fraternos carregados por toda uma vida.
Entre 2017 e 2018 tive o privilégio de ajudar na execução do projeto Backup Araraquara, criado pelo jornalista Luís Zakaib para resgatar histórias e personagens que ajudaram a construir os 200 anos de nossa cidade. Durante a tarefa de recolher material para o projeto, como vídeos, recortes de jornais e fotografias, conversamos com personagens que fizeram a nossa história.
Tivemos grande ajuda do radialista Wilson Luiz, falamos com historiadores, comerciários, esportistas, pessoas de diversas áreas. E tivemos o prazer enorme de conviver com Eulália, que aos 91 anos, nos deu várias lições de lucidez, bom humor, sagacidade, vivacidade e uma paixão enorme pelo trabalho que desenvolveu durante as décadas em que atuou pelo esporte local.
Não à toa, as entrevistas com Eulália foram um dos fios condutores do documentário Backup Araraquara, que registrou o brilho em seus olhos a cada história e seu sorriso de orgulho por ter participado de passagens tão importantes para a cidade.
No dia 20 de agosto de 2018, tivemos o prazer de receber Eulália Schiavon como convidada de honra na solenidade de lançamento e exibição do documentário. Já com dificuldade para sair de casa, fez questão de subir com calma a escadaria da Casa da Cultura e se deliciou ao rever tantos ex-alunos, hoje personalidades em suas áreas de atuação profissional, mas que ali sentiram-se novamente aprendizes da Eulália, que deu aula de carisma, de amor pela cidade e por seus personagens e, acima de tudo, pela vida.
Com a idade, é natural que as pessoas fiquem mais solitárias, mesmo as que tanto fizeram pela cidade, pois a reclusão forçada pela saúde frágil impede que se encontrem sempre com os amigos.
No lançamento do documentário Backup Araraquara, ela reencontrou amizades de longa data e foi reencontrada. Foi uma noite cheia de emoção e Eulália, naturalmente vocacionada para atrair corações e mentes, tornou-se novamente o centro das atenções. Feliz e entusiasmada, leu sem óculos uma lista de agradecimento com nomes anotados a caneta em um papel.
Foi sua última aparição pública, a última homenagem a uma mulher gigante, que deu adeus no Dia Internacional da Mulher, para que todos se lembrem para sempre de seu exemplo como educadora e realizadora.
“Seu pai deve estar orgulhoso de você”, disse-me com os olhos cheios de carinho, ao final do evento, citando meu pai Sidney Schiavon, ao lado de quem tanto trabalhou pela cidade. “Nós estamos orgulhosos de ter a senhora aqui e ele certamente está feliz onde estiver”, respondi.
Agora ela está lá ao lado dele e de tanta gente importante, olhando por nós e torcendo para que o futuro de nossa cidade honre seu passado de glórias, construído com a colaboração de pessoas como Eulália Schiavon. Obrigado por tudo, professora.
(*) Roberto Schiavon é jornalista e artesão.