Que a pandemia de coronavírus – Covid-19 mudou o modo de lidar com a vida, não é novidade. As atividades remotas são um dos maiores exemplos dessas alterações e, com elas, no entanto, uma nova questão começa a ganhar força: a Zoom fatigue. O professor do curso de Psicologia da Universidade de Araraquara – Uniara, Alexandre Fachini, fala sobre o problema e dá dicas de como lidar com essa dificuldade.
“Zoom fatigue é uma expressão originada do inglês, que significa ‘fadiga do Zoom’, em referência ao aplicativo Zoom. Esse termo se refere a um fenômeno provocado pelo grande desgaste mental que ocorre devido ao uso excessivo de videochamadas. Essa modalidade de trabalho, aulas online e até mesmo reuniões comemorativas – aniversários – tem nos exigido um uso recorrente e intenso da tela do computador, tablet ou celular, e que, diferentemente da situação presencial, obriga-nos a um esforço maior de concentração”, contextualiza o docente.
Ele conta que, dessa maneira, “perdemos o lado não verbal das conversas – olhar e gestos corporais -, que contribuem muito para diminuir a exigência mental, aumentada nas videochamadas”. “Além disso, o espaço de diálogos mais informais também ficou um pouco prejudicado. Esses aspectos tornam a comunicação e a interação mais leve do que na situação das videochamadas, quando estamos o tempo todo diante do rosto do nosso interlocutor ou quando temos vários interlocutores na mesma tela, com quem precisamos nos conectar e nos atentar”, explica.
Para lidar com esse problema, “diante das nossas necessidades atuais e reais de tempo de tela”, Fachini orienta: faça reuniões curtas – 25 a 50 minutos – e necessárias, ou seja, que precisam ser por videochamada – se possível, utilize e-mails ou ligações; evite fazer outras atividades paralelas durante uma reunião – nada de abrir outras guias da internet, e-mails, textos, vídeos, mensagens de WhastApp etc -, pois isso interfere no desempenho e em lembrar posteriormente das informações; sendo possível, desligue a câmera em alguns momentos em reuniões muito extensas e dê um descanso aos olhos e à cabeça, e faça atividade física, meditação, alongamento ou pratique um hobby – que não precise da tela – ao longo da semana.
Não há tratamentos específicos para a Zoom fatigue, de acordo com o professor. “Não estamos falando de uma doença, mas de uma condição de exaustão, decorrente de um mau uso da tecnologia no sentido daquilo que suportamos. É bem verdade que essa mesma tecnologia tem permitido que muitas rotinas possam se manter em funcionamento nos tempos de pandemia que estamos vivendo e podem ser úteis em momento posterior a ela. A questão aqui é o tempo de tela e a forma como nos relacionamos durante esse uso, incluindo outras ‘distrações’ e tarefas, que comprometem ainda mais a já delicada situação que o tempo de tela nos provoca”, alerta.
Diante da dificuldade de lidar com a situação ou mesmo do aparecimento de outros sintomas desse desgaste – problemas de sono, de apetite ou de humor -, “pode ser interessante buscar ajuda profissional, pois, nesse caso, é possível que estejamos falando de uma doença chamada Síndrome de Burnout”. Embora semelhante à Zoom fatigue, por ser decorrente de uma exaustão a partir do trabalho, a Síndrome de Burnout é muito diferente, pois apresenta, de forma associada, sentimentos negativos – frustração, desvalorização, ambiente de trabalho nocivo etc”, finaliza Fachini.