Por Renato A. Terezan de Moura
A presença do filósofo francês Jean-Paul Sartre na FFCL de Araraquara (atual FCLAr), em pleno auge da guerra fria (2 de setembro de 1960), agitou a cidade a ponto de serem realizadas pregações da igreja católica na rádio, contrárias ao pensador pelo seu alinhamento à esquerda, ao defender a revolução cubana e criticar o colonialismo francês na Argélia, despertando a curiosidade local e nacional.
Havia um enorme questionamento sobre o motivo da inusitada visita a uma pequena cidade do interior, na época com cerca de 80.000 habitantes, prevendo uma conferência na faculdade e uma reunião com estudantes e trabalhadores rurais no teatro municipal, como sintetiza o professor Fausto Castilho, docente da faculdade na época e responsável pelo instigante convite ao pensador: “Jorge Amado e Simone de Beavouir, que o acompanhavam, achavam que Sartre, então no auge de sua popularidade, não deveria ir a uma faculdade com apenas dois anos de existência, no Interior, e a convite de um jovem professor de 31 anos como eu”.
Também é fato histórico para Araraquara, a coincidência da conferência ter sido realizada num domingo, em que a Ferroviária venceu o Santos de Pelé por 4 x 0 e causar grande euforia na cidade, conforme sintetiza o filósofo e professor José Aluysio Reis de Andrade, que presenciou os fatos: “Os torcedores saíram pelas ruas comemorando, e Sartre, ao vê-los, pensou que aquela algazarra se devia à sua presença”
Essas e outras histórias atestam a mítica e importância da inusitada conferência para os intelectuais brasileiros da época e atuais, agora reafirmadas pelos professores Cláudio César de Paiva, diretor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (Câmpus de Araraquara) e Marcelo Carbone Carneiro, diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Câmpus de Bauru), que assinam a apresentação da nova e 3a edição do livro Sartre no Brasil: A conferência de Araraquara. A obra resgata a conferência proferida pelo existencialista francês em sua passagem por Araraquara, há quase 60 anos. Segundo eles: “A peça filosófica que se constitui na ocasião percorre temas caros a Sartre, como a natureza e os limites da liberdade, e realiza um agudo exame da noção de compreensão”
A oportuna e necessária reimpressão de Sartre no Brasil: A conferência de Araraquara, pela Editora Unesp, preserva a peça central da inesquecível passagem de Sartre pelo Brasil e sua famosa conferência sobre a conciliação entre existencialismo e marxismo, que ganhou destaque no panorama do pensamento brasileiro da época. Com o intuito expresso de manter o registro fiel daquele evento, a reimpressão bilingue preserva os méritos da edição de 1986 e só se afasta dela em pequenas alterações de revisão e no formato do livro, que ganha primoroso acabamento em capa dura.
Vários intelectuais brasileiros atuais e da época, alguns ainda jovens em início de carreira, acompanharam e participaram ativamente da visita à cidade, segundo o professor e sociólogo Antonio Candido, que juntamente com o também professor e sociólogo Fernando Henrique Cardoso, realizaram a tradução simultânea durante o encontro e recorda: “O teatro estava lotado. Fizemos a tradução, mas Sartre falava rápido e a complexidade de seu raciocínio dificultou nosso trabalho”.
Sobre o autor
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi filósofo, escritor e crítico. Conhecido como representante do existencialismo, foi autor de A náusea, O ser e o nada, entre outras obras.
Título: Sartre no Brasil: a conferência de Araraquara
Autor: Jean-Paul Sartre
Tradução: Luiz Roberto Salinas Fortes
Número de páginas: 129
Formato: 14 x 21 cm
Acabamento: capa dura
ISBN: 978-85-393-0780-7
Fontes:
Fotografias: Acervo audiovisual da FCLAr.
Editora Unesp: http://editoraunesp.com.br/blog/passagem-de-sartre-pelo-brasil-ganha-edicao-comemorativa-
Acervo Memória Unesp (Matéria de Oscar D’Ambrosio) em : http://www.unesp.br/aci/jornal/159/memoria.htm