O filme “Um ato de esperança”, com atuação excepcional de Emma Thompson, no papel de uma juíza inglesa que enfrenta, no mínimo três questões essenciais do mundo contemporâneo, é um exercício de enorme riqueza intelectual para entender melhor o cotidiano que estamos vivendo.
Dirigido por Richard Eyre, o filme trabalha em várias dimensões. Duas delas são vistas rapidamente: a decisão da magistrada de autorizar, perante a morte iminente de gêmeos siameses, a morte de um para permitir a salvação do outro; e a crise do casamento da personagem perante um cotidiano estressante de atividade que a consomem 24 horas sete dias por semana.
O eixo central está na polêmica decisão da juíza de autorizar um hospital a fazer uma transfusão de sangue em um jovem menor idade que sofre de leucemia e que, Testemunha de Jeová, manifesta-se contra o procedimento. A discussão sobre o próprio sentido da vida nos breves diálogos entre ela e o rapaz valem o filme.
O que está em jogo é um universo de concepções existenciais e visões de mudo que permeiam a cultura e a religião. Qualquer resposta simplista torna-se uma agressão à vida e aos seus ônus e bônus. Os maniqueísmos e a conjunção “ou” podem ser substituídos pelo “e/ou”, ou seja, escolher sobre a própria vida e/ou morte deve passar sempre pela avaliação da capacidade de cada indivíduo tomar essa decisão. E essa discussão é de rara delicadeza e complexidade.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.