Walter Miranda*
Desde os velhos tempos religiões sempre sofreram a influência da política. Os
cristãos educados, estudiosos da Bíblia e os não cristãos também sábios nos
fundamentos das suas religiões sabem disso. A visão despolitizada de muitos
religiosos sobre as relações entre religião e política, prejudica a meu ver a real
compreensão da história da humanidade contida na Bíblia.
Dentro das minhas limitações enquanto ser humano, tenho estudado vários
ensinamentos religiosos de povos de alguns países no mundo, além dos
cristãos. Tenho, na minha biblioteca doméstica, livros doados por amigos
mulçumano, budista, judeu e de religiões de matrizes africanas.
Confesso que o assunto é muito complexo. Nos meus pouquíssimos anos de
vida neste pequeno planeta do Sistema Solar, constituído por Mercúrio, Vênus,
Terra, Marte, Júpiter, Saturno e Plutão, cheguei à conclusão que não sou nada
em termos de sabedoria, e o criador de tudo, que para mim é Deus, é muito
poderoso.
Será que Jesus Cristo quando foi procurado para livrar o povo do domínio
opressor dos Romanos, pagando altos tributos aos seus exploradores e
sofrendo humilhações, aceitou ser o “salvador da pátria”? Entendo que não!
Quando lhes fizeram tal proposta ele respondeu prontamente: “Meu reino não é
deste mundo!” (João 18:36).
Ao ver que Jesus não aceitou libertá-los da opressão do império romano, a
maior parte daquele povo o abandonou e o crucificou. Não entenderam que
Jesus Cristo, pacificamente, veio para ensiná-los a respeitar a verdadeira lei,
até então não obedecida tanto por judeus, quanto por romanos.
No reino que ele propôs não haveria ignorância, injustiça, desamor, corrupção,
violência. Um reino não regido por governantes terrenos, pecadores,
exploradores e desumanos até hoje não entendido até pela maioria dos
membros de religiões cristãs. Será que estou errado? Penso que não!
Na linha de pensamento de que não é correta a mistura de religião com política
partidária, não gostei do que vi nesta última eleição, ou seja, líderes religiosos
praticantes da teologia da prosperidade aqui na Terra, usando redes sociais e
púlpitos das igrejas para fazer campanha política para Bolsonaro. Será que
eles não têm a consciência de que estão, de maneira oportunista, distorcendo
a palavra de Deus para conquistar o poder aqui na Terra, exatamente o oposto
do que Jesus Cristo nos ensina através da Bíblia?
Quando Jair Messias Bolsonaro, com o objetivo de conquistar votos dos
membros das igrejas evangélicas, usou o ensinamento: “E conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32), considerei uma heresia
oportunista. Penso que nem ele sabe o que significa a verdadeira libertação
ensinada por Jesus Cristo.
Passadas as eleições, percebo que a maioria dos eleitores de Bolsonaro
continuam acreditando que ele vai livrá-los da crise social e econômica
provocada por um capitalismo selvagem. Aí eu digo: “Maldito o homem que
confia no homem” (Jeremias 17:5). Eu não acredito em “salvadores da pátria”.
Acredito e muito na organização e na luta dos trabalhadores.
Assim entendo que um dos maiores erros nesta eleição foi a interferência
religiosa na política partidária. Penso o mesmo quanto à interferência do futuro
governo Bolsonaro na formação educacional e científica das crianças e jovens
no nosso país, com o argumento de ter Escolas sem partido.
O PRB, partido da Igreja Universal, a exemplo de outras religiões que exploram
o ramo da educação, pretende abrir uma Faculdade voltada para ciências
políticas. Penso, finalmente, que essa tática de misturar religião com política
partidária não terá um final feliz.