Por José Augusto Chrispim
A Prefeitura de Araraquara retirou R$ 56,9 mil do contrato mensal que mantém com a cooperativa de coletores de recicláveis Acácia. Essa redução nos repasses aconteceu depois que a administração municipal dispensou o serviço de manejo e limpeza dos 11 PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) – popularmente conhecidos bolsões, trabalho esse que passou a ser realizado pela empresa ECO ARES.
A reportagem de O Imparcial conversou com a presidente da Acácia, Helena Francisco da Silva que relatou que, desde a mudança no contrato com a Prefeitura, os pagamentos pelos serviços prestados têm sofrido atrasos e, que isso, tem gerado transtornos na gestão financeira da cooperativa. Os outros serviços realizados pelos cooperados foram mantidos pelo Município.
O contrato da Acácia firmado com o Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE) terminaria em novembro de 2025, mas, desde maio ele foi repassado para a Prefeitura.
Veja a entrevista com a presidente da Acácia na íntegra:
O Imparcial: Como essa redução de valor no contrato com a Prefeitura vai impactar o caixa da Acácia?
Helena: “Todas as reduções de valores em contrato causam impactos diretos. Após a reunião realizada com a Prefeitura no dia 23 de julho, fizemos um replanejamento interno. Encerramos as atividades nos bolsões, conforme nos foi informado, e reorganizamos a equipe: os cooperados que atuavam nos bolsões foram realocados para a usina de triagem, enquanto dois caminhões, dois motoristas e quatro ajudantes passaram a reforçar a coleta porta a porta e de grandes geradores. Também tivemos que devolver um caminhão alugado e renegociar o contrato de outro veículo para reduzir custos. Além disso, precisávamos encerrar um serviço importante que oferecíamos: o atendimento de fisioterapia a dois cooperados que necessitavam desse acompanhamento. Vale ressaltar que, desde a mudança de contrato com a Prefeitura, os pagamentos pelos serviços prestados têm sofrido atrasos, o que tem gerado alguns transtornos na gestão financeira da cooperativa. Essas medidas foram necessárias para equilibrar as finanças e manter a geração de renda dos atuais cooperados”.
O Imparcial: Você acredita que terá que dispensar pessoas devido à transferência do serviço de manejo e limpeza dos bolsões para a empresa ECO ARES?
Helena: “Nosso compromisso é preservar o máximo possível a renda dos cooperados. A transferência da atividade dos bolsões, de fato, representou uma perda de receita, mas conseguimos realocar os cooperados que já atuavam nesses serviços para outros setores internos, como a triagem, a coleta porta a porta e os grandes geradores. Porém, com esse remanejamento, não estamos conseguindo gerar renda para novos cooperados, o que limita a inclusão de mais pessoas que buscam oportunidades na Acácia. Seguimos em diálogo com a prefeitura para minimizar os impactos e encontrar alternativas que ampliem novamente a nossa capacidade de geração de renda e inclusão social”.
O Imparcial: Como a senhora acredita que será o futuro da Acácia, caso não consiga renovar o contrato com a Prefeitura?
Helena: “A Acácia é um patrimônio da cidade e já desempenha um papel fundamental há mais de 20 anos. A renovação do contrato é essencial para garantir a continuidade da geração de renda e das atividades para as 170 pessoas que atualmente compõem a cooperativa. Sem esse contrato, não conseguimos manter o funcionamento pleno da cooperativa nem assegurar a renda dos cooperados. Seguimos comprometidos em dialogar com a Prefeitura e buscar alternativas que preservem a importância social e ambiental da Acácia para a cidade”.
O Imparcial: Você teme pelo fim dessa importante cooperativa que vem, há mais de 20 anos, realizando um serviço de excelência na cidade, ou acredita que a Acácia consiga se reinventar e seguir seu trabalho?
Helena: “A Acácia nasceu da superação de grandes dificuldades e se tornou uma referência nacional, proporcionando dignidade e geração de renda a famílias que, de outra forma, não teriam acesso ao mercado de trabalho. Por isso, acreditamos que a cooperativa precisa continuar. Mesmo diante de cortes e desafios, temos condições de nos reinventar e manter a continuidade de uma trajetória construída com inclusão social, geração de renda e sustentabilidade. Esperamos que o governo atual olhe para aqueles que aqui estão, reconhecendo a importância do trabalho da Acácia para Araraquara e para o país. Temos confiança de que, com a união dos cooperados e o apoio da sociedade, a cooperativa seguirá desempenhando seu papel fundamental”, finalizou a presidente da Acácia.
O que diz a prefeitura?
A Prefeitura de Araraquara confirmou o ajuste contratual e alega que quem passou a realizar o serviço de manejo e limpeza nos 11 dos PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) da cidade é a ECO ARES. O Executivo ressalta que a empresa assumiu não só o recolhimento do lixo doméstico, mas também a administração de resíduos que vão para os PEVs, entre outras atribuições.
O contrato de concessão de 30 anos com a ECO ARES que passou a vigorar em junho, garantia a exclusividade do manejo de resíduos nos bolsões.
História da Acácia
A história da Cooperativa Acácia começou em 2001, quando catadores independentes de Araraquara se organizaram na Associação Acácia para buscar melhores condições de trabalho. Em 2003, iniciaram a coleta seletiva em alguns bairros, culminando na fundação da Cooperativa Acácia de Catadores em 2006. Em 2007, a coleta seletiva foi estendida para toda a cidade em parceria com a prefeitura e, em 2008, a cooperativa firmou convênios que permitiram a aquisição de novos equipamentos. Em 2013, a Acácia foi declarada de utilidade pública pela Câmara Municipal, e hoje atende 100% da população da cidade, sendo referência nacional em reciclagem.
Ações e Reconhecimentos
Sustentabilidade: A cooperativa é reconhecida por sua atuação socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável.
Reconhecimento Nacional: A Acácia já foi eleita uma das dez melhores cooperativas de reciclagem do Brasil.
Educação Ambiental: A cooperativa desenvolve parcerias para projetos de educação ambiental e possui uma equipe de catadores que atende 100% da população.