Foi lançado nessa quarta-feira, dia 8, o Repositório Vozes e Memórias, disponibilizado em domínio público. O trabalho que reúne ciências sociais e computação é um riquíssimo acervo, constituído de cerca de mil horas de entrevistas gravadas com homens e mulheres em vários “sertões” do país, nas grandes plantações em São Paulo e também nos sítios e assentamentos. As entrevistas foram realizadas no período de 1983-2017.
Na apresentação do trabalho, a coordenadora do projeto Profa. Dra. Maria Aparecida Moraes Silva, lembra que “durante as últimas sete décadas, milhares de pessoas, negras e pardas, provenientes dos estados do nordeste e do norte de Minas Gerais labutaram nas terras paulistas, produzindo sua história laboral, cuja face está sendo apagada”.
Na contramão deste apagamento, explica a pesquisadora, “nasceu a ideia do repositório Vozes e Memórias, cujo objetivo é reconstruir o passado, desdobrando-o e trazendo-o ao presente, por meio das vozes silenciadas e das memórias ocultadas”.
Walter Benjamin ensina que “é necessário escovar a história a contrapelo e atender ao apelo que o passado nos faz”, lembra Maria Moraes. “O Repositório busca evitar o processo de memoricídio e relatar duas experiências: a) das vidas talhadas com as mãos nos campos paulistas; b) da construção de inúmeros caminhos de pesquisas, orientados pela metodologia da história e pela práxis alicerçada na busca de um mundo com justiça social”.
O evento de lançamento foi transmitido ao vivo no Quartas Sociológicas pelo canal do Youtube do Programa de Pós-Graduação de Sociologia (PPGS)da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com a participação da professora Maria Moraes, Livre Docente da UNESP, pesquisadora do PPGS da UFSCar e pesquisadora do CNPq; e de Leandro D’Agostinho, Doutor pela USP em Ciência da Computação, Diretor Executivo da Aptor Software e Desenvolvedor do Repositório.
O Repositório conta com 913 arquivos de imagens, 525 arquivos de áudio e 22 arquivos em vídeo e contou com a contribuição da Dra. Tainá Reis, Profa. substituta na UFBA, na digitalização e edição do material. O projeto foi realizado com apoio da FAPESP, CNPq, CAPES, UFSCar, UNESP, Fundunesp, Fundação Carlos Chagas e NEAD.
Nos agradecimentos, Maria Moraes destaca que “o repositório Vozes e Memórias” não é produto apenas de minha autoria. Durante estas quatro décadas, recebi muitas contribuições intelectuais, emocionais, advindas de várias galerias. Muitos dialogantes, professores/as, investigadores/as nacionais e estrangeiros/as, orientandos/as, estudantes de graduação e pós-graduação, promotores públicos, juízes, agentes pastorais e da CPT, sindicalistas e trabalhadores/as partilharam da construção dos vários projetos de investigação, em diferentes momentos, apontando, cada qual, sinais, trilhas e faróis”.