O técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Carlo Ancelotti, estreou
como jogador profissional na Itália durante a temporada 1976–77 pelo
Parma. Mesma época em que o ítalo-brasileiro Sérgio Clérice brilhava pelo Bologna depois da artilharia e do inédito vice-campeonato de 1975 pelo Napoli. A biografia do ‘Gringo’ chegou até as mãos do técnico de Ancelotti que, imediatamente, pediu para falar com Clérice pelo telefone.
“Ele lembrou de minha passagem pelo Bologna e, principalmente,
pelo Napoli”, disse Sérgio Clérice, conhecido pelo apelido de ‘El gringo’, no futebol italiano e, àquela época, o artilheiro estrangeiro mais falado de toda Itália.
Sérgio Clérice ficou dezoito anos na Itália e ultrapassou todos os
limites. Recordista de gols na Velha Bota – são 187 no total – ao retornar ao Brasil ainda foi técnico da Ferroviária, Palmeiras, Internacional de Limeira e Santos. Depois, como empresário, fez transações milionárias, como a do atacante Evair para a Atalanta. Há outras histórias geniais.
A obra
O livro remonta a história de vida do garoto que corria pelo Bairro de
Santana, na periferia paulistana, para o estrelato na Itália. País com a ligação mais intensa com o futebol brasileiro, principalmente pela grande imigraçãode europeus para o Sul e o Sudeste do Brasil entre os séculos 19 e 20, a Itália foi um dos primeiros lugares a serem desbravados por jogadores brasileiros.
El Gringo personifica esta linha imaginária que liga brasileiros e
italianos, estacionando em Nápoles, no Palmeiras, no Santos, em Florença, num espaço-tempo que somente o mundo do futebol e seus grandes personagens podem propiciar. “É surpreendente como ele teve momentos marcantes em todos os times que jogou na Itália e ainda se constituiu num treinador de ponta no Brasil, estando à frente de gigantes como o Palmeiras, onde sucedeu a Telê Santana e do Santos, onde sucedeu a Pepe. E agora esse telefonema do Ancelotti, que sustenta a dimensão do Clérice para o futebol italiano e brasileiro”, ressalta o biógrafo Rodrigo Viana.
Trajetória impressionante
A trajetória é, de fato, impressionante. No Lecco, é o melhor
estrangeiro de todos os tempos com incríveis 66 gols em 212 partidas nos sete anos que lá ficou. Também é considerado o melhor jogador brasileiro que passou pelo Bologna, com 105 jogos e 29 gols. Na Atalanta colocou 10 bolas nas redes em 31 partidas, sendo o artilheiro da equipe em 1968/69. No Verona foi também artilheiro nas duas temporadas em que lá esteve com 19 gols em 61 partidas. É especialmente festejado pelos dois anos que passou na Fiorentina, onde entrou em campo 73 vezes e anotou 29 gols pelo Campeonato Italiano. Lá, está à frente de Julinho Botelho e Amarildo, além
de outros nomes brasileiros importantes na memória dos torcedores, como Sócrates, Dunga, Edmundo e Adriano Imperador.
“Clérice nunca foi chamado para a seleção brasileira e, mesmo com a
ascendência italiana, nunca quis se naturalizar, não tendo jogado pela seleção azurra. É esse o motivo, aliás, que o faz superar, em número de gols, Altafini Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 1958, mas que se naturalizou e jogou a Copa de 1962 pela Itália. Neste contexto, Clérice é, de fato, o maior”, frisa Viana, que tem mantido conversas com a CBF para que a entidade reconheça oficialmente a marca do ex-jogador.
O Gringo foi ovacionado nos estádios e, principalmente na passional
Nápoles, onde chegou a colocar até 100 mil pessoas no San Paolo com a artilharia dos dois anos mágicos que culminaram na conquista do viceitaliano em 1974 e 1975. Na última equipe em que atuou na Itália, a Lazio, ficaria marcado por ser o único jogador estrangeiro ainda em atividade na Itália, já que atletas de fora do país haviam sido proibidos de jogar em função de um veto que seria revogado apenas em 1980.
“Quando cheguei na Itália, no início da década de 80, ouvi falar muito
do Sérgio Clérice, até porque o Vinícius, que foi meu técnico na Udinese, também foi técnico dele, nos tempos de artilharia no Napoli”, conta Zico, que também fez questão de celebrar o conterrâneo: “O parabenizo pela história feita no futebol italiano, honrando o futebol brasileiro!”, disse o craque.
Primeira edição esgotada e lançamento previsto para São Paulo e Itália
O livro foi lançado no último dia 02 de agosto no Teatro do Sesc, em
Araraquara, interior de São Paulo e a primeira edição está esgotada. “Ele é um out-sider do futebol, pouca gente sabia de sua trajetória, por isso a obra causou tanto interesse’, conta o biógrafo que pretende lançar o livro em São Paulo e na Itália: “Algumas editoras italianas já demonstraram interesse. A ideia é fazer o lançamento em São Paulo e, depois, na Itália”.
O autor adianta que haverá acréscimos na segunda edição: “Além das
particularidades já relatadas, como o encontro afetivo de Clérice com
Maradona no Aeroporto de Milão, na década de 80, vamos acrescentar mais fotos coloridas de época, que são belíssimas, bem como essa conversa com o Ancelotti, que é preciosa”, diz.
A síntese
Assim como o interior do vulcão Vesúvio, de Nápoles, Clérice é lava
viva. Soube interpretar o futebol italiano da maneira certa, ainda que hoje no Brasil haja quem se espante com o sucesso alcançado na Itália por um jogador pouco conhecido em sua terra natal. O último dos moicanos, patrimônio dos países mais vencedores do futebol mundial, tem, finalmente, sua saga revelada. Andiamo, Gringo!
O autor
Rodrigo Viana é jornalista e escritor. Mestre em Estudos Literários e
Relações Intersemióticas pela Unesp, é autor do livro “As cartas que não chegaram”, pela editora Patuá (2024), e “A Bola e o Verbo, o futebol na crônica brasileira”, pela editora Summus (2013). Especialista em Jornalismo Literário e Esportivo, foi professor de pós-graduação e trabalhou nas grandes emissoras de TV do país.
Título: Sérgio Clérice – El Gringo, o vilão elegante
Autor: RodrigoViana
Editora: A Bola e o Verbo
Preço: R$ 130,00
Páginas: 296 páginas – 16 x 23 cm
ISBN: 978-65-01-56932-1
Site: www.abolaeoverbo.com/inicio
