Início Araraquara Pesquisa desenvolvida na UFSCar vira dinossauro de série Jurassic World

Pesquisa desenvolvida na UFSCar vira dinossauro de série Jurassic World

O Farlowichnus corresponde a um tipo de pegada fóssil registrada na Formação Botucatu, em Araraquara

Pesquisadores da UFSCar e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) viram uma descoberta científica ganhar vida na tela e nas prateleiras. O icnogênero Farlowichnus, descrito pelos paleontólogos Marcelo Adorna Fernandes, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da UFSCar, o italiano Giuseppe Leonardi, vinculado à UFRJ, e colaboradores, tornou-se um dos novos personagens da série animada da Netflix “Jurassic World: Teoria do Caos”, continuação direta de “Acampamento Jurássico”. A novidade ganhou também uma versão em brinquedo criada pela empresa Mattel para a linha oficial da franquia.

Farlowichnus corresponde a um tipo de pegada fóssil registrada na Formação Botucatu, em Araraquara (SP), produzida por um pequeno dinossauro corredor que viveu há mais de 130 milhões de anos em ambientes de dunas. As pegadas estão preservadas no acervo do DEBE e também em exposição no Museu da Ciência Professor Mário Tolentino, em São Carlos (SP).

“As pegadas descritas pertencem a um pequeno dinossauro ágil e corredor, possivelmente ancestral de grupos como os noassaurídeos – terópodes de porte reduzido, velozes e muito adaptados a ambientes áridos – e os velociraptorídeos, parentes do famoso Velociraptor, conhecidos pela agilidade na caça. O predomínio do terceiro dedo indica uma locomoção quase monodáctila, ou seja, um modo de corrida em que o animal se apoiava principalmente em um único dedo, uma adaptação rara a ambientes desérticos, evidenciando a capacidade desses animais de se movimentarem nas dunas de paleodesertos”, detalha Fernandes.

O icnogênero recebeu o nome Farlowichnus em homenagem ao paleontólogo americano James Farlow, professor de Geologia e de Biologia do Departamento de Geociências da Universidade Indiana-Purdue em Fort Wayne, Indiana, Estados Unidos. Para os pesquisadores, essa descoberta é especialmente relevante para a paleontologia brasileira, pois amplia o conhecimento sobre os dinossauros do Gondwana e sobre a fauna que habitava o maior deserto fóssil já registrado na Terra. O estudo contribui para compreender a evolução e a adaptação de dinossauros em ecossistemas áridos no território que hoje corresponde ao Brasil.

A partir desse contexto científico, a Mattel transformou o nome Farlowichnus em um dinossauro completo para a série “Jurassic World: Teoria do Caos”, aproximando o público da paleontologia de forma lúdica e conectando ficção com descobertas reais. O brinquedo aparece na linha de produtos de 2025 da franquia, classificado como Danger Pack, traduzido por “Pacote de perigo”. Já a série reforça esse diálogo entre aventura e ciência, com uma participação inédita da paleontologia brasileira.

“Para nós, a descoberta e a descrição de Farlowichnus em solo brasileiro dão um brilho especial à ideia de que o país tem um papel vivo na história dos dinossauros. Esses registros acabam influenciando até produções internacionais de entretenimento. Afinal, nem todos os fósseis ficam no museu; alguns ganham vida – e um nome”, finaliza o pesquisador.

A descrição científica do icnogênero foi publicada na revista científica Cretaceous Research, em 2024, com o artigo “Farlowichnus rapidus new ichnogen., new ichnosp.: A speedy and small theropod in the Early Cretaceous Botucatu paleodesert (Paraná Basin), Brazil“, resultado de estudo conduzido pelos cientistas. Além de Fernandes e Leonardi, assinam a publicação os pesquisadores Ismar de Souza Carvalho, docente da UFRJ; Julia Beatrice Schutzer, discente do DEBE da UFSCar; e Rafael Costa da Silva, do Museu de Ciências da Terra (RJ).

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