A secretária municipal de Cultura, Teresa Telarolli, e a presidente da Fundart, Gilsamara Moura, participaram nesta terça-feira (23) do “Canal Direto com a Prefeitura – Especial Fim de Ano”, atração oferecida pela Prefeitura de Araraquara, através da Secretaria de Comunicação, com o objetivo de sanar dúvidas dos moradores ao vivo em relação à gestão municipal. A entrevista foi transmitida pelo Facebook da Prefeitura, onde o vídeo se encontra disponível para visualização.
Ao fazer um balanço da atuação da Cultura local durante a pandemia da Covid-19, Teresa Telarolli revelou que a Secretaria de Cultura e da Fundart passaram por um aprendizado lento por conta da situação inesperada. “Ninguém estava preparado para o tamanho, a magnitude da tragédia que se abateu sobre a comunidade. E Araraquara não foi uma exceção, evidentemente. Naquele momento em que implodiu a pandemia na cidade, tivemos que fazer todos os ajustes e adaptações. Saímos das atividades presenciais, que é a graça e o encanto da cultura, e passamos a trabalhar no universo virtual”, explicou.
Ela aponta que, antes mesmo da pandemia, já havia um estudo que previa o crescimento dos eventos online. “Já tínhamos um mapeamento de que essa era uma tendência que iria acontecer pela dinâmica do mundo e pelas transformações. Sabíamos que iriam acontecer migrações para atividades virtuais, mas a pandemia precipitou isso de maneira dramática”, acrescentou.
Teresa destacou o fato de Araraquara ter sido uma das primeiras cidades do Brasil a lançar editais de apoio aos artistas locais. “Sabíamos que a fome iria bater na porta dessas pessoas, que não tinham mais como angariar recursos para colocar um ovo na mesa dos seus filhos. Assim, em abril de 2020 implantamos um programa chamado Cultura em Rede, onde passamos a ter ações de desenvolvimento de projetos virtuais, focados no socorro e no apoio de artistas locais. Esse foi o carro chefe da nossa atuação dentro da pandemia, porque abrigou os projetos dentro do nosso calendário, abrigou os projetos que passamos a desenvolver de apoio aos artistas locais e se estendeu até esse ano. É um projeto que foi e é muito importante, porque significa que por meio de editais, que garantem a justiça e a transparência, nós conseguimos acessar e fazer chegar aos agentes culturais locais recursos importantes que garantiram a sobrevivência de centenas de famílias e, portanto, milhares de pessoas”, enalteceu.
Os números comprovam a afirmação da secretária. Somente em 2020, o “Cultura em Rede” contemplou 601 artistas locais na ordem de R$ 535 mil com recursos próprios do Município. Em 2021 foram 230 artistas beneficiados, com R$ 469 mil que chegaram nas mãos dessas pessoas e que giraram na economia. Houve ainda os recursos da Lei Aldir Blanc, que fizeram chegar mais de R$ 1,5 milhão para o mercado local.
Oficinas Culturais
Teresa Telarolli revelou ainda que o projeto Oficinas Culturais vivia uma expansão quando a pandemia interrompeu suas atividades. “Em 2020, nós tínhamos mais de 30 projetos de Oficinas Culturais contratados pela fundação, além de 13 educadores sociais que são concursados. Tínhamos toda a estrutura montada para começar o programa a partir dos números que tínhamos do ano anterior, que era de 2 mil alunos inscritos. Com a implosão da pandemia, mantivemos todos os contratos e migramos para o virtual. As Oficinas presenciais foram suspensas e só retomadas em agosto deste ano”, mencionou.
Segundo ela, o projeto chegou a 1.100 alunos atendidos no ano passado no formato virtual e em 2021 atingiu a marca de 1.700 alunos inscritos, sendo 600 no formato virtual e 1.100 no presencial, contemplando as 26 instituições que são parceiras do Município. Ao todo são 33 cursos diferentes dentro das Oficinas, oferecidos em 37 locais diferentes da cidade. “É um programa que mesmo com todas a s limitações impostas pela pandemia, podemos considerar como exitoso sob todos os pontos de vista”, completou a secretária de Cultura.
Presencialidade
A presidente da Fundart, Gilsamara Moura, falou sobre o processo de retomada das atividades presenciais da cidade. “A Secretaria e a Fundart, trabalhando conjuntamente de forma muito harmoniosa, têm voltado suas atividades pouco a pouco, com muita responsabilidade, entendendo cada espaço, cada necessidade, inclusive das pessoas que querem continuar com a forma virtual. Estamos pouco a pouco retomando, entendendo que muita coisa pode ficar, inclusive até por um tempo, de forma híbrida. Essa nossa sensibilidade é de um mapeamento, um diagnóstico, e da escuta permanente que nós fazemos dentro da Secretaria e da Fundart, em relação aos artistas, oficineiros, alunos e as instituições”, relatou.
Ela acrescentou que o intuito é voltar à presencialidade. “A cultura vive desse contato e vive dessa presença, mas estamos cada dia mais atentos nessas questões do mundo, que está ainda em pandemia, então precisamos ficar nessa escuta permanente”, explanou.
Bento Aberta é sucesso
Uma iniciativa implantada recentemente e que vem conquistando espaço como uma boa opção de lazer na cidade é o projeto “Bento Aberta”, que foi elogiado por Gilsamara. “A Bento Aberta, junto com o projeto Sinal de Arte, na nossa percepção já é um sucesso. É um espaço aberto, com muita potência, e que as pessoas vão, se divertem, praticam esporte e cultura, junto com os esses artistas que estão conosco. É um espaço, em potencial, que pode ser inclusive disseminado em muitas partes de Araraquara”, afirmou.
Carnaval
Um dos assuntos mais questionados por internautas é sobre a realização do Carnaval em 2022. Teresa Tellaroli explicou que não haverá o carnaval de rua como ocorre tradicionalmente, que toda e qualquer decisão sobre eventos culturais são tomadas com a anuência do Comitê de Contingência do Coronavírus e que esse diálogo está sendo feito com a Liga das Escolas de Samba.
“Antes de mais nada, tenho que deixar bem claro que essa angústia e essa preocupação de qualquer cidadão de Araraquara, nós compartilhamos. Residimos aqui, compartilhamos do mesmo espaço, e todos nós, de alguma maneira direta ou indireta, perdemos pessoas para a doença. Nós estamos em permanente interlocução e diálogo com os agentes interessados nisso, como a população, as escolas de samba e sobretudo, e acima de qualquer coisa, o Comitê de Contingência do Coronavírus no Município de Araraquara, porque ele é hoje a maior autoridade sanitária da cidade. A ele nós estamos submetidos e as decisões que dali vem são soberanas para nós”, esclareceu, reforçando que já é decisão de governo a não realização do Carnaval de rua.
Desafios para 2022
Gilsamara Moura salientou que, em um cenário pós-pandemia, é preciso criar alternativas para fazer com que as pessoas voltem a se unir em torno de eventos culturais. “Temos que considerar as desigualdades, mas as pessoas que têm acesso às telas já estão bem habituadas a esse meio. Um desafio será ‘desplataformizar’ o sujeito para que a presencialidade volte quando pudermos, com toda a energia vital e vontade de estar junto, de compartilhar junto, de ver espetáculo junto e conversar sobre as atividades culturais. Esse é um dos grandes desafios entre muitos”, concluiu.
Teresa Tellaroli vê a arte como um fator de extrema importância para essa retomada. “Acredito que vamos lidar com a presença constante, e por muito tempo ainda, do medo. O medo se instalou em nós desde março do ano passado, quando passamos a dormir e acordar na presença do medo, medo de adoecer, de perder pessoas, medo de fazer pessoas adoecerem, então esse processo de retomada, que tem que ser muito consciente, muito responsável, tem que conciliar também a questão do medo, e da raiva, que muitas vezes temos visto nas pessoas de forma mal direcionada. Nesse sentido, eu vejo mais uma vez que a cultura e a arte vêm a serviço de garantir a sensibilidade, de garantir a beleza, de fazer lembrar para todos nós que o mundo continua bonito. Nesse sentido, a cultura e a arte emanam.