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Território da Arte de Araraquara apresenta grande diversidade do panorama de arte contemporânea nacional

O Território da Arte de Araraquara, evento de Artes Visuais, realizado anualmente pela Secretaria Municipal da Cultura e Fundart, esse ano terá o formato digital devido à pandemia da Covid-19. A exposição online, com a participação de 31 obras selecionadas e 10 premiadas – pode ser conferida no canal da Prefeitura de Araraquara no Youtube (www.youtube.com/prefeituradeararaquaraoficial), a partir de 13 de setembro.

Essa 17ª edição do Território da Arte de Araraquara traz como tema: “Geografia do fazer e do sentir. Nosso lugar. Morada: ética, estética e estesia”, tendo como homenageada Lucinda Bento, artista que faleceu o ano passado. O júri técnico especialmente convidado para a edição digital foi formado pelo galerista espanhol Carlos Jimenez e pelo educador do MAC (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) Evandro Nicolau. Também compuseram a comissão de jurados: Carolina Guimarães, representando a Secretaria Municipal da Cultura, e Rita Michelutti, curadora do evento e representante do Conselho Municipal da Cultura.

Evandro Nicolau e Carlos Jiménez Vázquez, para a seleção do Território da Arte, avaliaram os critérios: qualidade artística e poética, ineditismo da proposta e coerência conceitual, adequação ao tema proposto, originalidade, compatibilidade com as condições técnicas e espaciais disponíveis, o diálogo com a proposta conceitual da mostra e a participação do escopo das artes visuais em sua amplitude conceitual.

“O 17º Território de Arte revela a grande diversidade do panorama de arte contemporânea nacional. Me surpreendeu, tanto a qualidade dos participantes quanto a abordagem do tema do confinamento social”, apontou Vázquez, que tem origem espanhola e reside em São Paulo, onde organiza exposições e gerencia a Galeria Godê. “Suportes como o vídeo e a performance foram um destaque e revelam um novo tipo de linguagem visual e artístico. Sem dúvida o edital supre uma lacuna no cenário da arte contemporânea”, defendeu.

O artista, historiador da arte, curador e professor Evandro Nicolau conta que um dos seus grandes prazeres é ter a possibilidade de ver arte, nas suas mais diversas e variadas maneiras. “Poder ver os 85 trabalhos inscritos no 17º Território da Arte de Araraquara foi uma dessas oportunidades de entrar em contato com a imaginação dos artistas frutificadas em obras de arte”, revelou. “Por isso, eu que sempre concebi a arte como algo que avança para além do juízo crítico de melhor ou pior, uma vez que observo muito a arte como função social, não me é tarefa fácil participar de um júri. Muitos jovens enviaram trabalhos e também muitos artistas que estão aí na luta há tempos, porém, o mais importante é fazer com que a arte exista, com que existam os artistas, ainda mais nestes tempos em que vivemos.”

Evandro destacou as manifestações dos artistas gravados em vídeo. “Isto é uma coisa muito legal nessa edição histórica, graças a uma pandemia e a um momento político alucinado no país. Acho que a arte deve que ser vista, debatida, publicada, estimulada, aberta para a participação de muitos e diversos atores, e o Território da Arte de Araraquara tem esse belo e importante papel no interior de São Paulo.”

E mais do que isso, Evandro foi além com uma mensagem também aos artistas: “Continuem, acreditem no poder transformador da arte, no poder de tocar corações e mentes em busca de colocar no mundo novas formas de comunicação simbólica que possam contribuir com o desenvolvimento humano”.

Selecionados e premiados – O artista de Araraquara Willian Andrade teve a sua obra – em pastel seco e lápis de cor sobre papel Mi-Teintes 160g/m2 – selecionada para a mostra digital.

“Com as cores dos pastéis secos e lápis de cor pude colocar uma nova leitura sobre um retrato de um amigo querido e dialogar com a sensação inóspita dos afetos afastados”, contou.

“Quando vi o tema ‘Geografias do Saber e Sentir’, pensei em como a pandemia trouxe um novo paradigma sobre o fazer e sentir artístico, trabalhos foram cancelados e, nesse momento, tivemos que nos voltar para dentro de casa e de nós mesmos”. Afinal, Willian lembra: “produzir arte é, sobretudo, construir diálogos do ‘eu’ com o mundo de fora”.

Maikon Rogério Lussari é outro artista selecionado para a mostra, com sua obra em pastel oleoso. Nascido em Araras e morador de Ubatuba, Maikon traz como tema de suas obras: a roda da vida, as pessoas que dançam, que amam, se entristecem e se destroem com o olhar fixo na lua branca ou na parede suja de um hospital. “Estou feliz por ter sido selecionado para o 17º Território da Arte de Araraquara neste momento tão confuso. Nós artistas estamos tentando fazer nosso melhor humano”, desabafou.

Além das 31 obras selecionadas, o Território da Arte também irá premiar dez artistas com R$ 800. Um dos premiados é Gunga Guerra um artista visual, que vive entre três fronteiras identitárias: Moçambique, Portugal e Brasil. Sua obra “Um dia comum”, acrílica sobre tela, retrata uma cena urbana e inusitada: dentro de uma estação de metrô várias gazelas africanas começam a sair de todos os lados e tentam escapar de maneira caótica e aleatória do avanço organizado e em bloco da tropa de choque.

“Essa tropa representa um obstáculo, um muro. É uma alegoria da situação dos imigrantes e dos refugiados”, esclarece Gunga, que devido ao seu background de imigrante por força da guerra, levou-o a se interessar por questões político-sociais. Cruzando referências do fotojornalismo, seus temas remetem a busca de identidade, memórias e pertencimentos a esse lugar desconfortável que, paradoxalmente, o impulsiona para a ação.

Gunga considera que foi “muito generosa e acertada” a decisão de manter a mostra de forma virtual, por conta das circunstâncias atuais. “Isso é muito importante como estímulo para os artistas e super importante ainda distribuir premiação como um reconhecimento da singularidade de alguns trabalhos. Super feliz com o resultado”, comemorou.

Também premiado, o artista de Araraquara, Christophe Spoto estará representado com “Flamboiã”, um desenho em grafite e aquarela artesanal. “O flamboiã é uma árvore que fez parte de minha infância, árvores que eram pequenas e cresceram rápido, eu as vi crescer, fazem parte de minha memória afetiva. Hoje as reencontro nas vizinhanças de onde habito. E assim elas se incorporam aos fragmentos da natureza que resistem na paisagem urbana, tema central de minha obra, a natureza, a brava natureza que sobrevive nos espaços urbanos – eu ignoro as construções e artefatos humanos – a serena harmonia da natureza”, aponta.

Christophe utiliza os mesmos materiais que os pintores do Renascimento pintavam o mundo em que viviam. “Faço minhas tintas com materiais naturais como a malaquita e o vermelhão porque tenho essa necessidade poética”, defende. Sobre o prêmio, Christophe disse ter sido “uma grata surpresa” recebê-lo. Segundo ele, “Geografias do saber e do sentir”, o tema de reflexão proposto pela curadoria, lhe pareceu muito pertinente ao momento atual, o que o motivou a se inscrever no Território.

“Pessoalmente não consigo conceber a ideia de uma arte deslocada de sua realidade, por mais poética que seja, não consigo imaginar uma obra significativa que não tenha sua raiz na realidade. A arte pode se contrapor poeticamente a uma realidade áspera e estéril, triste e bruta, apresentando a beleza de nuvens brancas brincando no céu azul – com a consciência de ser aquele um contraponto de luz em uma cena sombria. Mas me parece impossível construir uma obra significativa ignorando a vida que banha nossos olhos com luz”, finalizou.

Redação

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