Adriel Manente
Há hoje em Araraquara dois aplicativos de celular prontos para fazer viagens mais em conta para seus usuários. Além do tradicional Uber, que já está em Araraquara há algum tempo e já é familiar para a população, a 99, empresa de mobilidade urbana, que iniciou suas atividades na cidade em agosto passado, rivaliza na questão dos preços. Ótimo para os usuários, que aumentam seus leques de opções, ótimo para os negócios, que abrem uma concorrência interna e, péssimo, para os taxistas tradicionais, que cada vez mais têm menos espaço para competir com a modernidade.
Autor do projeto de Lei que trouxe o Uber a Araraquara, o vereador Rafael De Angeli (PSDB) disse à época, em entrevista ao Jornal O Imparcial, que não via como uma concorrência desleal com os taxistas, classe que mais foi afetada, a entrada do app. na cidade. “O usuário do Uber não é o mesmo do táxi, quem usa o aplicativo geralmente são os estudantes que vêm de outras cidades e não disponibilizam de muito dinheiro para gastar com transporte. Os usuários do táxi são pessoas mais velhas e que já estão acostumadas com o taxista e dão preferência ao serviço, além daquelas que vão a uma festa, por exemplo, e não querem voltar para casa dirigindo”, disse em entrevista.
Um ponto importante que os taxistas sempre defendiam para ser contra os aplicativos, eram as tarifas e os impostos que eles pagavam, porém os “clandestinos” (como eram chamados os motoristas dos aplicativos) não. Porém o vereador sempre deixava claro uma igualdade em termos de valores. “Eles dizem que pagam muitos tributos que encarecem o custo final. Eu acredito que no final das contas os custos das duas categorias se tornam bem parecidos, devido às isenções que o taxista tem e que não são estendidas ao motorista do aplicativo como os 11% de IPI, 12% de ICMS, 3% de IOF, 4% de IPVA. Todos esses impostos são pagos pelo motorista do Uber, além disso, o carro custa em média R$ 64.500 mil para ele, enquanto que para o taxista o mesmo modelo sai por R$ 47.730 mil”, defendia.
Situação atual dos taxistas
Gilsemar de Oliveira Rodrigues é taxista. Trabalhando no ponto da Praça da Santa Cruz há quatro anos, ele relata o quanto o movimento caiu desde que os aplicativos chegaram. “Antigamente não conseguíamos nem ir almoçar de tanta corrida que tinha. Hoje, o movimento despencou”, analisa Gil, como gosta de ser chamado.
Mesmo assim, ele revela que ainda há um público que prefere o bom e velho táxi. “Geralmente, o pessoal mais idoso que já era cliente mais antigo ainda corre conosco, porém é inegável que não é mais como antes”, completa Gil que, ao ser perguntado se trocaria o táxi pela modernidade dos aplicativos, foi bem enfático. “Não, eu prefiro o táxi, mesmo não sendo como antes”, frisou.
E o que dizem os motoristas de Aplicativos
De acordo com Carolina da Silva Victorino, que é porta-voz de um grupo chamado “Uberpar”, grupo que reúne motoristas tanto de Uber, quanto de 99, em Araraquara, a cidade hoje possuí mais de 600 motoristas Uber e cerca de 400 da 99. “Desses, cerca de 160 usam os dois aplicativos, fazem corridas ligados nos dois, onde chamar primeiro eles atendem”, comenta.
Ela conta ainda que, por praticidade, os motoristas ainda preferem a Uber, mas a 99 ainda está em expansão. “A Uber já é mais consolidada aqui, além de oferecer um suporte maior ao motorista. Há também a questão que a Uber é mais dinâmica que a 99, quando a mais procura os preços sobem, e isso é bom para o motorista. Por ser funcional e pelo suporte dado, os motoristas preferem a Uber mesmo”, finaliza.
Para o motorista Ricardo Alves, de 40 anos, que corre com os dois aplicativos ligados, a Uber também é superior a 99, pelo menos para o motorista, e dá um exemplo. “Se uma pessoa chegar, pedir a corrida e não pagar. A Uber fala para nunca discutir com o cliente. Ele vai, a Uber me reembolsa e depois cobra dele na próxima viagem. Já na 99 não, se caso acontece isso, o prejuízo é seu, ou seja, o suporte é muito melhor”, pondera o motorista.
Mas e para o usuário, qual o melhor?
Para o estudante João Pedro Costa, usuário dos dois aplicativos na cidade, há que se ponderar alguns fatores. “A 99 faz realmente preços mais em conta do que a Uber, e não tem esse negócio do preço subir se chover (sic). Porém, a Uber tem mais motoristas, e é mais fácil mexer no App. Portanto se tempo é dinheiro, compensa a Uber. Se a pessoa está com tempo, vai de 99. É muito relativo”, pondera o estudante.
Para finalizar, João ressalta que, para ele, pouca coisa mudou em relação a táxi e aplicativos e essa briga chega a ser sem sentido. “Falo por mim, eu nunca fui usuário de táxi. E acredito que muitos também não. A gente pegava só de vez em quando. Mas como competir com motoristas que te levam para o mesmo lugar cobrando 8 reais e você cobra 40? ”, diz. E finaliza, “Eu acho que as pessoas têm que acompanhar a modernidade. Essa é a lei do mercado, acontece para todos, se alguém oferece um produto igual e mais barato que o seu, você precisa se mexer”, conclui.