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Um necessário equilíbrio

 

Luís Carlos Bedran*

 

Trump endureceu a lei contra os imigrantes em seu país. A polícia prende os adultos e detém as crianças em gaiolas, como se fossem animais, separadas de seus pais, de suas famílias. Um crime contra a humanidade.

Mas a indignação foi tanta, mesmo entre os conservadores que o apoiam, além da grande repulsa internacional, que não teve como a não ser votar atrás, determinando agora que as crianças fiquem detidas com seus pais, até todos serem expulsos. Como se não bastasse, os EUA até se retiraram do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

Ninguém em sã consciência duvida que foi um ato anti-humanitário, mas ele foi eleito para defender os interesses de seu país, um dos mais democráticos do mundo.  E é o que está a fazer. É chocante tal ocorrer em pleno século 21, em nossa civilização ocidental, cujos princípios espirituais já deveriam estar estabilizados, depois de tantas lutas e de tantos séculos.

No entanto, verdade seja dita, o instinto do ser humano continua o que sempre tem sido há milhares de anos: o de se defender de seus semelhantes, o de lutar por sua sobrevivência por todos os meios. “Homo hominis lupus”. Tanto pode ser entre os seres mais primitivos, como numa tribo de índios, entre vizinhos numa pequena comunidade, ou, num plano maior, entre nações e Estados.

O que mudou nesses séculos, ditos civilizados, foi o de amenizar o instinto, tentando controlá-lo para uma convivência pacífica em sociedade, seja através da religião, seja através da filosofia, das instituições e da cultura, aquilo que Karl Marx denominou de superestrutura, esta que seria determinada pela chamada infraestrutura, as forças e as relações de produção, ou seja, a comida, a sobrevivência da espécie.

Mas esse equilíbrio é precário. Volta e meia prevalecem umas em detrimento de outras. É aí então que devem existir maiores forças entre as pessoas e entre os países para diminuir ou controlar essa verdadeira guerra pela vida. E que ela seja compatível com o nosso grau de civilização e não mais como num passado distante, onde quase não haviam meios pacíficos para isso.

Os que os EUA estão a fazer, “mutatis mutandis”, também outros países o fazem. A fuga dos pobres africanos para outros países em busca de melhores condições de vida, como tem ocorrido no Mediterrâneo, onde a Itália, em defesa de seus próprios interesses os têm rejeitado e até expulsado os milhares de ciganos que lá residem; como na Alemanha, onde embora Merkel tenha acolhido os milhares de imigrantes sírios que fogem da guerra civil em seu país, sofre oposição dos conservadores, obrigando-a a rever sua política; como na França, onde seu presidente, Macron, que também não sabe o que fazer com os imigrantes ilegais, rejeita-os, a ponto de tentar encontrar, juntamente com a Alemanha, estranhos “centros de redistribuição de estrangeiros e o reforço da polícia das fronteiras”.

Como na Inglaterra, que saiu da União Europeia com o Brexit, tem evitado a entrada daqueles pobres coitados pelo Canal da Mancha; como na Hungria, com seu presidente ultraconservador Viktor Órban, que até criou leis que criminalizam a ajuda que seus habitantes poderiam fazer aos imigrantes. Até mesmo no Brasil, onde o governo tenta dificultar como pode a entrada de venezuelanos por Roraima, um Estado que não tem condições de acolhê-los humanitariamente.

No que se chega à conclusão que o absurdo que Trump faz não destoa de muitos Estados europeus, chamados de Primeiro Mundo. E esse frágil equilíbrio ainda continua: qual seja, entre os interesses econômicos e os humanitários — tal como nossos primitivos antepassados violentamente praticavam há milhares de anos —, deveria sempre prevalecer entre os homens e as mulheres de bem e entre os países, os nossos mais sublimes sentimentos humanitários, uma difícil conquista de nossa civilização.

                                                                                                          *Sociólogo  

Redação

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