Olho
Do armazém a executivo da Coca-Cola e da cervejaria Kaiser
Da redação
“A vida, às vezes, nos dá toques tão sutis que nossa antena não pega. Por isso percorri não somente o Caminhode Santiago, mas de mim mesmo. Agucei a minha percepçãoe hoje sinto até a energia das pessoas”. Essas são palavras do empresário Valdir Massucato,um inconformado com a corrupção assassina do país, que segundo ele, mata entre outras coisas, aeducação ea saúde. Ele conta que não foi um garoto pobre, pois seu avô tinha propriedades, mas viveu no meio da pobreza e sabe das dificuldades que ela traz.
E embora venha de uma família politizada, o que fez com que Valdir Massucato pensasse em entrar para a política foi a corrupção. “Acho que pessoas do bem, pessoas novas não entrarem na política, o caminho fica aberto para corruptos. Então, o que me instigou nesse momento foi essa corrupção desenfreada que o país está passando. Embora eu não precise disso, poderia estar curtindo a minha vida, alienado, mas não posso ver e ficar quieto. Ficar só no WhatsApp criticando não adianta”.
Por essa razão,Massucato migrou do PSB para o Patriota de Araraquara, pois acreditana legenda, além de compartilhar de muitas ideias defendidas pelo partido. “Quero o melhor para a minha cidade e vou contribuir para que o partido cresça ainda mais”, diz ele que deverá se candidatar a um dos cargos na próxima eleição.
Um pouco de Massucato
Valdir Massucato nasceu no dia 20 de dezembro de 1960, em Boracéia, que dista 80 quilômetrosde Araraquara. É filho de Aurélio Massucato e Dines Massucato e irmão mais velho de Paulo. Esposo apaixonado desde sempre de Elaine Sgavioli Massucato e pai amoroso de Bárbara e Isabela.
Quando tinha 12 anos, o pai, uma pessoa extremamente generosa e querida em Boraceia foi eleito prefeito. Com isso, a família se mudouda zona rural para a cidade. Mas para o menino tímido que chegava da fazenda e já com destaque como filho de prefeito teve momentos bons, mas outros não propriamente constrangedores, mas não tão agradáveis.
Embora tenha sido prefeito somente uma vez, a prefeitura de Boracéia ganhou o nome de ‘Eugênio Massucato’ em homenagem ao grande ser humano que foiàs suas realizações, como por exemplo, conseguir o asfalto de Boracéia/Pederneiras e Boracéia/Bariri. Era tudo estrada de terra. Uma outra conquista foi a implantação do Colegial para a localidade, pois para cursa-lo era necessário se deslocar para outra cidade. “E meu era tão generoso que não quis seguir carreira política; Ele achava assim como também acho que política é para servir. Então foi candidato uma vez, na época pelo Arena, fez a sua parte e achou que deveria dar a vez para outro”.
Secos e molhados
Morar na fazenda-bairro Mombuca (colônia italiana) era para ele a coisa mais gostosa do mundo onde o lazer era nadar no rio Tietê que passava pertinho, pescar e jogar futebol. “Eu avô, Paulo Pinton, tinha um armazém de secos e molhados e eu gostava muito de trabalhar com ele. Isso desde os sete anos. Era uma época em que se podia trabalhar e era gostoso. Ficava ajudando ele no balcão”.
Valdir faz uma viagem ao passado e conta que esse seu avô tinha uma visão muito empreendedora para os padrões da época. “Na vendatinha máquina de beneficiar arroz, milho. Ali se fazia fubá, tinha açougue e barbearia”.
Valdir sempre gostou de estudar, e na escola da fazenda, além de aprender, como não tinha muitos alunos como nas escolas atuais, as aulas eram para ele e para os amigos, um momento de encontro.
O empresário ainda se surpreende ao lembrar que na fazenda onde nasceu uma professora ministrava aulas para a primeira, segunda e terceira séries. Eram três lousas na sala de aula, “Ela tinha o controle da classe e quando tive que fazer o quarto ano, tinha que sair do sítio e andar 8 quilômetros de bicicleta para ir até outra escola. Brinco que minha voz é rouca de tanta poeira que engoli. Só não ia de bicicleta quando chovia ou quando estava muito frio, pois meu pai me levava”.
Aprendiz
Na época em se mudaram para a zona urbana de Boracéia, seu avô arrumou para Valdir para que fosse depois das aulas ser aprendiz em um escritório de contabilidade, já que não havia mais a possibilidade dele ajudar no armazém de secos e molhados e também para que não ficasse na rua. “O fato de ter trabalhado com meu avô desde criança e em um escritório de contabilidade dos 12 até os 17 anos foi muito importante para a minha vida profissional. O nosso lazer era no final de semana por que o restante era trabalho e escola. E quanto à remuneração eu nem recebia. Meu pai que me dava algum dinheiro, porque não era pelo dinheiro, mas sim pelo aprendizado”.
Posteriormente, como o pai fosse corretor de café, a família se mudou para Bariri, onde ficava sediado o escritório.Em razão disso, terminou o curso médio na referida cidade onde ficaram por três anos. “Meu pai retornou para Boraceia e eu fui para Bauru fazer cursinho e prestar vestibular para a faculdade de Direito”.
Fez a faculdade na Instituição Toledo de Ensino. Só que nunca exerceu a profissão, pois nesse ínterim tinha que trabalhar e estudar. “Fui trabalhar na Coca Cola como vendedor em 1979. Fiquei somente seis meses, pois o diretor viu algum potencial eme me colocou no treinamento da Coca-Cola Internacional. Quando voltei assumi a chefia de Promoções e Eventos. Posteriormente pela gerência de vendas da Coca Cola em Bauru. Fui promovido agerente comercial da fábrica da Coca Cola em Marília, quando da sua inauguração, onde me especializei a vender os produtos que não se vendia como Sprite, Tai e Kaiser. Nesse momento me destaquei por vender Kaiser e a mesma que era uma empresa coligada à Coca Cola me convidou para assumir a Kaiser Nordeste. Fiquei em Salvador por dois anos”.
Araraquara
Valdir conta que nessa mesma época estava inaugurando afábrica de Araraquara e o presidente o convidou para que pudesse ficar mais perto da família. Ele argumentou que se fosse pela família não aceitaria, pois a mesma poderia visita-lo no Nordeste, mas se a empresa precisasse dele, viria, Assim veio para Araraquara. “Já faz 23 anos”.
Com mais uma promoção Valdir chegou a comandar a Kaiser do estado de São Paulo, Mato Grosso, Triângulo Mineiro e Paraná.
“Fiquei até 2001. Depois disso monteiuma empresa consultoria, onde trabalhei com diversas empresas, onde a que mais se destacou foi a do grupo Montoro onde fiquei cinco anos, onde acabei me apaixonando por comunicação. Paralelamente, investia em hotéis desde 98, ou seja, o que eu ganhava eu investia em hotéis. Em 20012 parei com a consultora e me dediquei somente aos hotéis, como investidor de redes como a Accor, no estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná”.
Ferroviária S/A
O pai de Valdir era palmeirense e torcia também pela Ferroviária. “Fui o primeiro presidente da Ferroviária S/A. Ninguém queria (risos) por conta da imensa dívida. Eu gostava de futebol, mas nem tanto. Era só para gerir, sem remuneração. Não ia aceitar, mas a lembrança do meu pai bateu fundo e acabou aceitando”. Sob sua administração, a Locomotiva voltou aos trilhos.
Caminho de Santiago
Valdir queria fazer um retiro espiritual. Optou pelo Caminho de Santiago. Foi sozinho, a partir da França. “Lá você caminha e é você com você. E é tanta paz que você acaba refletindo sobre muitas coisas, como o fato de que a vida pode ser simples e gostosa. Você fica pensando em momento o homem achou que para ser feliz é preciso ter muita coisa, muita matériapara carregar? No caminho aprendemos a ser solidários. E o melhor é que depois de percorrido, o caminho não sai mais da gente. O caminho mudou a minha vida. Antes não observava os detalhes das coisas, das pessoas, se Deus existia, não que não acreditasse. Ficava procurado milagres. Nessa caminhada me lembrei de quando nasceu a minha primeira filha, da hora que foi amamentada, da beleza do momento em mesmo dormindo ela sugou o leite materno para se alimentar de leite e de amor. Quer coisa mais milagrosa do que isso? Me arrepia. Foi ai que me encontrei com Deus nessa recordaçãoonde também”, diz acrescentando que hoje sua percepção é maior, onde a energia alheia é percebida.
“Nada acontece à toa na nossa vida. “Aprendi que é preciso ser para ter e não o contrário”.