Uma fala no pequeno expediente da sessão da Câmara Municipal de Araraquara na última terça-feira (6), deixou parte dos vereadores da Casa de Leis assustados. O vereador Carlão do Joia (Patriota) chamou professores de história de ‘maconheiros’, ao se referir ao período da ditadura militar no Brasil que violou direitos e provocou várias mortes.
Defensor do golpe militar de 1964, o vereador disse em sua fala na sessão virtual da Câmara que: “Quem não viveu a história e só ouviu aquele professor ‘maconheiro’ de história contar, dia 31 de março não comemoramos um golpe, mas um contragolpe, pois o comunismo estava sendo instalado no país e os militares responderam um chamado da população e interviram”, disse.
A fala provocou grande repercussão tanto entre os profissionais da Educação, como entre os próprios companheiros de Casa. Vereadores de partidos diversos emitiram notas de repúdio à fala do edil do Patriota, ressaltando a importância da classe dos professores.
Veja algumas notas de repúdio:
“O vereador Edson Hel e o partido Cidadania repudiam veementemente a fala do vereador que atacou os professores de história na última sessão da Câmara Municipal. É um completo desrespeito para com os mestres que nos guiam por um caminho melhor na vida, àqueles que já sofrem com a falta de reconhecimento financeiro por parte do Estado, e que ainda assim, continuam sua luta diária por uma país melhor.
O que piora a situação é que vem de uma autoridade que deveria ser eleita para defender a classe, não para atacá-la. Jamais eu e meu partido seremos coniventes com esse tipo de situação! Força, professores!”, diz a nota.
Nota de repúdio do MDB
“O Movimento Democrático Brasileiro vem à público se solidarizar com todos os profissionais ligados ao setor de Educação de Araraquara e do Brasil, que foram ultrajados na sessão ordinária da Câmara Municipal de Araraquara, na última terça-feira (6), quando um vereador atacou os professores de história, taxando-os de ‘maconheiros’. Tal ataque, sem escrúpulos, atinge toda uma categoria abnegada e dedicada.
O Partido MDB não compactua com atos dessa natureza, que agridem e ofendem quaisquer seguimentos da sociedade, ainda mais de professores e profissionais da Educação, que são o alicerce e parte fundamental para a formação de uma sociedade justa e igualitária”. A nota ainda ressalta que o partido vai continuar lutando para fortalecer esses trabalhadores já tão injustiçados.
Nota de repúdio do Partido dos Trabalhadores
“O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores vem a público repudiar e condenar veementemente a postura e falas do vereador Carlão do Jóia (Patriota) que na última terça-feira (06) durante a sessão da Câmara Municipal apresentou total ignorância sobre o golpe militar de 1964, uns dos momentos mais sombrios da história brasileira, demonstrou sua falta de compromisso com a situação crítica pela qual o pais passa em decorrência da pandemia COVID-19 e taxou de forma odiosa os professores de história como “maconheiros”, atacando assim todo o professorado.
Ao contrário do que expressa o vereador, a democracia não possui um sentido diferente e em nenhuma hipótese está lastreada na submissão a um desgoverno, incapaz e incompetente que mergulhou o Brasil em uma crise humanitária sem precedentes em nossa história. Em suas falas o vereador deturpa o papel do vereador e da Câmara Municipal. Não podemos ser coniventes!
Desta forma, expressamos nosso profundo respeito aos professores e a toda classe trabalhadora e repudiamos qualquer ataque que possa ser feito a nossa democracia, às lutas e ações populares que ajudaram o povo brasileiro a derrotar a ditatura, prevalecendo o bem comum.
Ditadura nunca mais!”, ressalta a nota do PT.
Comissão de Educação
Os membros da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Araraquara, composta pelos vereadores Gerson da Farmácia, Luna Meyer e João Clemente também se manifestaram. “A Comissão vem a público manifestar respeito, admiração e solidariedade aos profissionais do setor da educação, em especial aos professores. As palavras desrespeitosas dirigidas aos professores, taxando-os de “professores de História maconheiros”, proferidas pelo vereador Carlão do Jóia, na Sessão Ordinária desta Câmara Municipal, na data de 6 de abril, não representam a opinião desta comissão”, diz nota.
Esclarecendo
O vereador Rafael de Angeli (PSDB), que faz parte do grupo G7 o qual Carlão também integra, emitiu uma nota esclarecendo que também não compactua com a fala do companheiro de grupo. Ele ressaltou seu apoio aos profissionais da educação. “Ao longo da minha carreira na política, estive lado a lado com os servidores públicos, lutando pela valorização dos professores e pelos demais profissionais da educação. Eles merecem todo o respeito e dignidade”, disse.
O tucano relatou que o G7, composto pelos vereadores de oposição, com membros dos partidos PATRIOTA, PDT, PSDB e PODEMOS, tem, como objetivo, qualificar o debate na Câmara Municipal de Araraquara, com base na apresentação de projetos em conjunto, compartilhamento de questões e discussões sobre propostas advindas do executivo. De acordo com ele, o principal objetivo do grupo é o fortalecimento da Câmara Municipal na qualidade de Poder Autônomo, desvinculado de quaisquer amarras com o Poder Executivo.
“Cabe ressaltar que cada mandato mantém sua autonomia e que as falas individuais de cada parlamentar durante o Pequeno Expediente, nas sessões da Câmara, bem como os projetos apresentados individualmente, não refletem necessariamente a opinião do grupo ou de seus integrantes”, destacou Rafael.