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A Era da Mulher

Luís Carlos Bedran*

Não poderia deixar de relembrar que o 8 de março é considerado pela ONU, desde 1975, como o Dia Internacional da Mulher. Em 1857 operárias nova-iorquinas em greve foram reprimidas pela polícia e em 1908 lá também houve um movimento nesse sentido. Há 100 anos trabalhadoras russas se rebelaram contra o czar, reivindicando melhores condições de trabalho e protestando contra a entrada daquele país na Primeira Grande Guerra.
Mas foi apenas no século passado, nalguns países ocidentais, é que conseguiram o direito de votar, coisa difícil de se acreditar hoje. Mas será que ela conseguiu alcançar a plena igualdade de direitos em nosso século, pelo menos em nossa civilização ocidental? Em todas as constituições dos países que a abrangem pode-se afirmar que sim.
No entanto, uma coisa é o que está escrito na lei; outra a realidade. No mercado de trabalho ela tem conseguido, com muita luta, marcar posições que até então eram exclusivas do sexo masculino. Nalgumas profissões dominam soberanamente. Mesmo assim, comparativamente, ainda continua a receber salários inferiores aos do homem, por sua própria condição: a de gerar filhos.
Porém, com o extraordinário desenvolvimento das comunicações e, principalmente, da transformação do trabalho, que tem sido substituído aos poucos pela informatização, robotização ou pela chamada inteligência artificial, que independem da força física, pode-se afirmar que cada vez mais a mulher tem tido uma maior e mais efetiva participação na economia.
Em nossa sociedade pós-industrial, as mulheres “construíram um mundo próprio, centrado no culto do serviço, da estética, da subjetividade, da emotividade, da assistência”. Tais valores, “somados à preparação, à flexibilidade, à experiência da dupla presença, à abertura mental, à vontade de participar, determinam a paridade, se não a superioridade profissional e humana da mulher sobre o homem, sobretudo nos setores da estética, dos meios de comunicação, da formação, do bem-estar, do turismo, das relações públicas, onde efetivamente aumenta o número de mulheres que conseguem alcançar posições de liderança” (cf. o sociólogo e escritor Domenico de Masi, in “Alfabeto da Sociedade Desorientada”, ed. Objetiva, 2015).
Não obstante elas ainda continuam a ser discriminadas, mormente nalguns lugares onde são tratadas como um ser inferior ao homem e, por isso, a ele subjugada, o que denota que é preciso ainda muita luta para que elas consigam conquistar, como de direito, seu espaço e seu merecido valor na sociedade onde o machismo perdura.
Aliás, como relata o referido autor, “Muitas mães foram cúmplices dessa segregação: “O machismo”, escreveu a famosa feminista Germaine Greer, “é como a hemofilia: ataca os homens, mas é transmitido pelas mulheres”.
Em quase todo mundo e não apenas no Ocidente, as mulheres estão cada vez mais marcando posições consideradas irreversíveis. Na Arábia estão podendo até dirigir e até mesmo votar; no Irã tentam abolir o véu, o “hijab”, imposições do islã. Em Israel, há tempos, prestam o serviço militar em igualdade de condições com os homens.
Nos EUA estão reagindo cada vez mais ao assédio sexual, como se vê com as atrizes que denunciaram os poderosos do setor artístico em campanhas como o “#metoo”; na Europa então tem-se visto uma quantidade enorme de edições de livros, escritos por elas ou não, lidos por milhares e milhares de pessoas.
Em nosso país conseguiram alcançar cargos de chefia no serviço público, no Judiciário, no Ministério Público, nas Defensorias, no Executivo e no Legislativo, como vereadoras, deputadas, senadoras. As Forças Armadas já não as discriminam; estão nas polícias civis estaduais e nas polícias militares e também na Federal.
Hoje a igualdade de direitos entre os sexos, e já não era sem tempo, está a atingir um equilíbrio razoável. Que ele possa perdurar, muito embora ainda é preciso que haja maior conscientização por parte de todos, inclusive da própria mulher.
Pelo que se observa e a continuar com esse intenso ritmo de conquistas — pelo menos neste início do século 21 — pode-se afirmar que esta é a Era da Mulher. Merecidamente.

*Sociólogo

Redação

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