Início Araraquara Moraes mantém Bolsonaro na PF em vez de mandá-lo para a Papuda

Moraes mantém Bolsonaro na PF em vez de mandá-lo para a Papuda

Possibilidade de ex-presidente ser transferido para o presídio não está descartada

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter Jair Bolsonaro preso na superintendência da Polícia Federal em Brasília, afastando, por ora, o risco de o ex-presidente parar na Papuda. A decisão dá um alívio ao governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha (MDB), que pretende disputar uma cadeira no Senado em 2026 com o apoio do clã Bolsonaro e de eleitores do campo da direita.

O Distrito Federal é um reduto bolsonarista. No segundo turno das eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro obteve 58,81% dos votos válidos no DF, ante 41,19% de Lula.

Antes de Moraes determinar a prisão preventiva de Bolsonaro neste sábado, autoridades do governo do Distrito Federal avaliavam a possibilidade de o ex-ocupante do Palácio do Planalto cumprir o início da pena no 19º Batalhão da Polícia Militar, conhecido como “Papudinha”, por estar localizado dentro do complexo penitenciário. Por decisão de Moraes, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres vai cumprir pena lá.

Autoridades da cúpula do Palácio do Buriti chegaram a procurar integrantes do STF reservadamente para expor seus receios com um eventual encarceramento de Bolsonaro na Papuda. “Um presidiário desses no sistema penitenciário é um problema”, disse reservadamente ao blog um interlocutor de Ibaneis Rocha que pediu para não ser identificado.

“Tem risco de rebelião, de criar instabilidade no sistema prisional, além do risco para a própria saúde dele – e de aumentar a divisão no país quando deveríamos buscar uma pacificação”, acrescentou essa fonte.

A lembrança de um episódio ocorrido em novembro de 2023 ainda provoca inquietação entre as autoridades locais – a morte de Cleriston Pereira da Cunha, que estava preso preventivamente na Papuda devido aos atos golpistas do dia 8 de janeiro, e sofreu um “mal súbito” durante banho de sol na penitenciária.

No entorno de Bolsonaro, a expectativa era a de que a decisão determinando o início do cumprimento da pena fosse tomada a partir desta terça (25), como acabou ocorrendo.

Guerra de ofícios e versões

A possibilidade de Jair Bolsonaro ser enviado ao complexo penitenciário da Papuda para cumprir o início da pena de 27 anos e três meses de prisão por golpe de Estado deflagrou uma guerra de ofícios e versões envolvendo o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, o governo Ibaneis Rocha, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e uma das principais lideranças da esquerda no Distrito Federal, o deputado distrital Fábio Felix (PSOL).

A disputa começou a partir de uma visita da chefe de gabinete de Moraes às instalações da Papuda, no mês passado, revelada pelo site Metrópoles, e ganhou novos capítulos em paralelo ao julgamento virtual dos embargos de declaração de Bolsonaro contra a condenação imposta pela Primeira Turma do STF.

Ao saber que uma auxiliar de Moraes tinha ido inspecionar a penitenciária do DF, aliados próximos de Bolsonaro começaram a se movimentar para ter mais informações e tentar evitar o que no fundo na davam como certo: que o ex-presidente deveria passar uma “temporada” de pelo menos uma semana na Papuda antes de conseguir a prisão domiciliar por motivo de saúde.

Na interpretação do bolsonarismo, funcionaria como uma espécie de humilhação pública imposta por Moraes.

Mas a reação coordenada não foi só de bastidores, em conversas reservadas com ministros. Houve também movimentos institucionais do governo do Distrito Federal, da tropa de choque bolsonarista no Senado e até da esquerda brasiliense, numa sequência de iniciativas — que além de tentar interferir no destino do ex-presidente, também pretende alimentar narrativas diametralmente opostas sobre o caso.

Do lado do ex-presidente, Damares pediu à Secretária de Administração Penitenciária do DF autorização para visitar a penitenciária e conferir se a unidade está apta a receber Bolsonaro.

Inoportuno

O incômodo do governador Ibaneis Rocha ficou escancarado no ofício enviado no último dia 3 pelo seu secretário de administração penitenciária, Wenderson Souza e Teles.

No documento, Wenderson pediu a Moraes que Bolsonaro fosse “submetido à avaliação médica por equipe especializada, a fim de que seja realizada avaliação de seu quadro clínico e a sua compatibilidade com a assistência médica e nutricional disponibilizados nos estabelecimentos prisionais” da capital.

“Se Bolsonaro passar mal e morrer lá na Papuda, o governo Ibaneis vai ficar péssimo na foto”, diz um interlocutor próximo de Bolsonaro. “Ele também gera enorme instabilidade no sistema prisional. Toda a segurança deve ser reforçada para evitar rebelião, que seria provável. E isso é chato para um candidato que quer o eleitorado de direita”.

Moraes, porém, negou o pedido sumariamente em um despacho de apenas quatro linhas, por considerá-lo inoportuno.Mais recentePróximaHeleno e Paulo Sérgio são presos e levados para Comando Militar do Planalto

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