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Nossa Saúde é o que comemos

Por Alexandre Padilha

Saúde e cultura tem tudo a ver com alimentação. E é isso que a Feira Nacional
da Reforma Agrária – que oferece uma variedade de alimentos saudáveis,
sem agrotóxicos, produzidos pelos acampamentos e assentamentos do
Movimento dos Trabalhadores sem Terra – traz aos paulistanos em suas
edições. A última, aconteceu neste final de semana no Parque da Água
Branca, zona oeste de São Paulo.
Com 1.215 feirantes, 1.530 produtos a serem comercializados e 75 tipos de
pratos típicos de todas as regiões do país, a feira recebeu a visita de cerca de
260 mil pessoas, onde foram comercializadas 420 toneladas de alimentos.
Como é importante a realização de um evento desta dimensão na maior cidade
do nosso país, levando a importância da inclusão dos produtos orgânicos na
nossa alimentação diária. Além disso, saúde e alimentação caminham juntas,
seja na inclusão de produtos orgânicos, no impacto do uso de agrotóxicos ou
no incentivo a agricultura familiar. Há necessidade da criação de políticas de
saúde que incentivem a promoção à saúde, como o Guia Alimentar para a
População Brasileira da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
que elaboramos quando era Ministro da Saúde da presidenta Dilma.
Participei na feira do seminário “Saúde Universal com Democracia: Agora Mais
do que Nunca”, junto com a vereadora da capital, Juliana Cardoso, e com
profissionais da Rede de Médicos e Médicas Populares – profissionais de
saúde que valorizam e defendem o SUS – e debatemos a importância de um
sistema gratuito e universal de saúde, que prioriza a vida e não os estímulos do
mercado financeiro.
A indústria da alimentação faz esforço para que a tradição da produção e
cozimento dos alimentos seja eliminada, com o sonho de que os alimentos
consumidos no mundo sejam os mesmos, patronizando o paladar, produzindo
o mesmo alimento para muitas pessoas no mundo e lucrando muito com isso.
Por isso que a ideia da feira da Reforma Agrária é muito importante, para que
nossa cultura da alimentação saudável não seja interrompida, para que o ato
de cozinhar continue sendo tradição e que o preconceito no movimento pela
reforma agrária seja extinto.
Além disso, ela nos traz a reflexão: como defender uma alimentação saudável
se o modelo agrícola é o do latifúndio, com uso excessivo de agrotóxicos, com
a destruição do modelo de agricultura familiar? A alimentação saudável está
diretamente relacionada ao modelo agrícola e é possível fazer diferente.
Um exemplo importante foi a priorização da segurança alimentar e nutricional
na merenda que era oferecida nas escolas municipais na gestão do prefeito
Fernando Haddad aqui na capital, onde foram introduzidos alimentos orgânicos
produzidos pela agricultura familiar de uma cooperativa da região de
Parelheiros, periferia no extremo sul da cidade.

Quando o então prefeito de São Paulo João Doria quis implantar a distribuição
da farinata – a “ração humana” – na merenda das escolas ficou claro a quem
ele queria beneficiar. Medidas como essa fazem com que as indústrias de
alimentos continuem homogeneizando os produtos e lucrando muito.
Elas sim devem ser criminalizadas, e não os assentamentos. Estou
acompanhando uma ocupação recente do Movimento na cidade de Valinhos,
região de Campinas, onde ocuparam uma fazenda em que o dono havia
pegado dinheiro do BNDES, nunca devolveu e deixou a área totalmente
improdutiva. Mais de 60 famílias necessitavam de terra para produzir e a justiça
negou a reintegração de posse. Uma vitória para o movimento e para a reforma
agrária.
Precisamos ter a consciência de que uma saúde de qualidade começa na
prevenção, mas também tem tudo a ver com a nossa alimentação. Comer é um
ato político, você é o que come.

Alexandre Padilha é médico infectologista, criador do Mais Médicos, foi ministro
da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma, secretário de saúde na
gestão Fernando Haddad e é vice-presidente nacional do PT.

Redação

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