Sem experiência, com pouca qualificação técnica e raras habilidades comportamentais – que se tornaram essenciais para o mercado de trabalho hoje em dia – os jovens foram os mais afetados pela crise do desemprego no Brasil, já são 58% deles à procura de emprego. Mas ainda estão otimistas e confiantes que novas vagas e profissões vão surgir, assim como diferentes relações de trabalho. É o que mostra pesquisa realizada pela rede de escolas de informática Microcamp entre os dias 09 e 15 de setembro, com 3515 jovens a partir de 14 anos de idade, em 63 cidades brasileiras onde a empresa tem unidades.
O intuito da Microcamp foi conhecer a realidade de seus alunos, entender as dificuldades que estão enfrentando para conseguir uma vaga ou se manter no emprego, e a partir daí propor ações que desenvolvam neles não só competências técnicas mas também comportamentais cada vez mais valorizadas pelas empresas na hora da contratação.
Do total de pesquisados, 58% afirmaram que estão procurando emprego, enquanto 39,3, apesar de desempregados, não estão em busca de vaga e 2,7% desistiram de procurar uma colocação.
Apesar deste cenário, a maioria (51,9%) acredita que a situação vai melhorar pós pandemia pois surgirão novas vagas e profissões no mercado, contra 29,5% que pensam que a tendência é piorar porque as vagas vão diminuir ainda mais e muitas profissões vão desaparecer. E de acordo com 29,6% dos pesquisados, a tendência é os novos postos de trabalho serem na área de Marketing Digital, enquanto 24.4% apostam no setor de Saúde e 17,2% em TI.
Entre as maiores dificuldades enfrentadas pelos jovens para conseguir emprego aparecem: exigência de muitos requisitos pelas empresas (apontada por 43,5% dos entrevistados), poucas vagas disponíveis (31,2%) e muita concorrência (17,1%).
Na percepção da maioria dos entrevistados (37,2%) o que as empresas mais valorizam na hora de selecionar candidatos, é a experiência, seguida pela qualificação técnica (30.8%) e competências comportamentais (24,5), requisitos que grande parte deles não possui, o que torna a busca por emprego um desafio ainda mais difícil principalmente para quem tem entre 14 e 17 (70,1% dos entrevistados). Os demais têm entre 18 e 21 anos (16,7%), acima de 26 anos (8,1%) e entre 22 e 25 anos (5,1%).
Por outro lado, os jovens admitem que o que falta a eles para conseguirem emprego com mais facilidade é experiência (citada por 36.6% dos entrevistados), além de competências comportamentais (apontadas por 35,9%) e mais qualificação técnica (21,2%).
A pesquisa também quis saber a opinião dos jovens sobre o trabalho home office, que o que tudo indica, veio para ficar. A maioria (39.2%) acredita que é possível realizar um bom trabalho em casa sem necessidade de perder tempo com deslocamento. Já 33,7% pensam que esta forma de trabalho deixa os profissionais mais ansiosos e estressados porque têm que dedicar atenção à empresa e à família simultaneamente. E 19,2% acreditam que com este formato, todos saem ganhando, funcionários e empresas.
Outra mudança prevista pelos jovens é o modelo de trabalho. Para a maioria dos jovens (41,6%) a tendência pós-pandemia será o crescimento de negócios autônomos, enquanto 25,8% acreditam que haverá aumento do trabalho informal e 16,5% apostam que contratos formais, com carteira assinada, irão diminuir.
Mas, apesar de todas as dificuldades e do alto índice de desemprego no Brasil, que hoje, de acordo com o IBGE, ultrapassou os 13%, o que representa mais de 14 milhões de brasileiros, os jovens se mostraram otimistas quanto às contratações pois para 56,1% a tendência será as empresas abrirem novas vagas, contra 19,3% que pensam que haverá redução de funcionários. Já 12,9% afirmam que as empresas vão manter o mesmo quadro e 11,7% acreditam que muitas vão terceirizar serviços.
Após um longo período de distanciamento, a tendência é o comportamento dos jovens mudar em relação ao trabalho: 37,1% acreditam que estarão mais individualistas, enquanto 31,4% serão mais flexíveis e terão mais facilidade para se adaptar às mudanças, e 24,2% acham que terão mais responsabilidade no trabalho.
Longe do convívio social, restou aos jovens durante o período de isolamento, recorrer à tecnologia para quase tudo. Com essa experiência, o que ficou mais evidente para 43,7% dos pesquisados é que a tecnologia facilita o dia a dia de todos, enquanto 32,7% pensam que quem a domina tem mais oportunidades na carreira e 15,2% acredita que ela acentuou a desigualdade social.
Diante das dificuldades
Como demonstrar competência sem ter experiência? Este o dilema vivido por muitos jovens que estão iniciando a vida profissional, como Alice Suelly de Lima, de 17 anos. Ela conseguiu seu primeiro emprego em fevereiro deste ano, como auxiliar numa papelaria, mas com a crise decorrente da pandemia, foi demitida em abril. Desde então tem mandado currículo, mas só foi chamada para uma única entrevista e não conseguiu a vaga. “As empresas exigem experiência, esquecem que estamos começando”, lamenta Alice que nem por isso perdeu as esperanças. “Eu acho que após a pandemia vão surgir mais vagas e o mercado vai melhorar”.
Experiência conta sim, mas não é garantia de emprego. Lucas da Silva Carvalho é um exemplo. Depois de quase quatro anos trabalhando como fiscal de caixa, foi demitido no início da pandemia. Desde então não conseguiu trabalho fixo. Fez estágio na sua área de formação (marketing e publicidade), trabalhou como vendedor autônomo de consórcio de carro, mas também entrou para a lista de corte quando a crise chegou as essas empresas. Continua à procura de emprego e diz que seu principal desafio é enfrentar a concorrência. “Muita gente foi demitida, está desempregada, procurando emprego e há poucas vagas disponíveis. Hoje além de qualificação, experiência e referência, requisitos que sempre foram exigidos, ainda temos que disputar a vaga com muita gente”.
Diante de um cenário tão adverso, a solução para alguns, é ser proativo e se reinventar. Antes da pandemia, Bruno Ribas Correa, 18 anos, trabalhava como jovem aprendiz na Caixa Econômica. Com a crise, por questão de segurança, passou a exercer suas atividades de estagiário em casa, e aproveitou o período para abrir seu pequeno negócio como web designer, já que tinha curso na área. Assim, passou a criar artes, logos, banners e trabalhar com edição de imagens e vídeos. “Meu projeto ainda está em desenvolvimento, vou montar meu site pesquisar formas de divulgação, mas já estou ganhando um dinheirinho que complementa meu salário como estagiário”, comemora.
Para Bruno, além de buscar se especializar em alguma área, os jovens precisam ter mais iniciativa. “É preciso correr atrás, buscar outras maneiras de trabalhar, seja numa empresa ou até um negócio próprio”.