Educação e disfunções sensoriais abrem fórum sobre TDAH e altas habilidades na Câmara

Organizado pela Escola do Legislativo, evento aconteceu na tarde de quinta-feira (28) no Plenário da Casa de Leis

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Educação, neurodiversidade e inclusão são os temas centrais do ciclo de palestras organizado pela Escola do Legislativo (EL) iniciado na quinta-feira (28) no Plenário da Câmara Municipal. As atividades integram o “Fórum Municipal sobre Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)”, criado em 2024.

O evento gratuito e dividido em dois dias foi intermediado pelo psicólogo Lucas Perches. No primeiro encontro, a educadora especial Patrícia Contreras Campesan debateu o “PEI e as Altas Habilidades/Superdotação”, enquanto a terapeuta ocupacional Júlia Bueno abordou “O impacto das disfunções sensoriais nas AH/SD”.

O presidente da EL, vereador Michel Kary (PL), fez a abertura do fórum, destacando a importância de se falar sobre o tema. “Quando falamos de crianças e jovens com TDAH, altas habilidades ou com desafios sensoriais, estamos falando de talentos que precisam ser estimulados e de dificuldades que devem ser compreendidas e jamais ignoradas”, observou.

Plano Educacional Individualizado (PEI)

Em seguida, Patrícia iniciou sua apresentação explicando o Plano Educacional Individualizado (PEI), uma ferramenta usada para explorar de forma ampla o potencial dos alunos com neurodivergências. Segundo a educadora, a falta desse recurso pode levar a criança ou adolescente à desmotivação, desinteresse pelo ambiente escolar e surgimento de problemas comportamentais.

“O PEI não é um plano de ensino, um semanário ou um planinho que a gente faz separado para aquele aluno, um PDF que fica engavetado, ele não é isso. O PEI é um documento vivo daquela criança e a ideia é que a gente consiga dialogar a partir dele e compreender, com os outros envolvidos com aquela criança, o que já foi tentado, o que funciona ou não”, destacou a palestrante.

Na sequência, duas utilizações práticas do PEI foram mostradas ao público, destacando um caso em que o aluno tinha alto potencial para matemática e ciências (AH/SD) e outro com dupla excepcionalidade, que além de alto potencial, possuía desafios na regulação emocional e na escrita trazidos pelo TDAH.

Ainda foi tratada a aplicação do plano como suporte para a aceleração de estudos, uma alternativa de atendimento prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para alunos com superdotação. Nas três situações relatadas, foi possível reconhecer melhorias expressivas no comportamento, desempenho escolar e motivação das crianças submetidas à prática, quando comparadas ao estágio anterior.

Antes do encerramento do primeiro bloco de debates, Patrícia ressaltou os desafios enfrentados para a aplicação do PEI em contextos envolvendo Altas Habilidades/Superdotação, que envolvem desde a formação dos professores até a necessidade de um trabalho colaborativo entre os profissionais da Educação, Educação Especial e Saúde.

“Quando implementado de forma colaborativa, dinâmica e sistêmica, o PEI se torna o eixo central para que o estudante possa não apenas superar os desafios, mas principalmente desenvolver o seu potencial”, concluiu a educadora.

Disfunções Sensoriais na AH/SD

Na segunda parte, Júlia trouxe aos participantes do curso informações sobre os impactos das disfunções sensoriais na AH/SD, mostrando como a terapia ocupacional pode ser uma aliada no desenvolvimento das crianças e jovens neurodivergentes.

Ela também usou os conceitos formulados pela neurocientista Jean Ayres para explicar a integração sensorial, um procedimento neurológico responsável por organizar as informações recebidas por meio de estímulos ambientais para serem usadas apropriadamente no dia a dia.

Os seis sistemas sensoriais (visual, auditivo, tátil, olfativo, vestibular e proprioceptivo) também foram detalhados e relacionados ao desenvolvimento típico de uma criança desde o nascimento até os sete anos.

“O ser humano nasce já com essa capacidade básica de integração sensorial, mas ela deve ser desenvolvida por meio da interação com o mundo e adaptações do corpo e do cérebro aos desafios físicos durante a infância”, relembrou a palestrante.

Para falar sobre as disfunções de integração sensorial em crianças, Júlia usou como exemplo a criança atípica bombardeada por diversos estímulos em um shopping center e, muitas vezes, acaba “travando” ou reagindo de forma exagerada durante um passeio com a família.

Quando essas informações sensoriais estão desorganizadas e não geram as respostas adequadas, surge o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), que pode se manifestar de três maneiras: hiperresponsividade, hiporresponsividade e busca sensorial.

Após a apresentação de situações envolvendo a ocorrência de TPS, Júlia mostrou alguns casos de aplicação de tratamentos combinando a Integração Sensorial de Ayres (ISA) e a Terapia Ocupacional, voltados para pessoas com altas habilidades e superdotação.

Ao final das apresentações, a plateia, formada por familiares de pessoas neurodivergentes, educadores e profissionais da saúde, compartilhou suas experiências e dúvidas a respeito do assunto.

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