A química, os minerais e sua importância para a humanidade: o Brasil e as terras raras, para que e por que explorar?

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*Vanderlan da Silva Bolzani

A química, os minerais, sua importância e a relação com a vida na Terra estão profundamente conectados e são essenciais para se entender como nosso planeta funciona e saber explorá-las de forma sustentável para as futuras gerações. 

Uma das mais significativas realizações da química foi a tabela periódica dos elementos, criada por Dmitri Mendeleev em 1869, um químico russo, que estudou e organizou os elementos químicos conhecidos na época, com base em suas propriedades, comportamentos e massas atômicas. Uma inovação fantástica não apenas pela criação de uma lista, mas na introdução de um sistema que revelava as relações entre os elementos químicos específicos, que compõem grande parte da crosta terrestre. Eles são os blocos de construção do solo, das rochas e de muitos recursos que usamos no dia a dia, como metais, pedras preciosas e minerais industriais.

A importância dos minerais na vida na Terra é enorme! Eles são essenciais para a formação do solo fértil, que permite o crescimento das plantas, base da cadeia alimentar. Além disso, minerais como ferro, cálcio, potássio e magnésio são fundamentais para o funcionamento do nosso corpo e de todos os seres vivos. Muitos medicamentos, tecnologias e materiais que usamos dependem de minerais e de processos químicos relacionados a eles. Sem os minerais e a química, a vida na Terra como conhecemos não seria possível. Eles sustentam a agricultura, a indústria, a saúde e o meio ambiente.

Portanto, a química e os minerais são os pilares que sustentam a vida, ajudando a criar um planeta equilibrado e cheio de possibilidades E as terras raras? Por que o tema virou notícia em toda imprensa falada, escrita, televisiva? Por que é um ótimo tema para exploração?

Terras raras referem-se a um grupo de 17 elementos químicos (Escândio (Sc), Ítrio (Y), Lantânio (La), Cério (Ce), Praseodímio (Pr), Neodímio (Nd), Promécio (Pm), Samário (Sm), Europium (Eu), Gadolínio (Gd), Térbio (Tb), Dísprossio (Dy), Hólmio (Ho), Érbio (Er), Tulio (Tm), Lutécio (Lu) e Tério (Y)) que são fundamentais para diversas tecnologias modernas. Esses elementos são divididos em duas categorias: os lanthanídeos, que vão do lantânio (La) ao lutécio (Lu), e o escândio (Sc) e o ítério (Y), que estão frequentemente associados a eles. Apesar do nome, os elementos de terras raras não são, em termos geológicos, assim tão raros: eles são, na verdade, relativamente abundantes na crosta terrestre, mas frequentemente ocorrem em concentrações muito baixas e são difíceis de extrair economicamente.

Esses elementos químicos denominados de terras raras são essenciais para uma gama enorme de aplicações tecnológicas disruptivas e incrementais em todo o mundo, incluindo Eletrônica – usados em baterias de íon de lítio, displays de LED e componentes eletrônicos; Energias Renováveis – cruciais para a fabricação de ímãs permanentes em turbinas eólicas e veículos elétricos; Defesa – utilizados em sistemas de mísseis e equipamentos militares avançados; e Catálise – empregados na indústria petroquímica para melhorar a eficiência de reações químicas.

Os maiores detentores de reservas minerais de terras raras mundiais são a China, liderando o setor. Outros países com reservas significativas incluem o Brasil, a Índia, a Austrália e os Estados Unidos. A Austrália, por exemplo, possui uma das maiores reservas de terras raras fora da China, sendo muito importante no mercado global. Esses países têm um papel fundamental na produção e fornecimento dessas matérias-primas, que são estratégicas para o desenvolvimento tecnológico de vanguarda e desenvolvimento econômico mundial.

A disponibilidade e o controle dessas reservas influenciam bastante o mercado global de terras raras, cujos maiores desafios são:  a) dependência e controle, que levantam questões de segurança e estabilidade econômica; b) impacto ambiental, considerando que os processos de extração e purificação de terras raras podem ser altamente poluentes ainda, gerando resíduos tóxicos e destruindo habitats naturais; c) reciclagem, devido à crescente necessidade de desenvolver processos para reciclar elementos de terras raras de produtos já em uso, reduzindo a necessidade de novas extrações.

O Brasil possui reservas significativas de terras raras, localizadas em diversas regiões, inclusive no Estado de Minas Gerais, onde já existem iniciativas de exploração em andamento e condições para se tornar um líder mundial na produção e na exploração de terras raras. Junto a isso, tem a oportunidade de moldar uma nova era de sustentabilidade global, na qual os recursos naturais devem ser utilizados de forma responsável e consciente.

 O futuro das terras raras no Brasil não é apenas uma questão de riqueza mineral, mas também de responsabilidade ambiental e social. Ao adotar práticas éticas e sustentáveis, nosso país pode não apenas garantir seu próprio crescimento econômico, mas também contribuir para um futuro mais sustentável para o planeta.

*Vanderlan da Silva Bolzani, professora titular do IQAr/Unesp e conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e membro do Conselho da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp)

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