Outro dia escrevi um artigo em que explanei sobre duas características da vida moderna, a pressa e a depressão. Mas existem outras que também tentarei mostrar agora, como a liberdade.
Essa parece ser tão óbvia, tão consolidada nos últimos tempos, que seria até desinteressante para vocês, leitores e leitoras do jornal — que, obstinadamente, ainda preferem este veículo de comunicação que atualmente está enfrentando forte concorrência da internet — querer dizer algo mais sobre ela. Liberdade que todas pessoas têm em nosso país, em todos os aspectos, principalmente sobre a manifestação de pensamento, ou a de ir e vir, dentre as tantas expressas em nossa Constituição de 88.
Pois de lá para cá nunca houve censura por parte de nossas sólidas instituições, guardadas as responsabilidades individuais, dirimidas pela Justiça, caso ocorram excessos ou violações à lei em que os prejudicados recorram, sempre previstas a ampla defesa ou o contraditório pelos acusados.
É que estamos em plena democracia, sistema esse que nem sempre estivemos, como na época ditatorial de Getúlio Vargas e na dos governos militares de 64 a 81, embora, em ambas, sempre houve um simulacro de normalização das instituições republicanas. Mas desde 1988 a liberdade é ampla e irrestrita. É verdade que nos governos do PT houve algumas tentativas de amordaçar a imprensa, mas a indignação da sociedade foi tão grande que deixaram de continuar a insistir nessa pretensão antidemocrática.
Essa é uma característica da vida moderna dos países democráticos e não apenas em nosso país, muito embora, nalguns, apesar de serem formalmente democráticos, com eleições periódicas e as instituições funcionando, conseguiu o Executivo dominá-las, como na Venezuela ou na Hungria. E isso independentemente de serem considerados de esquerda ou de direita.
A liberdade para nós nem a percebemos, tal como o ar que respiramos. Tantas manifestações das pessoas, homens, mulheres, passeatas reivindicando tudo o que têm direito, sem quaisquer repressões. E quem conhece história pátria não desconhece que nem sempre foi assim.
Há uma outra característica da vida atual, essa não teórica, mas pragmática. Assim como as outras já citadas, como a banal pressa, a depressão, a liberdade, esta — com o advento do celular — estão intimamente ligadas. Celular, aparelho usado por milhões de brasileiros, graças à internet, em que todos nós estamos ligados ao mundo, também pelas redes sociais, e em que ninguém mais pode dizer, que não apenas está isolado, como também afirmar que não tem conhecimento e alegar ignorância sobre tudo.
A internet potencializou essas outras características. Todos somos livres em buscar cultura, conhecimento, saber, informações. Todos temos pressa, a parecer que o mundo está a acabar neste século, embora estejamos ainda em seu início.
O que também nos tem levado a um vazio existencial, à depressão, ao consumo de drogas, a um sentimento de banalidade das coisas, que não vem ao caso, aqui e agora, tentar desvendar essa incógnita filosófica neste mundo contemporâneo, menos a cargo dos psiquiatras ou psicólogos, do que a dos filósofos neste mundo complexo.
*Sociólogo