Nos artigos anteriores anotamos quatro características do mundo moderno observadas nos últimos 20 anos, no dia a dia, sem pretender aprofundá-las, sequer criticá-las.
São elas: a ampla liberdade que as pessoas desfrutam; a necessidade de se fazer tudo apressadamente; a depressão, doença já considerada o mal do século e o uso obsessivo do telefone celular. E, para terminar esta série, sempre subjetivamente, claro, há mais duas: uma, mais séria, a ampla disseminação da pornografia e, outra, a do culto da tatuagem.
Todas elas, com exceção da depressão, têm por fundamento básico a liberdade. Não houvesse liberdade ou alguma outra forma de repressão, religiosa ou social, talvez também existissem, mas não com tanta intensidade.
É o caso da pornografia, que, literalmente significa “escrever sobre prostitutas”, mas o termo ampliou-se com o significado de libertinagem, de imoralidade. Diferente da obscenidade, a prática de um ato sexual “obscuro”, realizado “entre quatro paredes” e diferente também do erotismo, a exaltação do sexo, do amor, a “função libertadora do eros” do indivíduo, da sociedade, encontrada também nas manifestações culturais.
Todas existentes há milhares de anos, mas a pornografia nos últimos tempos foi potencializada com facilidade pelo uso do celular, da internet. Antes era objeto de intensa repressão social; hoje banalizou-se tanto que, embora ainda seja reprimida, já não mais é considerada como “pecado”.
Ao contrário: entende-se ela como a liberdade que todo ser humano possui sobre o seu próprio corpo, sobre sua sexualidade, desde que não viole as leis do Estado que, nalguns casos consideram-se como crimes.
A família, a escola e a religião, que deveriam orientar as gerações contra o uso e o abuso da pornografia, da imoralidade sexual, não estão conseguindo controlá-la. Consequência direta da expansão do conhecimento, à mão de qualquer pessoa, crianças, adultos e idosos, de qualquer posição social. O que antes tal conhecimento era restrito e oculto, encontrado em livros e exclusivo das elites, hoje já não mais o é.
E a tatuagem, a antiga arte de desenhar na pele, comum entre os indígenas do Taiti e nos daqui, a mostrar a importância de seu portador e também encontrada entre os marinheiros e prisioneiros, disseminou-se mundialmente.
A não nalguns lugares onde ainda é vista com maus olhos, ela popularizou-se principalmente entre os jovens, como uma forma de “épater le bourgeois”, de chocar a sociedade tradicional. Tal como um grito de revolta da juventude, da nova geração contra a antiga.
E tão aceita, que hoje é raro encontrar-se alguém não tatuado. Até mesmo entre os idosos, talvez como uma forma de retorno à juventude perdida e reprimida, fazem questão de ser tatuados. Fora os “piercings”, uma extensão da tatuagem, penduricalhos vistos em todas as partes visíveis e invisíveis do corpo, orelhas, nariz, lábios e genitais.
Talvez todas essas características dos fins do século passado e destes últimos anos, sejam resultado de uma perda dos antigos valores tradicionais da sociedade conservadora, mas que ainda não se conseguiu substituir por outros.
Um vazio existencial.