Com 154 anos de fundação, 11 mil sepulturas e mais de 105 mil inumações, o Cemitério São Bento é um museu a céu aberto com rico acervo cultural, histórico e patrimonial. A visitação no Dia de Finados ao maior cemitério da cidade poderá ser uma oportunidade de conhecer um pouco mais da história local. Cada jazigo é fonte de várias histórias, com foco na saga das famílias que ajudaram a construir o progresso da cidade.
Com sepultamentos registrados desde 1873, o cemitério foi ampliado em vários setores ao longo do século XX com a construção de capela, cruzeiro e salas de velórios. Atualmente não há jazigos disponíveis.
A limpeza simples dos túmulos nesta semana poderá ser realizada até as 17h desta sexta-feira (1º). Já as vias internas estão em constante manutenção pela equipe da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, Recentemente, as ruas e avenidas no entorno do cemitério tiveram a sinalização de solo reforçada.
“Neste final de semana, com o Dia de Finados no sábado (2), o movimento será intenso”, projeta a gerente Sandra Regina Mendonça. “Igual aos anos anteriores, esperamos um grande movimento na manhã. Acredito que teremos em torno de 15 mil visitantes e também teremos missas no decorrer do dia”.
Ao todo, serão cinco missas de Finados. Três de manhã, às 7h, 9h e 11h, e mais duas à tarde, às 13h e 15h. O horário de funcionamento será das 6h às 18h. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (16) 3335-9775.
Os mais visitados
Entre os túmulos mais visitados no São Bento estão o do escravo Eduardo (1834-1915), na Rua 2- Quadra 1B, com entrada pelo portão da Avenida Portugal, na parte antiga, local dos primeiros sepultamentos, inclusive de crianças.
Em 1866, Eduardo conquistou a alforria por honradez e fidelidade. O túmulo e a lápide foram uma homenagem concedida por dois filhos de seu antigo senhor. À época, os escravos não eram enterrados no São Bento. Em pleno século XXI, o túmulo é adornado com flores, cartas e imagens de santos.
Patrono da estação férrea da cidade, o engenheiro Edmundo Busch Varella, sepultado na Rua 3, Quadra 2B, é um símbolo do progresso da cidade com a chegada dos trilhos aos sertões de Araraquara. Dormente, pedriscos, correntes e trilhos adornam o túmulo de Varrela, que participou de uma comissão do Governo Provisório (1890) que elaborou a construção de vias férreas.
O jazigo do médico José de Freitas Madeira é repleto de placas de agradecimentos, na quadra 00 – Quadra 3ª. Em seus 32 anos de existência, Madeira prestou inúmeros serviços à população. Sempre atencioso às consultas, deixou um enorme legado de amor à profissão.
Na mesma quadra do médico Madeira, o menino Miltinho Rodrigues Martins é alvo de inúmeros agradecimentos. Além de cartas com pedidos de ajuda e placas por graças concedidas, o túmulo simples, pintado recentemente de azul, está mais colorido com miniaturas de brinquedos, carros e trenzinhos, depositados pela população.
Sepultado no final do século XVIII, o Padre Luciano Francisco Pacheco ostenta em seu túmulo placas de agradecimentos por graças alcançadas por sua intercessão. Outro destaque é o trabalho artístico na confecção da cruz no alto da lápide.
Em processo de canonização, por milagres atribuídos à sua intercessão, o menino Nelsinho Santana, sepultado aos 9 anos, na Avenida 2 – Quadra 5A, teve em 2011 seus despojos transladados para a Paróquia de Bom Jesus, em Ibitinga. Em sua curta trajetória, Nelsinho demonstrou enorme fé e suportou a dor do braço amputado na Santa Casa de Araraquara.
Inusitados
Também chama a atenção dos visitantes o túmulo de Edmundo Lupo, por ter uma réplica em escala menor da asa de seu avião. Lupo foi aviador e colaborou na cobertura fotográfica aérea da cidade nas décadas de 1940 a 1960.
Outro jazigo que desperta a curiosidade das pessoas é o das Irmãs Franciscanas, localizado à frente da capela São Bento, na Quadra 3ª suplementar. Na área de 50 m². há 23 gavetas onde estão sepultadas mais de 100 religiosas. Bem simples, um mural em curva ostenta placas padronizadas de sepultamentos, ao lado de uma estátua de São Francisco de Assis.
Único túmulo suspenso em Araraquara é o do dentista Arner Kernes Lustosa da Silva, sepultado próximo às salas de velório (Quadra 2E – R02), em 1962. Quatro colunas de 1,60m de altura sustentam a laje da gaveta revestida de tijolos. Em vida, Arner solicitou aos parentes que não fosse “enterrado na terra”.