segunda-feira, 25, novembro, 2024

Endividamento e inadimplência: como está a situação financeira das famílias

Análise do Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara destaca alto endividamento

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O endividamento e a inadimplência apresentaram um salto expressivo nos últimos anos e, com a pandemia de Covid-19, a condição financeira dos brasileiros foi ainda mais afetada, independentemente de seus níveis de renda. Com o objetivo de fornecer ao setor empresarial de Araraquara um diagnóstico geral sobre o nível de endividamento e inadimplência no país, o Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara analisou o cenário atual, avaliando as Pesquisas de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)*. A análise também utilizou a atualização dos indicadores de Registro de Inadimplência e de Recuperação de Crédito divulgados pela Boa Vista SCPC. 

Em 2020, além de um aumento significativo do endividamento, o número de famílias com contas em atraso ou sem condições de quitarem suas dívidas cresceu consideravelmente. Já em 2021, houve recorde do número de famílias que contraíram algum tipo de conta ou dívida com o sistema financeiro, enquanto os indicadores de inadimplência apresentaram discreta redução.

Para este ano, a taxa de desemprego em queda e o número de pessoas empregadas (superior ao nível observado antes da pandemia) são sinais positivos. Mas, o impacto da inflação sobre a renda vem sendo sentido pela população, além do aumento das taxas de juros, que também eleva a dificuldade de reequilibrar as contas e quitar os compromissos financeiros.

Endividamento e inadimplência

O termo “dívida” corresponde a um compromisso financeiro entre indivíduos ou uma instituição financeira, esteja ela sendo paga em dia ou não. Ou seja, se o consumidor utiliza cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnê de loja ou possui prestação de carro ou casa, se enquadra na situação de endividado.

Apesar da queda discreta registrada no último mês de janeiro, o patamar de endividamento segue elevado no Brasil, acima dos 70%, segundo a CNC. A pesquisa destaca a proporção de famílias endividadas com a modalidade cartão de crédito, a qual alcançou recorde histórico de 87,1%.

O endividamento por faixa de renda apresentou tendências opostas no período de dezembro/2021 a janeiro/2022. Entre as famílias com renda equivalente a até dez salários mínimos, o percentual caiu 0,3 p.p., para 77,4%, enquanto o endividamento entre as famílias com renda superior a dez salários mínimos atingiu o ápice de 71,2% no último mês – alta de 0,3 p.p.

Já a inadimplência, diferentemente do endividamento, compreende a parcela dos consumidores de possuem obrigações em curso, mas não conseguem cumpri-las – geralmente no período de até noventa dias. Nesses casos, uma das consequências é ter o nome incluso em cadastros de restrição de crédito, passando a ter o popularmente conhecido “nome sujo”. 

Nesse campo, o panorama brasileiro para janeiro foi o pior para o primeiro mês do ano em toda a série histórica. Conforme divulgado pela CNC, o índice alcançou 26,4%, um aumento de 0,2 p.p. na comparação mensal. O percentual das famílias que declararam não ter condições de pagar suas dívidas em atraso também registrou uma alta discreta no último mês, embora na comparação com o mesmo período de 2021 haja queda de 0,8 p.p.

Sobre as faixas de renda, ambos os grupos – famílias com renda abaixo de dez salários mínimos e famílias com renda acima de dez salários mínimos – apresentaram comportamentos semelhantes na inadimplência: uma elevação de 0,2%. Enquanto o primeiro grupo atingiu 29,7%, o segundo aumentou para 12%.

Para João Delarissa, economista do Sincomercio Araraquara, os dados, que apontam o nível de endividamento médio das famílias em 2021 como o maior em onze anos, de acordo com pesquisa da CNC, possuem características motivacionais distintas. “Com o início da pandemia, o comportamento das famílias com menor poder aquisitivo foi no sentido de elevar a demanda por crédito para atender as necessidades essenciais de consumo. Em contrapartida, o aumento do endividamento das famílias com renda mensal superior a dez salários mínimos é fruto de uma demanda represada durante os períodos de restrição das atividades, como as de serviços, sobretudo.”

Quanto ao enfraquecimento recente dos níveis de inadimplência, o também pesquisador do Sincomercio, Icaro Zancheta, alerta sobre o reflexo de fatores como os “feirões limpa nome”, que disponibilizam renegociações de dívidas a vencer, evitando o ingresso de mais endividados no grupo de inadimplentes. “No entanto, em um cenário de juro elevado, a busca por parcelas menores e a contratação de prazos mais longos são feitas a partir de um custo de captação maior, estratégia nem sempre acessível às famílias de menor renda, que, depois de dois anos de pandemia, já não têm mais espaço para se endividar”, analisa Zancheta.

Assim, os índices de endividamento e inadimplência em 2022 devem se aproximar dos resultados do ano anterior. Com inflação e juros elevados, recuperação lenta do mercado de trabalho, aumento da informalidade e da fragilidade financeira da população, é esperado que, ao menos o primeiro semestre desse ano, seja marcado pelo alto endividamento e pela manutenção dos níveis elevados.

Redação

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