O Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Ministério Público do Trabalho deflagraram nesta quinta-feira, 9 de agosto, uma operação contra envolvidos num esquema de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual. Batizada de “Fada madrinha”, a ação cumpre cinco mandados de prisão preventiva e oito de busca e apreensão nos municípios de São Paulo, Franca (SP), Leopoldina (MG), Aparecida de Goiânia, Goiânia, Jataí e Rio Verde (GO). As investigações demonstram que o grupo traficou pelo menos 11 vítimas para a Itália em 2017.
Os alvos das prisões utilizam as redes sociais para aliciar pessoas transexuais com a promessa de participação em concursos de beleza na Europa. Proprietários de repúblicas e pensionatos, alguns investigados oferecem procedimentos cirúrgicos para que as vítimas assumam corpos femininos antes de viajarem. Contudo, para se hospedarem nos locais e financiarem a transição corporal, as transexuais adquirem dívidas altíssimas e se tornam prisioneiras dos criminosos, sendo reduzidas a condição análoga à de escravo. O endividamento é agravado pelo superfaturamento das intervenções estéticas e pelos altos valores cobrados para a remessa das vítimas ao exterior.
“Para conseguirem se manter na república, e com a sempre esperança de alcançarem o sonho da identidade de gênero e verem seus corpos transformados, elas se prostituem nas ruas da região, não sendo a elas permitido voltarem à casa sem o faturamento mínimo do dia”, ressalta o MPF. Além da exploração sexual, as vítimas são submetidas a condições degradantes e têm a liberdade restringida, não apenas em virtude das dívidas contraídas, mas também por ameaças e violência física.
SILICONE INDUSTRIAL. Os exploradores também são investigados pelo uso de silicone industrial com finalidade estética. Durante as investigações ficou constatado que os próprios criminosos aplicam o produto nas transexuais para modelagem de bocas, quadris e mamas. O emprego corporal da substância, utilizada para lubrificar máquinas e motores, é proibido pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde, pois pode causar necrose, embolia, deformidades e até a morte. Nos casos apurados, há relatos de vazamentos do silicone e deformação corporal. As investigações indicam ainda o uso de próteses mamárias reutilizadas, vencidas ou de baixíssima qualidade nas vítimas do esquema.
Transexuais resgatadas passaram por exame de corpo de delito no IML em Franca, SP (Foto: Stella Reis/EPTV)