Mesmo diante de um cenário preocupante com a imensa pulverização desenfreada de fake news, com destaque, principalmente, para o aplicativo Whatsapp, o prof. da FGV, Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, afirma que é muito pouco provável que a candidatura de Jair Bolsonaro seja cassada em razão das denúncias recentemente veiculadas na imprensa.
“O que nós estamos vendo são as estratégias que comprovadamente foram usadas para levar Trump (EUA) à vitória, mas elas estão em um outro grau de profissionalismo e em outras mídias, que agora têm um alcance e um potencial ainda maior como o Whatsapp. O vazamento de dados do Facebook foi um escândalo mundial e o que estamos vivenciando no Brasil, com a compra de listas de empresas, é tão grave quanto. A diferença aqui é que temos uma influência empresarial muito pesada e isso configura abuso de mídia, caixa dois, ou seja, crimes eleitorais muito graves. Agora, apenas uma pessoa inocente acredita que tudo isso aconteceu de forma orgânica e não gerida de maneira profissional. A democracia brasileira está sendo fortemente atacada por recursos tecnológicos”, ressalta o especialista.
Estudos indicam que em torno de 96% das fake news divulgadas no Brasil são compartilhadas via Whatsapp. “As cabeças por trás das notícias falsas divulgam exatamente o que o povo quer ler. E isso cria o tão conhecido (e temido) efeito de massa de manobra. Estamos repetindo o mesmo que aconteceu nas eleições americanas, porém, com muito mais recursos tecnológicos”, explica.
De acordo com Arthur Igreja, o TSE e a Justiça Eleitoral estão monitorando pesadamente o fluxo de notícias falsas espalhadas pelas redes sociais. O problema maior é que não existe um filtro para que isso ocorra no Whatsapp. O aplicativo não salva os registros e é praticamente impossível rastreá-lo.
Para ele, à medida em que o desenvolvimento avança, fica mais difícil controlar o problema, dado o surgimento de robôs cada vez mais inteligentes, que chegam mais longe em menos tempo. “Essa indústria de robôs que disseminam conteúdo falso não fica alocada no Brasil, mas em países como a Rússia. Isso é um grande problema para chegar até a fonte correta de quem espalha as fake news. Além disso, muita informação é movimentada na darknet”, completa.
Análises apontam que as fake news se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras notícias e alcançam um número infinitamente maior de pessoas. Cada postagem verdadeira atinge em média, mil pessoas, enquanto as postagens falsas mais populares podem envolver até 100 mil pessoas.
Sobre Arthur Igreja
Arthur Igreja é professor da FGV, especialista em tecnologia e inovação. Masters em International Business pela Georgetown University (EUA), MBA pela ESADE (Espanha) e Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV. Certificações executivas em Harvard e Cambridge. Atuação profissional em mais de 25 países. Palestrante.