Por José Augusto Chrispim
Dada ao grande número de reclamações sobre falta de água que está ocorrendo em vários bairros de Araraquara, a reportagem de O Imparcial procurou a direção do Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE) para esclarecer qual é a real situação dos reservatórios que abastecem a cidade e quais medidas estão sendo tomadas pela Autarquia para reduzir os efeitos da estiagem histórica para o consumidor.
O diretor Comercial e de Relações Institucionais do Daae, Alexandre Pierri, explicou que os reservatórios de água são divididos em reservatórios de acumulação de água superficial e de distribuição de água. Ele falou que Araraquara hoje é abastecida por um sistema misto, por isso, a situação no abastecimento de água é menos crítico que em outros municípios que não possuem esse sistema e têm somente o abastecimento superficial. Esses municípios estão sofrendo com muitos dias sem água nas torneiras, além de outras cidades que possuem abastecimento feito somente por poços, que também estão sofrendo por falta de planejamento, que não é o caso de Araraquara, que tem 35% de seu abastecimento superficial e os outros 65% que são feitos com água subterrânea proveniente do Aquífero Guarani.
Pierri explica que a cidade é dividida em setores de abastecimento em função das fontes de produção de água que podem ser superficiais (rios e córregos) e subterrâneas (poços profundos). As fontes de captações subterrâneas não sofrem os impactos da estiagem severa. Já as fontes de captações superficiais (represas dos Ribeirão das Cruzes, Córrego Água dos Paióis e Ribeirão das Anhumas) que dependem da chuva regular, são as que estão diretamente impactadas pela seca. Por isso, há o revezamento no abastecimento das regiões da cidade para que não falte água.
Radial Aquífero Subterrâneo
“Hoje na Captação das Cruzes e na Captação Paiol estamos aduzindo água a fio de água, que significa que é somente o que a natureza está produzindo, pois o volume de acumulação dessas represas já se esgotou. Essa seca anormal está fazendo muita diferença, pois, as seis represas que a gente tinha de acumulação, já esgotaram o volume de acumulação delas. E isso faz muita diferença para esses setores, por exemplo, a nossa estação de tratamento consegue tratar 400 litros por segundo de água e, hoje, está tratando em torno de 230 a 250. Eu consigo tratar esse volume em quatro horas por dia na Captação das Cruzes, já na Captação Paiol ela está com o mesmo problema, mas, aquela região não está sofrendo com a falta de água exatamente pelo sistema de círculo de poços que chamamos de Radial Aquífero Subterrâneo que está sendo direcionado para poder suprir essas necessidades. Então, o poço do Selmi Dei joga para o poço da Flóra que tem seu reservatório, que joga para o Poço do Paiol e, assim, subsequentemente até chegar à estação de tratamento da Fonte. É esse diferencial que faz com que a gente não fique 24 horas por dia sem água. A gente compreende que quando a água volta ela chega com baixa pressão, porque a tubulação está vazia e demora um pouco para voltar ao normal, também devido ao alto consumo”, destaca Pierri.
Investimentos
Desde 2017, foram perfurados 10 novos poços artesianos e construídos 3 novos reservatórios em pontos estratégicos de Araraquara, que somaram cerca de R$ 35 milhões investidos, além de 130 quilômetros de redes que foram expandidas e modernizadas.
Planejamento e prioridades
O diretor destaca que não faltou planejamento no Daae, porém, essa seca anormal que atinge quase todo o país e também Araraquara está fazendo com que esse planejamento seja mudado constantemente. Ele destaca que todas as prioridades como escolas e hospitais estão sendo atendidas até mesmo com o uso de caminhões pipa e que todos os esforços estão sendo realizados para se reduzir os efeitos da seca. “Araraquara tem uma qualidade técnico-científica que permite visualizar o sistema online que nos faz conseguir entender o que está acontecendo no sistema em tempo real. A tecnologia que o DAAE desenvolveu nos últimos anos é extremamente importante, não só para acompanhar e ligar os poços, mas, também para podermos ter a estatística. Nós temos mais de 40 medidores de pressão na rede, ou seja, eu sei qual é a pressão em cada setor e essa tecnologia permite esse dinamismo de ação. Hoje, nós conseguimos fazer uma previsão de quando será necessário fazermos um racionamento e isso é avisado para o consumidor previamente”, explica.
Operação estiagem
Para enfrentar essa grave crise hídrica, o DAAE teve que implantar a Operação Estiagem em alguns pontos da cidade. Isso porque 35% de toda água distribuída em Araraquara vem de rios existentes no município e, com este cenário de seca severa e temperaturas elevadas acima da média para o período do ano, os rios e as represas de duas de três captações apresentam reflexos, com a redução em mais de 90% dos volumes, impactando no abastecimento público. Setores de abastecimento que são exclusivamente abastecidos por poços não estão sendo afetados pela Operação Estiagem, mas, os setores abastecidos em parte ou no todo por água proveniente das represas, necessitam de limitações na regularidade do fornecimento de água em função de uma demanda maior de quantidade de água para consumo pela população nestes setores do que a quantidade de água que os rios podem ofertar neste momento climático atípico.
Uso racional
O diretor comercial do Daae faz um apelo à população quanto a economia e uso racional da água durante este período de seca extrema. “Temos que ter consciência no consumo racional de água para que a situação não se agrave ainda mais”, declara Pierri.
Situação controlada
“Hoje, 65% da cidade tem água normalmente e outros 35% tem abastecimento intermitente, ou seja, não temos falta de água constantemente. Nós entendemos a população que quer água na torneira, mas estamos fazendo tudo o que é possível para resolvermos esse problema com revezamento de poços para atender toda a cidade de forma dinâmica, inclusive, o Poço Cruzes II que entraria em funcionamento somente em novembro, já está sendo finalizado para entrar em funcionamento agora”, finalizou.