João Guilherme Sabino Ometto*
A certificação do nosso país como livre de febre aftosa sem vacinação, concedida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), é uma conquista histórica para os produtores rurais e todos os brasileiros. O reconhecimento, anunciado no final de maio, representa um avanço expressivo.
Nossa pecuária, assim como os responsáveis pelas políticas públicas e campanhas sanitárias, merecem os aplausos de todos nós. O novo status é resultado de anos de trabalho coordenado entre pecuaristas, federações e sindicatos do setor, governos estaduais, União e demais instituições comprometidas com a erradicação da doença em todo o território nacional. A conquista, que consagra esse esforço conjunto, é estratégica, pois agora, sem quaisquer restrições sanitárias, podemos vender carne bovina, proteína de altíssima qualidade e importância, para todos os mercados e nações.
Já consolidado como maior exportador mundial do produto, o País deverá acessar novos mercados, como o Japão, que exigem exatamente o status sanitário recém-obtido. Referendo a avaliação da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), que classificou o momento como “histórico” para a cadeia agroindustrial da carne, após décadas de vacinação e controle rigoroso dos rebanhos.
A nova certificação reposiciona o Brasil no comércio internacional e tende a abrir portas em mercados altamente exigentes. Além disso, poderá reduzir custos tanto para os produtores quanto para os estados, conforme estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com a qual concordo plenamente. Também é provável que o pecuarista seja mais bem remunerado, já que mercados mais seletivos e exigentes costumam pagar mais pela carne.
O rebanho bovino brasileiro, saudável e bem-cuidado, segue em crescimento e atingiu um novo recorde: 238,6 milhões de cabeças, segundo a última edição da Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE. Trata-se do maior número desde o início da série histórica, em 1974. Agora, o reconhecimento internacional reafirma o Brasil como um produtor consciente, responsável e comprometido com a preservação ambiental.
Acredito que o novo status sanitário ajude a dissipar de vez os recorrentes e infundados questionamentos sobre a sustentabilidade e a qualidade da agropecuária brasileira, críticas muitas vezes motivadas pelo temor dos concorrentes. Por isso, este é o momento ideal para lembrar ao mundo que nenhum outro país consegue conciliar produção e preservação ambiental como o Brasil. Esta conquista deve ser preservada, cabendo atenção com a extensa fronteira brasileira para que não entrem animais que tragam riscos.
Em média, os imóveis rurais brasileiros utilizam apenas 50,1% de sua área para produção; o restante é dedicado à preservação da vegetação nativa. Essa área representa 25,6% de todo o território nacional, um índice sem paralelo no mundo. Esses dados são resultado do trabalho da Embrapa Territorial, com base no Cadastro Ambiental Rural (CAR), em uma análise georreferenciada que detalha com precisão a extensão das áreas protegidas em cada propriedade, em níveis municipal, estadual, regional e nacional. O Brasil rural está mapeado, medido e, sobretudo, preservado.
A mesma pesquisa revela que os produtores brasileiros, incluindo os agricultores, pecuaristas, extrativistas e silvicultores, conservam, dentro de suas propriedades, impressionantes 218 milhões de hectares de vegetação nativa. Graças ao cuidado de milhões de pessoas que vivem e/ou trabalham no campo, é como se metade da Europa estivesse protegida.
Somos, com folga, o país com a maior rede de áreas terrestres preservadas do mundo. O próprio Protected Planet Report 2016, das Nações Unidas, reconhece que o Brasil abriga metade de toda a área protegida da América Latina, ou 2,47 milhões de quilômetros quadrados, e nos posiciona como líderes globais em conservação ambiental.
Há, ainda, um aspecto essencial que o mundo precisa compreender: enquanto muitos países dependem de parques estatais ou incentivos financeiros à preservação, no Brasil ela é obrigatória por lei. E não reclamamos disso. O Código Florestal (Lei 12.651/2012) exige que produtores rurais preservem 80% da área na Amazônia Legal, 35% no Cerrado e 20% nas demais regiões, sem qualquer compensação financeira. Em média, o agropecuarista brasileiro produz em metade de sua terra e protege a outra metade. Trata-se de uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta.
O cuidado com o meio ambiente também se reflete na saúde animal e na excelência de nossos produtos agropecuários. Nesse contexto, o esforço dos pecuaristas para erradicar a febre aftosa é uma contribuição valiosa para a economia e a reputação do agronegócio brasileiro no mundo. Assim, nosso país vai transformando cada vez mais em realidade a antiga previsão, vista com ceticismo por muitos, de que seria o celeiro do mundo. É!
*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).