sexta-feira, 22, novembro, 2024

Meliantes usam o fator ‘rua’ como desculpa para cometer crimes

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Da redação

Nesse final de semana tivemos dois assaltos praticados na cidade por pessoas em ‘situação de rua’. Um deles aconteceu na sexta-feira (11), na Avenida Prudente de Morais esquina com a Avenida São Bento, no Centro, onde um homem foi rendido por cinco indivíduos e, entre eles, um morador de rua conhecido como ‘Mun-há’. Já o outro furto foi registrado na Avenida Cônego Jerônimo Cesar, no bairro do Carmo, onde um morador de rua conhecido como ‘Gnomo’, arrombou um portão que dá acesso a um bloco de apartamentos, estourou uma porta e revirou o imóvel à procura de objetos de valor até encontrar R$ 3 mil em dinheiro. Em seguida, o suspeito fugiu em uma bicicleta que furtou do morador do imóvel ao lado. Toda a ação foi flagrada pelas câmeras de segurança que ajudaram a polícia a identificar o criminoso que já possuía passagem criminal, porém, ele ainda não foi detido.

Vida nas ruas

Diante desses fatos, a reportagem entrou em contato com Sandra Helena Ramos Timpani, que realiza um trabalho há oito anos com moradores de rua e faz parte da Associação São Pio, que acolhe moradores de rua e dependentes químicos. Na instituição, os andarilhos passam por um intenso programa de atenção e cuidado, desde recuperação de documentos, exames médicos, aulas de alfabetização, até o encaminhamento para comunidades terapêuticas especializadas.

Nas ruas, ela é conhecida pela maioria dos moradores como Mãe Sandra, pois sempre ajuda com comida, leva-os à associação para banhos e atende prontamente quando alguém lhe pede ajuda para sair do vício. “Quando dizem não aguento mais essa vida, tem que ser na hora, caso contrário, não consigo resgatar”, afirma Sandra.

Criminosos infiltrados

Para Sandra, há muitos meliantes infiltrados em meio aos moradores de rua, inclusive há um levantamento que diz que quem tem casa, rouba mais do que quem mora nas ruas e, que em Araraquara, chegam diariamente dezenas de andarilhos de outras cidades – Denuncia essa já feita pelo O Imparcial. A reportagem mostrou para ela as fotos dos homens que cometeram assaltos, no final de semana, e ela diz que não conhece o tal ‘Gnomo, mas o morador de rua conhecido como ‘Mun-há’ é figura fácil nas ruas da cidade e todos sabem que ele é ladrão. Ela diz que é contra que se dê dinheiro a pedinte nas ruas, pois o dinheiro facilita o acesso a bebidas e drogas e essas pessoas só pedem ajuda quando estão no “fundo do poço”.
Segundo Sandra, a maioria das pessoas que optam por morar nas ruas, usam drogas e são alcoólatras.

“Todos têm uma história triste de abandono, de família sem estrutura, de falta de um Deus, e se tornaram pessoas sem sonhos, para eles, tanto faz morrer hoje ou amanhã, o vício corrói a alma. Muitos lutam contra as ruas, drogas e as bebidas, passam por tratamentos longos que chegam a dois anos, mas quando saem da clínica, não há uma estrutura para recebê-los, teriam que ter uma casa para voltar, um trabalho para inseri-lo na sociedade, acompanhamento médico e psicológico, mas o poder público nada faz nesse sentido, a luta deles é diária e acabam ficando só nas ruas, eles não resistem e caem novamente, quem tem apoio familiar e cuidados diários já é difícil, imagine sozinho, quando eles passam por tratamento é como nascer novamente, saindo da clínica precisam de cuidados, como recém nascidos, caso contrário morrem”.
Diz ainda que a sociedade perdeu a guerra contra as drogas e o álcool, “estão dominando tudo, é necessário que se faça um trabalho de base, nas escolas, com psicólogos e assistentes sociais para atender aquelas crianças que costumam dar trabalho, essas, os pais nunca vão as reuniões e pouco se importam, a maioria que opta por viver nas ruas não tem estrutura familiar. Alguns até tem boas famílias, pais que lutam dia a dia para que eles consigam se livrar das drogas, mas acordaram tarde para o problema. Quando o poder público percebe que a criança é problema, é hora de atuar nos pais para tentar salvar o filho”.
Hoje, a Associação Padre Pio conta também com uma casa que atende mulheres. “Elas sofrem mais que os homens, pois os sentimentos são diferentes, quando param de beber ou se drogar vêm as lembranças do que fizeram como aborto, doação de seus filhos ou estão em orfanatos, e acabam sendo abatidas pelo sentimento de culpa e a maioria cai novamente”.
Um fato que chama a atenção é a burocracia do poder público para se fazer uma laqueadura. A dificuldade para conseguir é muito grande e demorada. “Não se faz a cirurgia no momento em que o bebe nasce, tem que esperar, marcar uma nova data, ir a justiça, e elas não voltam”. E para encerrar a entrevista Sandra contou o caso de Néia, que teve treze filhos de pais diferentes, só então conseguiram que ela fizesse laqueadura.

Mesmo diante das dificuldades, tanto Sandra como Magda Regina Gomes Leite que é fundadora da Associação São Pio, não desistem da árdua tarefa de resgatar vidas nas ruas da cidade, mesmo que em meio a muitos, apenas um consiga se livrar das drogas.

Redação

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