Municípios da região de Araraquara têm trânsito violento

Especialista aponta falta de fiscalização e planejamento como causas principais

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Nos últimos 12 meses, 68 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito nos municípios de Rincão, Matão, Nova Europa, Américo Brasiliense, Araraquara e Boa Esperança do Sul. Os dados oficiais, atualizados em junho, são do INFOSIGA.

Taxa de Mortalidade por Município

Posição Município Óbitos (12 meses) População Taxa/100 mil hab. 1 Rincão 4 8.946 44,71 2 Matão 21 79.018 26,58 3 Nova Europa 2 9.269 21,58 4 Américo Brasiliense 7 32.753 21,37 5 Araraquara 33 244.361 13,50 6 Boa Esperança do Sul 1 12.895 7,75

Somente os municípios de Araraquara e Boa Esperança do Sul ficaram abaixo da média estadual de mortes no trânsito por 100 mil habitantes nos últimos 12 meses, que hoje é de 13,65. Na capital paulista, a média foi de 8,63 mortes por 100 mil habitantes, índice superado positivamente apenas em Boa Esperança do Sul. Uma tragédia que afeta a vida de muitas famílias.

Mortes que se acumulam ano após ano

O histórico revela que a violência no trânsito destas cidades não é recente. Os números têm permanecido relativamente estáveis. Mas há exceções negativas, como Rincão, que não registrou mortes no trânsito em 2023, teve duas vítimas em 2024 e, até junho deste ano, outras três mortes. Já em Matão a violência no trânsito dobrou entre 2021 (7 mortes) e 2022 (15). Em 2023 foram 13 óbitos, no ano passado 17 e, até junho deste ano, 10 pessoas perderam a vida no trânsito matonense. Outro destaque negativo é Américo Brasiliense, que teve 4 mortes entre 2023 e 2024, índice alcançado apenas nos 6 primeiros meses de 2025. A oscilação nos dados destas cidades mostra que, mesmo com pequenas quedas pontuais, não houve uma redução consistente e duradoura, deixando claro que o problema permanece sem solução definitiva. Um exemplo disso é Araraquara, que teve 81 mortes entre 2021/2022 e 52 entre 2023/2024, mas só nos seis primeiros meses deste ano já registrou 20 mortes, o que sugere um retrocesso aos níveis anteriores.

Perfil das vítimas:

86% das vítimas nas 6 cidades eram homens, refletindo um padrão que se repete em todo o estado. As faixas etárias mais atingidas reforçam ainda mais o impacto social da violência no trânsito:

• 20 a 34 anos – 20 vítimas

• 35 a 44 anos – 13 vítimas

• 45 a 54 anos – 11 vítimas

• 55 a 64 anos – 10 vítimas

Ou seja, a maior parte das vítimas está em idade produtiva. São pais de família, trabalhadores e cidadãos ativos que se deslocavam para o trabalho, lazer ou outras atividades cotidianas. O levantamento do INFOSIGA mostra que os acidentes fatais nas seis cidades não se restringem a um único tipo de transporte. Pelo contrário, atingem diferentes grupos de usuários do sistema viário, revelando a complexidade da tragédia.

Tipo de Transporte

Motocicleta 49%

Automóvel 23%

Pedestres 16%

Bicicleta 4%

Caminhão 4%

Não identificado 4%

O dado mais alarmante: motociclistas, pedestres e ciclistas somam 68% das mortes, evidenciando a vulnerabilidade de quem fica mais exposto no trânsito.

Fins de semana:

O estudo detalha ainda os dias e horários em que os acidentes fatais são mais comuns. A concentração maior acontece durante a noite e aos finais de semana.

• Sexta-feira à noite e madrugada de sábado: 37%

• Sábado à noite e madrugada de domingo: 34%

• Domingo pela manhã – 12% mortes

• Sábado à tarde – 8% mortes

• Outros – 9%
 

Esses números apontam que momentos de lazer e deslocamentos de longa distância coincidem com picos de mortalidade, revelando um padrão preocupante. Sírio Belmeni, especialista em trânsito e diretor presidente do CEAT (Centro de Estudos Avançados do Trânsito), aponta alguns fatores como preponderantes nos altos índices de mortes no trânsito. “O fator humano é a grande causa. Álcool, velocidade e falhas de manutenção são os mais comuns. O grande problema é a falta de ação do poder público, que não fiscaliza direito, faz poucas operações para detectar motoristas embriagados ou que estejam ao volante de veículos em más de condições de conservação ou com a documentação irregular”, ele afirma. Segundo o especialista, outro fator que poderia diminuir as mortes no trânsito, além de fiscalização rigorosa, é a elaboração de planos de mobilidade urbana eficientes e detalhados. “Várias cidades paulistas ignoram os planos de mobilidade urbana. O resultado é que deixam de receber verbas federais para realizar operações de fiscalização e campanhas de educação de trânsito, que são os melhores antídotos para a situação. É uma tragédia silenciosa, que só chama a atenção quando morrem várias pessoas de uma vez, em grandes acidentes”, conclui.

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