Por Walter Miranda
Tenho criticado a interferência das religiões cristãs na política partidária. No entanto, tenho defendido como obrigação devocional de todo cristão a dedicação a Deus e aos seus ensinamentos. Para mim, o que está escrito em Mateus 25:31-46, principalmente no versículo 35, deveria ser de conhecimento de todos que querem seguir o que Jesus Cristo nos recomenda. Neste sentido sou um profundo admirador do argentino cristão Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco.
Tenham paciência leitores. Passarei a falar de fome e meio ambiente, para que entendam o que penso sobre a consciência cristã do papa Francisco. Relatório da ONU publicado em setembro de 2018 indicou que a fome tem atingido milhões de seres humanos no mundo, sendo 5 milhões no Brasil. Apesar do avanço econômico, social e tecnológico no setor rural, faltam alimentos e condições financeiras para adquiri-los. Assim, as pessoas pobres, de baixa renda, não têm ingerido a quantidade mínima de calorias para uma vida saudável.
O inexplicável é que o Brasil é um dos países com a maior extensão territorial do mundo. Isso deveria favorecer a produção de alimentos, objetivando nos tirar desta brutal realidade. Ocorre que apesar da enorme quantidade de terra, a concentração de renda e fundiária é enorme. Todo dinheiro em circulação no Brasil está nas mãos de somente 10% da população brasileira. Enquanto a fome faz parte do cotidiano dos trabalhadores, a monocultura agrícola tem batido recorde de produção, sendo que a maioria dos produtos tem sido destinado à exportação para alimentar até animais em países desenvolvidos. No Brasil a agricultura familiar é a responsável pela produção da maioria dos produtos que chegam às nossas mesas e pratos.
Está evidente que, para resolver esta crise, não basta políticas como as que foram sempre adotadas como, por exemplo, o fornecimento de cestas básicas e a bolsa família. É preciso que qualquer ser humano tenha condições de se auto sustentar por meio de um trabalho e remuneração digna. Para isso é preciso o básico, que é o trabalho e a remuneração digna. Para combater a fome e o desemprego, penso que é urgente uma política de Reforma Agrária, objetivando produzir alimentos básicos e desafogar as cidades sem qualidade de vida.
Em meio a esta preocupação da ONU, mais uma vez o papa Francisco, este verdadeiro cristão promoverá nos dias 26 a 28 de março de 2020 na cidade de Assis, Itália, um encontro mundial para repensar o avanço do capitalismo e a economia global. Dele participarão jovens economistas de até 35 anos, militantes de movimentos sociais em todo mundo, comprometidos com mudanças sociais.
Reflitam sobre a opinião do papa Francisco: “Há que buscar uma economia diferente, que faz viver e não matar, incluir e não excluir, humanizar e não desumanizar, cuidar da criação e não depredá-la. O evento vai nos ajudar estarmos juntos e nos conhecer e fazer um pacto a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã.”
Na Encíclica Laudato si do papa Francisco criticou o consumismo proporcionado pelo capitalismo e o desenvolvimento irresponsável da produção mundial. Nela, ele faz apelo à mudança e à unificação global para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas. É aí que entra a caminhada na contramão do presidente Jair Messias Bolsonaro, que publicamente tem se identificado como sendo cristão católico, apoiado pelos evangélicos, a maioria pentecostal e neopentecostal. Ele desrespeita a maior autoridade da religião católica do mundo.
Penso que o presidente Bolsonaro, aliado aos interesses do agronegócio que só pensa no lucro e na destruição da natureza que Deus criou, em minha opinião, está sendo um péssimo governante em termos de respeito aos direitos humanos e a destruição do meio ambiente. Por que devastar a Amazônia? Por que agredir verbal e humanamente os nossos índios, seres humanos protetores do meio ambiente? Por que entrar em conflito com os órgãos ambientalistas nacionais e internacionais.
Gostaria, finalmente, que o papa Francisco enviasse uma mensagem especial para o presidente Jair Bolsonaro, orientando-o a investir no combate à fome e a proteger o meio ambiente para o bem estar do Brasil e do mundo.