Por Cassio Faeddo
O declarado amor de Bolsonaro por Trump não foi retribuído.
Bolsonaro não sabe que em tempos de amores líquidos, conforme ensina Bauman, a “fila anda”.
A desculpa veio na linha de que a relação tem que ser construída e que não depende exclusivamente de Trump o ingresso imediato do Brasil na OCDE. E é verdade, Trump é representante de uma ala no próprio Partido Republicano, ou seja, não é unanimidade nem no partido.
Soberania combina com “ser difícil” ou pelo menos dissimular que é. Aliás, soberania requer flertes institucionais entre os atores, e não paixões desenfreadas por um representante de nação, especialmente se a presidência voltar para os Democratas nos EUA.
A Ásia, em especial China e Japão, continua relacionando-se comercialmente com o Brasil. A China porque necessita de recursos naturais para sua economia, e pouco importa para a China se Bolsonaro é apaixonado por Trump ou não. O Japão, pelo primeiro motivo chinês e pelo histórico e forte relacionamento com o Brasil. Soja, frango e minério de ferro continuam fortes na exportação.
O ruído com a União Europeia levará alguns anos para ser elaborado. Por outro lado, não seria do dia para a noite que o acordo seria implementado. Com ou sem discurso de Bolsonaro na ONU.
Entrar em clube restrito realmente requer paciência, e concessões do interessado não podem ser efetuadas de pronto. É comércio antes de tudo. E comércio é dissimulação. O presidente tem formação militar e é nacionalista, mas sua inexperiência comercial e diplomática demonstrou-se explícita no caso da OCDE.
Deveria ter sido menos sincero em suas intenções ou melhorar o inglês. Não há gestos e palavras inúteis nas relações internacionais.O risco é de não ser levado a sério na seara internacional.
O discurso de soberania não combinou com a atitude frente aos EUA. Soberania também é não entregar de bandeja suas intenções. Nação soberana não presta continência a outro pavilhão. Por mais sincero, honesto e respeitoso que seja Bolsonaro.
Que sirva de Lição. Eduardo Bolsonaro não será levado a sério em Washington. Achar que Trump gosta dele é irrelevante. Pode até gostar, mas no primeiro embate não o reconhecerá.
Todos erramos com pessoas e reais intenções destas algumas vezes na vida. Isso é inevitável. Mas nas relações internacionais não há muito espaço para erros neste pequeno tabuleiro global.
Desta forma, se o discurso é forte na soberania, gestos e ações devem corresponder ao discurso.
Sobre Cassio Faeddo: Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. MBA em Relações Internacionais. Autor da obra “Erradicação do Trabalho Infantil”, Editora Lesto, São Paulo.