sexta-feira, 22, novembro, 2024

Painel Político de quarta-feira, 18 de setembro

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Cabeça pensante

A recente notícia dando conta do arquivamento das denúncias formuladas por delatores da Operação Lava Jato contra Edinho Silva, muda o foco da cobertura da imprensa quanto ao futuro político do atual prefeito de Araraquara. Ex-deputado estadual, ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff e ex-presidente estadual do PT, Edinho é tido como uma das principais lideranças do partido em nível nacional. No seio petista, porém, o araraquarense é muito mais do que um simples líder bom de votos: ele é uma das mais respeitadas cabeças pensantes do novo PT, agremiação que trabalha incessantemente para emergir depois da tempestade que assolou a política brasileira nos últimos anos.

 

Tudo como dantes?

É sobre esse assunto que a coluna vai se debruçar no dia de hoje. Afinal, discute-se em Araraquara, e com muita intensidade, quem seria o nome com lastro suficiente para derrotar Edinho no pleito municipal do ano que vem. Essa discussão, aliás, tira o sono há tempos de muita gente boa da política local, cujo esporte predileto nos últimos meses foi especular o destino do atual prefeito depois das denúncias da Lava Jato. Com o arquivamento das denúncias encerra-se a fase de ilações, e tudo “volta a ser como dantes no quartel de Abrantes”. Mas… será?

 

Carta

Que Edinho vai disputar a reeleição nas eleições de 2020 não é novidade para ninguém. Mas, tentar adivinhar se em caso de vitória ele termina o mandato, isso já é uma outra história. Tido como um dos principais líderes intelectuais do PT, e um dos pensadores do partido, Edinho é autor de uma “Carta” dirigida aos companheiros de todo o Brasil, onde ele faz uma profunda reflexão sobre o momento vivido pela política brasileira, e pelo PT. Redigido no primeiro semestre deste ano, o documento circula por todo o País e é tido quase como um “guia” por muitos petistas. Não são poucos os que se orientam por suas linhas e já trabalham para a construção de um novo partido.

 

Não haveria alternativa ao PT

Para Edinho, o Brasil vive um momento difícil sob o ponto de vista político e social, e no documento ele afirma que não haverá a retomada do projeto democrático e popular no Brasil sem o Partido dos Trabalhadores. De acordo com ele, o PT é a maior experiência da esquerda na história brasileira, com raízes sociais profundas e identidade popular, portanto, seria ingenuidade da direita acreditar na sua fácil extinção, bem como da centro-esquerda acreditar na sua “imersão política”, para a “emersão de uma nova alternativa” genuinamente de esquerda nesse período histórico.

 

Vitória da direita

Para Edinho, não haverá definição de cenário para a dura e longa disputa de rumos reservada ao Brasil, nesse momento, sem que o PT esteja no balanço das vitórias, e das possíveis derrotas do campo democrático e popular. O prefeito de Araraquara afirma no texto considerar o momento histórico e de extrema gravidade para as forças partidárias de esquerda, para os movimentos sociais e, em especial, para o PT. Segundo ele, é inegável a vitória da direita, que vai além da vitória eleitoral de 2018. “O que se dá neste momento é a ascensão na sociedade brasileira de valores conservadores, de negação e repulsa ao ideário progressista, de inspiração nas bandeiras históricas do socialismo, do humanismo. Esse sentimento hegemonizou eleitoralmente uma maioria social em 2018, construindo as condições para a vitória de Bolsonaro”, ressalta na carta endereçada aos petistas.

 

Momento não é passageiro

As consequências do que está por vir, com o desequilíbrio de forças na política brasileira pró-direita, significarão, na opinião do atual prefeito, um ataque frontal aos interesses dos trabalhadores e da população, “que vive em vulnerabilidade”. Edinho conclama aos militantes e líderes do PT que tenham todos, capacidade de compreensão, leitura do momento, “que não será passageiro”, e muita capacidade de organização da resistência política. “É necessário termos uma ofensiva articulada, organizada, muito racional, sabendo que a retomada da maioria progressista na sociedade brasileira se dará, na melhor das hipóteses, no médio prazo”, prevê.

 

Bolsonaro atraiu o conservadorismo

Sobre o fenômeno Bolsonaro, Edinho afirma ser necessário aos petistas entenderem que o presidente atraiu, ao longo dos últimos anos, “….com um discurso retrógrado, homofóbico, racista, machista e fundamentalista religioso…”, diz, uma parcela importante da sociedade brasileira que se identifica com suas ideias. Atraiu ainda setores sociais que se pautam pela ideologia de costumes conservadores, “…..que rejeitam as políticas públicas que estabelecem avanços de direitos para as minorias políticas….” – ampliação, consolidação do conceito de democracia social. Mas, segundo Edinho, não teria sido essa fração da sociedade que garantiu a vitória de Bolsonaro. “A maioria eleitoral foi constituída pelo antipetismo, pelo discurso hegemônico de 2018, construído nos últimos anos, de que era hora, era necessário derrotar o PT para que o Brasil superasse todas as suas crises e pudesse avançar”, destacou no texto endereçado aos companheiros de todo o País.

 

Antipetismo

Falando sobre o sentimento antipetista que dominou grande parte do eleitorado brasileiro no ano passado, Edinho analisa que o antipetismo se fortaleceu com a derrota do PT no tema da corrupção e se ampliou de forma avassaladora com o partido se tornando “…símbolo das mazelas de um sistema político/partidário caduco, que não responde à crise da democracia representativa….”. Edinho entende que a necessidade “….de derrotar esse sistema, representado pelo PT no imaginário de uma maioria social, mas que atingiu todos os partidos que do sistema fizeram parte, foi capitalizado por Bolsonaro”, afirmou.

 

O grande desafio do PT

O antipetismo é, por mais redundante que possa parecer, o maior desafio do PT nesse período histórico. Segundo o prefeito de Araraquara, é necessário que se identifique com mais precisão sua origem, seu desenvolvimento orgânico e sua capacidade de cooptar setores sociais que sempre se identificaram com o partido. E ele alerta, que se os petistas não derem a devida importância para esse fenômeno e não construírem um discurso que seja o antídoto para essa dura realidade, o partido não sairá, só pela dinâmica da conjuntura política, do lugar que hoje se encontra, diz.

 

Maior algoz e a força de Lula

Falando sobre o fato de considerar o antipetismo como o maior algoz do partido atualmente, Edinho cita como exemplo o fato que enquanto a candidatura Lula estava colocada em 2018, a sua força, sua simbologia, e sua “….identidade do povo brasileiro com Lula, que é maior que o PT, freou o antipetismo na nossa base social…”. Edinho destaca ainda que a simples retirada da candidatura de Lula funcionou como se “uma barragem de contenção” cedesse e uma avalanche de ódio ao PT entrasse nos setores sociais que antes o partido avaliava como sendo dele, abrindo espaço para o crescimento da direita no segmento da sociedade que mais se beneficiou com as políticas públicas dos governos do PT.

 

O Lulista não é petista

Segundo avaliação de Edinho, as primeiras conclusões são óbvias, e é certo que uma parte da sociedade brasileira, dos setores mais populares, são Lulistas. Identificam o Lula como o símbolo de uma vitória social e econômica, de uma esperança, como alguém que faz parte da sua identidade, mas não são petistas. “São eleitores do Lula, por isso podem votar no PT e votaram em muitas eleições”, afirma.

 

Bolsonaro vai crescer

E apesar de afirmar em seu texto que o Brasil retrocedeu muito com a eleição de Bolsonaro em 2018, Edinho destaca vitória de presidente na Reforma da Previdência, mesmo com a inevitável perda de popularidade, poderá dar musculatura ao seu governo, e capacidade de coesão de uma parcela da elite política e econômica no seu entorno, impedindo o que hoje se desenha: um provável esvaziamento da sua força política e capacidade de iniciativa. Segundo ele, é um erro, nesse momento, avaliar que a sangria do bolsonarismo seria inevitável e seu governo se “arrastaria durante o mandato”, ou coisa pior. Edinho afirma que a Reforma da Previdência é o teste de fogo do presidente, e que se ela for exitosa, Bolsonaro se mostrará forte e com capacidade de impor todas as demais reformas de interesse do capital. “Poderemos ter na presidência um líder limitado, enfraquecido, mas “escorado” por um governo forte, com muita capacidade de iniciativa”, argumenta.

 

2020 será fundamental para o PT

A eleição de 2020 será um momento muito importante para a disputa de projetos. Segundo Edinho, não se pode ignorar os aspectos da macro política, mesmo tendo a clareza que eleições municipais, majoritariamente, se definem pelos aspectos da localidade. Ou seja, pela qualidade da saúde, da educação, do transporte, da água, das vias públicas, praças, pelas políticas habitacionais, sociais, combate à pobreza, lazer, esporte, cultura, etc. “Mas, devido à polarização política vivenciada no país, o debate nacional terá muita relevância para a construção do cenário de disputa das eleições de 2020”, afirma.

 

O que virá depois

Concluindo, Edinho destaca que é preciso dar um choque organizativo no PT para que o partido se fortaleça para as disputas eleitorais de 2020. E isso tem de ser feito em todos os estados, em todas as instâncias, para que o partido volte a estar pleno funcionamento, preparando programas de governo para os municípios, respeitando cada realidade, mas também sistematizando as propostas nacionais, o projeto de país, sem deixar de inserir a temática nacional nos embates locais. Edinho chama a atenção dos petistas para o que se apresentará em 2020: “…no próximo ano, esse espaço será estratégico para o diálogo com a sociedade, para diluirmos o antipetismo e sairmos da defensiva política”, ressalta.

Redação

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