Está feio de ver
A briga interna do PSL segue a cada dia maior, e com capítulos, pode-se dizer, feios de ver. Muito do que se assistiu na última semana só acirrou ainda mais os ânimos dos envolvidos e aumentou o desalento de quem esperava mais do partido e dos seus protagonistas. Os brasileiros que elegeram Bolsonaro apostaram na mudança e em um verdadeiro choque na política nacional, com gente e ideias novas. O que está se vendo, porém, é mais do mesmo, além de uma tremenda briga motivada pelo controle do malfadado fundo partidário.
Desmonte
No caso de São Paulo, a coluna Painel apurou que logo ao assumir o comando da agremiação no estado – em julho passado -, e destituir grande parte das Executivas do PSL em cidades do interior, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, teve como intenção principal desmobilizar o esquema político do antigo presente estadual, Major Olímpio. De acordo com a fonte, Olímpio teria nomeado para dirigir os destinos do partido nas cidades paulistas gente ligada a ele e ao seu mandato, ou a pessoas de seu relacionamento político. O senador reagiu e o pau comeu…
Pode demorar, mas deve acontecer
Outra fonte consultada pela coluna afirmou que as mudanças previstas para acontecer no comando do PSL no estado passaram um pouco do prazo, mas já estão certas e vão acontecer, sim. Segundo o dirigente, o presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar recuou um pouco na última semana e não deflagrou as mudanças esperadas, o que, aliás, teria irritado um pouco alguns aliados, ávidos por tornar oficial a destituição de Eduardo Bolsonaro e seu grupo de confiança do comando da agremiação. Como a coluna já antecipou há tempos, o filho do presidente foi destituído por Bivar há 15 dias. Só falta o anúncio oficial e a destituição das Executivas municipais.
Mercadão já era
Em Araraquara, a oficialização de mudanças no comando da agremiação já é esperada e gerou algumas atitudes por parte do atual presidente do PSL local, Rodrigo Ribeiro. Segundo apurado pela coluna, o jovem, que há cerca de 40 dias havia alugado uma sala no Mercado Municipal para ser a sede do partido na cidade – ela chegou a ser pintada para receber seus membros -, decidiu devolver o lugar para seu proprietário e abandonar o projeto. A devolução teria ocorrido na última quinta-feira (31).
Grupo segue alinhado aos Bolsonaro
Procurado pela coluna, Rodrigo Ribeiro não se aprofundou no assunto “Crise no PSL”, mas afirmou que os filiados do partido em Araraquara estão fechados com o projeto do presidente Eduardo Bolsonaro, e que seguirão com ele aconteça o que acontecer. Segundo Ribeiro, é grande a movimentação dos membros do PSL local em migrarem para o Movimento Conservador, braço da direita organizada ligado ao grupo de apoio a Eduardo Bolsonaro. Ou seja: confirmada a saída do jovem do comando do partido em Araraquara, seu grupo sai junto.
Aguardando o momento
A coluna buscou contato também com Marcos Custódio, ex, e provável futuro presidente do PSL de Araraquara para conversar sobre o assunto. Custódio afirmou que prefere aguardar os próximos dias para falar oficialmente, mas confirmou os rumores de que o deputado federal Júnior Bozella deve ser confirmado nas próximas horas no comando do PSL paulista no lugar de Eduardo Bolsonaro. “É o que se sabe nos bastidores e o que estamos esperando”, disse. Assessor de Bozella, Custódio deve assumir o PSL local.
Cobra de várias cabeças
Segundo avaliação feita meses atrás pelo prefeito Edinho Silva em texto distribuído internamente no PT, e, portanto, ainda antes de toda a refrega que se vê atualmente envolvendo o governo Bolsonaro e os grupos que apoiaram a ascensão da direita no Brasil, o momento vivido pelo País é histórico é de extrema gravidade para as forças partidárias de esquerda, para os movimentos sociais e, em especial, para o PT. “O que se dá neste momento é a ascensão na sociedade brasileira de valores conservadores, de negação e repulsa ao ideário progressista, de inspiração nas bandeiras históricas do socialismo, do humanismo. O governo Bolsonaro, após esses primeiros meses de mandato, explicita a caracterização que havíamos aventado como hipótese após as eleições de 2018: um aglomerado político marcado por grandes contradições. Um governo que se tipifica como uma cobra de várias cabeças, cada uma delas se movimentando em um sentido”, diz.
Condomínio de interesses
Segundo Edinho, o que há hoje é um condomínio de interesses, de formulações: de liberais extremados, lacerdistas do século XXI envergonhados com a trajetória da família Bolsonaro, e das manipulações eleitorais do PSL, com todo discurso moralizante que fizeram nas eleições, o que hoje gera “uma saia justa” escandalosa. “Também estão no condomínio de interesses que é o novo governo, fundamentalistas religiosos, nacionalistas com discursos modernizantes, setores atrasados do capitalismo nacional e a vertente mais pragmática da política nacional”, afirma.
Governo confuso
Se as contradições são gritantes e começam a impedir “o céu de brigadeiro” tão desejado pelo empresariado nacional e interesses internacionais, necessário para impor a agenda neoliberal, esse mesmo governo, até agora sem uma caracterização clara, tem base social e apoio popular. “É um governo confuso, atrapalhado, que sofre um desgaste importante, mas ainda assim, está lastreado em uma considerável sustentação social”, alerta.
Discurso retrógrado
Edinho afirma, entre outros pontos, que a esquerda deve entender que o fenômeno Bolsonaro atraiu, ao longo dos últimos anos, “…com um discurso retrógrado, homofóbico, racista, machista e fundamentalista religioso”, uma parcela importante da sociedade brasileira que se identifica com suas ideias. Setores sociais que se pautam pela ideologia de costumes conservadores, que rejeitam as políticas públicas que estabelecem avanços de direitos para as minorias políticas – ampliação, consolidação do conceito de democracia social.
Governador torce contra
O prefeito de Araraquara se debruça ainda no que ele chama de “contradições no campo da direita”, citando o caso de São Paulo e do governo Doria. “Por mais que sinalize para a agenda de Bolsonaro, e ninguém duvide, ele se comprometerá publicamente cada vez mais com ela: medidas repressoras, privatizantes, discurso radicalizado à direita; ao mesmo tempo, ele torce pelos erros e fracassos de Bolsonaro, já que seu sonho é se caracterizar como a alternativa para os interesses neoliberais, caso o condomínio bolsonarista imploda”.
Projetos políticos 1
Para Edinho, a eleição de 2020 será um momento muito importante para a disputa de projetos, e a esquerda não pode e não deve ignorar os aspectos da macro política, “…mesmo tendo a clareza de que eleições municipais, majoritariamente, se definem pelos aspectos da localidade, como a qualidade da saúde, da educação, do transporte, da água, das vias públicas, praças, pelas políticas habitacionais, sociais, combate à pobreza, lazer, esporte, cultura, etc”.
Projetos políticos 2
Segundo ele, devido a atual polarização política vivida no país, o debate nacional terá muita relevância para a construção do cenário de disputa das próximas eleições. “Temos que dar peso aos acontecimentos nacionais e seus reflexos na vida das cidades. O desmanche das políticas públicas, a retirada de direitos dos trabalhadores, o aumento do desemprego, da miséria, da fome, tudo isso tem que estar nas nossas formulações, na nossa concepção de sociedade nas disputas municipais”, destaca.