Ariane Padovani
O Conselho Municipal de Cultura indeferiu, na última quinta-feira (19), o ‘Projeto de Aquisição de Registros Digitalizados – Solicitação de Apoio e Patrocínio’ entregue pelo araraquarense Ricardo Fonseca Simões à secretária de Cultura Teresa Telarolli em janeiro para que as filmagens que fez durante mais de 30 anos de diversos eventos importantes da cidade pudessem ficar no Museu de Imagem e Som “Maestro José Tescari”.
De acordo com o texto da resolução, o Conselho argumentou “que o projeto apresenta um material que não possui um cunho exclusivamente artístico, pois se trata de vídeos bem elaborados, mas com fins apenas de registros de eventos. Muitos dos assuntos e dos temas apresentados são coberturas jornalísticas, sob o ponto de vista do proponente, sobre eventos em distintos locais da cidade e que, embora tenham sido realizados em anos diferentes na nossa cidade, não possuem teor de documentário ou outro que justifique sua aquisição como sendo uma obra artística e/ou histórica”.
A carta entregue a Simões diz ainda que “essas coberturas não têm caráter de exclusividade, tendo sido encomendadas pelos munícipes em seus eventos e que há cópias do material nos arquivos destas instituições, além de vídeos online e alguns outros até mesmo constantes do projeto BACKUP Araraquara, ainda no processo de finalização, o que os torna acessíveis para busca ou consulta quando do interesse da sociedade”.
Decepção
Ricardo afirmou estar frustrado e triste com a decisão do Conselho. “O pior de tudo foi a demora em analisarem o projeto. Ficaram pedindo reajustes e estava tudo bem feito e arrumado. Alguma coisa eles precisam fazer. Eu acho que eles têm a obrigação de aprovar esse projeto, eles são da cultura e quer mais cultura do que as minhas gravações. Eles falam que o meu projeto não é arte, mas eu tenho mais de três mil entrevistas com pessoas que atuaram na cidade, que são de famílias tradicionais e que eu queria que ficassem na história, queria deixar isso para a cidade”, lamentou Simões, que foi até a Câmara Municipal pedir o apoio de alguns vereadores, que prometeram tentar ajudá-lo. “Eu vou lutar para que isso fique no museu, é a única coisa que eu quero”, confessou.
Ricardo disse ainda que as gravações que compõem o projeto BACKUP Araraquara, desenvolvido pelo jornalista Luís Augusto Zakaib, são realmente suas, mas ele nunca assinou um contrato que desse ao jornalista o direito ao uso dessas imagens.
Histórico
Ricardo Simões, de 72 anos, é professor aposentado, ex-secretário de esportes do governo de Waldemar de Santi, ex-presidente da Fundesport e ex-secretário de Cultura e Lazer da antiga CONTUR, e está de mudança com a família para Orlando, nos Estados Unidos, terra natal de sua esposa, e, por conta disso, apresentou o projeto com 46 módulos para que o seu acervo ficasse no MIS.
Ricardo nasceu no dia 20 de dezembro de 1946, em Araraquara, mas morou em Tutóia até os 11 anos. Foi nadador do Corinthians, onde ganhou o título de campeão brasileiro de natação, além de conquistar recordes em vários Jogos Abertos do Interior por Araraquara. Formado em Educação Física pela Escola de Educação Física de São Carlos, deu aulas de natação antes de lecionar na Universidade Metodista de Piracicaba, Faculdade de Barra Bonita e na Unesp Araraquara. Permaneceu por 28 anos na Academia da Força Aérea e no ITA.
Simões se casou com Judy Balcom em 1972, em São Francisco, na Califórnia, e teve três filhos: Daniel, que mora em Orlando, na Flórida; Diego, que reside e trabalha na Virgínia; e Laura, formada em jornalismo e nutrição.
Simões começou a filmar sua família, eventos da cidade e jogos de futebol dos campeonatos amadores em 1965 com rolos de cinema que duravam apenas três minutos, o que o incentivava a caprichar, já que o material era caro. “A minha filmagem mais famosa foi o show dos ‘The Rolling Stones’ em Matão, em 1969. Em 1978, fui para os Estados Unidos e voltei com a primeira câmera de vídeo que Araraquara viu. Passei a filmar casamentos, eventos em clubes, eventos esportivos e shows. Eu peguei gosto e montei a ‘R Simões Produções’. Fiz milhares de produções, filmei Mamonas Assassinas, João Paulo e Daniel, Alan e Aladim. Também filmei missões da Academia da Força Aérea, fiz muitas entrevistas com os presidentes da República que visitavam a Academia e com todos os prefeitos que passaram por Araraquara. Depois me especializei em fazer campanha política. Eu tenho atualmente umas três mil horas de filmagens da história de Araraquara. Só na ‘Sessão Cripta’ tem mais de 1.200 pessoas entrevistadas”, narrou o professor.
Televisão
Ricardo teve um programa de retrospectivas no Canal NET chamado ‘Arquivo R Simões’ que sua filha Laura Simões apresentava. Em seu canal no YouTube ‘arquivorsimoes’ estão disponíveis vários vídeos que foram exibidos na TV.
Nota do Conselho Municipal de Cultura de Araraquara
Em virtude das manifestações com relação ao Projeto do Sr. Ricardo Simões este Colegiado vem a público para explicitar o ocorrido. O Conselho Municipal de Cultura é formado por pessoas da Sociedade Civil, representantes das áreas artísticas, institucionais e governamentais. Possui um quórum de 32 pessoas que se esmeram por analisar os pedidos que lhe são enviados pela Secretaria Municipal de Cultura aconselhando que os investimentos sejam aplicados da melhor maneira possível no sentido de atender à sociedade com eficácia e assertividade.
Todo o processo foi, como é de praxe, público e segue em uníssono aos procedimentos adotados por este Conselho na aprovação ou não de todos os projetos que chegam à este Colegiado. Porém, por ser composto por integrantes com larga experiência no campo das artes, entende-se a importância da aquisição de obras de valor histórico ou artístico que venham a agregar ao patrimônio da cidade.
O projeto do Sr. Ricardo Simões, mais especificamente, analisado pelos conselheiros em todo o seu conteúdo de maneira detalhada e durante um período de mais de 20 dias, trata da aquisição e NÃO DO ACERVO ORIGINAL mas, de CÓPIA DIGITALIZADA de PARTE DAS IMAGENS em DVDS com minutos das diversas reportagens, editado pela visão do proponente.
Por entender que os custos envolvidos neste projeto que se somaram em R$ 15.000,00, seriam aplicados na aquisição de um material não original e não exclusivo, ou seja, apenas como cópia. O referido conselho decidiu, por fim, indeferir o projeto nesse contexto deixando, como consta no ofício enviado ao requerente, a oportunidade para o envio de outro projeto em situação diferente.
Cabe ressaltar publicamente que, de acordo com o projeto, cada DVD teria cerca de 20 minutos editados, completando 15 horas de imagens, a um custo de R$ 1.000,00/hora.
O Conselho Municipal de Cultura esta sempre aberto e à disposição para quaisquer esclarecimentos sobre este ou outro projeto que tenha sido enviado a este colegiado, lutando assim, por uma participação popular e transparente na decisão das políticas públicas culturais de Araraquara.