sexta-feira, 22, novembro, 2024

Quase 70 anos depois, volto!

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Ignácio de Loyola Brandão

Uma noite, em 1952, eu tinha 16 anos, levei ao Lázaro Rocha Camargo, ferroviário e editor de dois jornais, Correio Popular e Folha Ferroviária uma crítica de cinema sobre o filme Rodolfo Valentino, direção de Edward Small, com Anthony Dexter, no papel do mais famoso latin-lover do cinema. Eu era apaixonado por filmes e lia tudo sobre eles, recortava críticas dos jornais de São Paulo e do Rio. Incrível, naquela época, o Diário Carioca e o Correio da Manhã chegavam à Biblioteca Municipal de Araraquara, sei lá porque misteriosas razões. Não havia espaço para arquivar tanto jornal, de modo que, depois de três dias, eles eram amontoados e postos fora, iam para empórios, açougues, e etc.

Antes, Marcelo Manaia, o bibliotecário, me deixava recortar tudo o que havia de cinema neles. Meus textos eram corrigidos por um amigo, Sergio Antonio Fenerich, amigo até hoje, temos quase a mesma idade.

Ele era muito bom em português, mas de qualquer modo, por precaução, eu pedia que o professor de português do então IEBA, Jurandyr Gonçalves Ferreira e também o Machadinho, que lecionava português e química, dessem uma olhada.

Assim iniciei. Meu salário? A “permanente” que o Graciano R. Afonso dava aos jornais para que os críticos entrassem de graça. Elas foram meu primeiro salário. Só que, como não havia nenhum crítico na cidade, penso que fui o primeiro, mas um pesquisador pode descobrir se fui ou não. O que me interessava era poder ver filmes todas as noites sem pagar. Eu, filho de um ferroviário remediado, assistia tudo nos cines Odeon e Paratodos, que antecederam o Capri e o Veneza.

Assim comecei no jornalismo. Tempos depois, encontrei na rua Quatro um jovem chamado Paulo A.C. Silva e ele me chamou: “Brandãozinho, você não quer vir para nosso jornal, O Imparcial? É diário, você vai ter mais espaço.” Meu pai era Brandão, mas até que eu me mostrasse merecedor do nome, seria Brandãozinho. Costumes da cidade. Respondi:

– Só vou se você me der a permanente para os cinemas.

– Mas, e se eu quiser ir com a Cecília?

Era a mulher dele, bonita.

– Ah, não sei. Você é importante, se arranja com o Graciano.

Paulo, além de jornalista, era poeta, fazia parte de um grupo chamado CIJA, que reunia intelectuais. Não sei se ele se arranjou ou não com o Graciano ou o Roberto, que cuidava dos cinemas, mas vim para O Imparcial. Agora, 45 livros publicados até hoje, tendo passado por jornais e revistas, me deu uma nostalgia e disse ao Zé Silva e a Cecilia que voltaria. Hoje faço o que quero de minha vida. Aqui estou. Aqui estarei de tempos em tempos.

Redação

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