Da redação
A transexual Raquel do Santana, moradora no Morumbi, relata a situação precária e calamitosa em que vive.
Ela que também tem vários animais, conta que não tem condições financeiras de comprar ração. Os filhotes estão castrados e disponíveis para adoção.
O jornal O Imparcial tem acompanhado o caso de Raquel. A última nota da prefeitura foi em 20 de fevereiro, quando informou que está acompanhando o caso de perto com prioridade. A moradora se encontra na fila de espera para o aluguel social na região. É importante salientar que o programa atende os moradores por região e de acordo com o grau de vulnerabilidade.
Um pouco de Raquel
Para Araraquara, Raquel voltou em 2001, pois estava doente, com os pulmões afetados por uma tuberculose. Curada, ficava se revezando entre Araraquara e São Paulo, aliás, cidade que adora, pois não ‘olham’, não criticam e nem apontam ninguém. “Se você vive no lixo ou luxo ninguém vê. Sabe que tem as diferenças, mas ninguém vê os seus tombos. É um lugar onde você precisa pensar em você”.
Já ficar em Araraquara nunca foi difícil, pois sempre foi um travesti negro que cresceu dentro da sua cidade.
Sua família
Os pais morreram cedo, seu pai aos 39 anos. Ele era pouco mais que um menino. Tinha 17 anos. A família cresceu junto com a cidade.
Sua bisavó era chamada Dona Aparecidona, por conta da alta estatura que era de 1,92m. Era casada com um português, o José de Paula e com ele teve Noemia e Benedito de Paula, eletricista da Fepasa, que se casou com Josefa e dessa união nasceu Reinaldo, pai de Richard que assim como os outros irmãos tornou-se eletricista.
Ele conta que o pai foi covardemente assassinado na cadeia, pois uma moça o acusou de estupro em 1997. “Um radialista da cidade praticamente o condenava e nem tinha feito corpo de delito. Ele foi preso e lá cadeia os policiais, segundo Richard, já haviam passado que ele era conhecido como Reinaldo do Santana e que havia sido fundador do bloco Catados na Rua. “Ele foi acusado, na verdade, por uma de suas inúmeras amantes. Quando chegou na hora de ser preso, meu pai se recusou a ir para uma cela de segurança para preservar sua integridade física. Disse que não devia nada, que estava sendo injustamente acusado e que se fosse para morrer ia morrer como homem. Quando ele entrou não saiu com vida. Foi assassinado”.
Segundo Richard, todo o fato chocou Araraquara. “Ele era tão conhecido que no velório dele foi o prefeito da época e vários delegados e pessoas que não acreditavam naquele crime hediondo e em sua inocência”.
Fundador do Bloco Catados na rua, o pai de Raquel, Reinaldo foi praticamente esquecido, mas Raquel exige e luta por esse reconhecimento de certa forma usurpado. “Meu pai chegou a ser homenageado com o tema: por que não trocaram as arma por flores. Estou em busca de direitos e de reconhecimento da existência e da memória da minha família. Minha avó e meu pai, por exemplo, cortaram tanta cana, apanharam tanta laranja para alguém ignorar a existência deles”.
Ela perdeu a mãe em um acidente em 2003, quando a mesma estava em uma moto táxi quando caiu . “Esse mesmo radialista que praticamente incitou a violência contra meu pai, quis manchar a conduta de minha mãe dizendo que ela estava bêbada por isso caiu da moto”.
Engajada, Raquel foi uma das primeiras a participar da campanha ‘Araraquara sem preconceito’ em 2012. “Foi no dia mundial da luta contra a homofobia”.
Atualmente Raquel está entrando com o nome social que deverá ser Raquel do Santana Aparecida de Paula.