Luís Carlos Bedran*
Ainda um tanto desorientado ou desnorteado pelo carnaval que passou, por esta ressaca que está a demorar para acabar, tenho de confessar que não sei onde estou, nem para onde vou, se é que irei, porque perdi o norte (ou perdi o oriente?). Mesmo se tivesse uma bússola, nem saberia como usá-la. Mas, e daí? Iria para onde? Fazer o que lá no Polo Norte? Tentarei achar o oriente então, que é a origem de tudo. Pode ser que lá me encontrarei. Mas e depois? Só, de que adianta? Como Jorge Luís Borges talvez verei o que ele viu ou imaginou. Talvez a paz. Como, se lá no Oriente foi o começo de tudo, de todas as guerras fratricidas religiosas? Naqueles desertos, de tanto admirarem as estrelas, o espaço sideral, o infinito, longe das florestas escuras desses tristes trópicos calientes e da ausência das nuvens negras, das chuvas torrenciais, os hominídeos inventaram os deuses, o berço das três religiões monoteístas. E é por isso que o mundo, vasto mundo, ficou desorientado, assim como este cara que vos escreve. Então cada povo tem o seu deus que adora, cada um, cada qual, melhor do que o do outro. Qual seria o melhor ou o pior? Está certo que siamo tutti fratelli, somos todos irmãos de origem africana, que se espalharam pelos outros cinco continentes e a busca pela comida era para a sobrevivência da espécie. Que não foi fácil essa luta pela vida e a guerra entre as tribos, homo sapiens ou não, sempre foi uma constante. Confesso que ainda estou meio de fogo, essa invenção humana que facilitou comermos bem. Vem daí o gostoso churrasco e também este fogo, mas de caipirinha, claro. Se vis pacem, para bellum, se queres paz prepara-te pela guerra, diziam os romanos. Mas isso é discutível, em pleno século 21, das armas nucleares e com esses ditadorzinhos de meia tigela. Além das guerras religiosas (ou econômicas?) infindas. Macunaíma estava certo, Mario de Andrade idem. Sem estrelas visíveis não se inventariam as disputas pelos deuses.
Não haveriam deuses e sim deusas, a mãe natureza, a mata, o rio, o verde que te quiero verde. Porque o brasileiro é cordial. Cordial o quê! Foi o dito de Sérgio Buarque de Holanda, cordial de coração, mas não é bonzinho não. Porém é que o nativo foi influenciado originalmente pelos orientais, depois pelos europeus e deu no que deu. Que o carnaval tenta fazer desaparecer tudo isso, toda essa malvadeza dos maus e até dos bons. Essas são as minhas reflexões do Mardi Gras, da quarta-feira de cinzas, da ressaca, depois do esquecimento daqueles três dias de Momo. Até é o caso de se pensar se a razão é vantajosa, se foi mesmo a racionalidade que levou o ser humano ao estágio em que está, a sobreviver há milhares e milhares de anos e não o instinto. Que respondam os cientistas. Bem, agora que o estado de obnubilação está a passar, forte abraço camaradas!
*Luís Carlos Bedran é sociólogo