Da redação
Pensa em uma pessoa que é capaz de relembrar as músicas do passado, especialmente as do carnaval? Que conhece tudo sobre ferrovia? Um exímio conhecedor da Vila Xavier? Tanto que se recorda que em sua época de menino a região não tinha nomes nas ruas e eram chamadas de travessas. Estamos nos referindo a Rubens Squariz, ferroviário aposentado, que atuou na estrada de ferro como escriturário se aposentando como técnico de via permanente em 82.
E hoje, ele que vivenciou várias fases da estrada de ferro ao observar e analisar a recente crise do transporte faz uma viagem ao passado e relembra que JK (Juscelino Kubitschek) foi um grande esteio para aprofundar as plantações no Brasil. Ele fez Brasília e muita gente migrou para capital. Com a intenção de integrar o país ele deu o aval para a expansão de fábricas de veículos, como os caminhões Fênêmê (FNM).
Ainda de acordo com Squariz, foi durante a presidência de Kubitschek, ao final da década de 1950, que o rodoviarismo foi implementado de maneira contundente. “JK começou a autorizar a fazer estradas de rodagem paralelas com a ferrovia, como por exemplo, a Sorocabana que tem uma estrada que vai até Presidente Epitácio, a Paulista vai até Tupã, a EFA até Rubinéia, a Mogiana para os lados de Uberaba, Uberlândia. As rodovias que no mundo inteiro são transversais com a ferrovia, aqui no Brasil são paralelas. O que um trem demorava três dias para levar, o caminhão transportava em apenas um”.
Quanto a investimentos, o ferroviário diz que até 1949/50 a EFA recebia recursos. “Em 1939, o Ademar de Barros autorizou a remodelação da estrada de ferro, o alargamento, construção do campo da Ferroviária, a oficina nova e por conta da mesma, a construção das casas na Vila Ferroviária, pois vários ferroviários necessitavam morar bem próximo à oficina. Os que moravam por necessidade pagavam apenas 5% do aluguel, os por conveniência 10% e os que trabalhavam nos escritórios, por exemplo, pagavam o geral”. Squariz é veemente contra o sucateamento.
“Faz mais de 15 anos que não voto. Quando completei 70 anos falei: não voto em mais ninguém. Não votei nem em meu cunhado que foi candidato. Como prometi que não votava mais em ninguém, mas nem no meu amigo De Santi”.
Embora na Lava Jato, segundo ele, saia processo até pelo ladrão, acredita que o Brasil tem jeito. “É só acabar com a reeleição e ter fiscalização nos votos que entrarem”, diz acrescentando que nunca viu uma crise como essa dos caminhoneiros.
Um pouco de Rubens
Rubens Squariz nasceu em um sítio chamado ‘Farinha Podre’, no dia 14 de janeiro de 1933, em Borborema. Filho dos saudosos João Squariz e Carolina Thereza Fante. Tem como irmãos o saudoso Oscar que era o primogênito e que morreu do coração aos 29 anos e Geni Squariz Caramuru, atualmente com 90 anos.
Na cidade natal ficou até quando tinha a idade de nove anos, 11 meses e 28 dias. “Saímos de lá de lá dia 10 e dia 14 fiz aniversário.
Ele se recorda que a crise de 29 (quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque) também afetou o Brasil. “Na cidade ainda sofríamos efeitos da crise de 29, em 22 quando saímos, onde proprietários de casas para locar chegavam a pagar para as pessoas morarem para que as casas ficassem conservadas. A cidade que estava começando a crescer teve uma queda bárbara. Rubens relembra também que frequentou o grupo escolar de Borborema até o segundo ano do grupo, que moraram em outra propriedade rural, a Fazenda Espírito Santo. Posteriormente mudaram para Marília, em 10 de janeiro de 1943. “Ficamos pouco, pois no dia 28 de fevereiro do mesmo ano nos mudamos”.
Ele conta que seu pai tinha um bar e que no estabelecimento fez de tudo: jogo do bicho, de baralho de snooker. “De 1946 a 51fui cambista”.
Em 43 a família se mudou para Araraquara, onde o pai montou novamente um bar que permaneceu com ele até ser vendido em1964. “Fomos morar na Vila Xavier, na Avenida Santo Antônio”.
Gols na Ferrinha
Terminou os estudos em Araraquara, onde passou pelo Ginásio da Vila, Escola do Comércio que funcionava na Rua 5 e depois mudou para o Largo da Câmara em 46, onde hoje funciona o Objetivo. “Na Escola do Comércio fiz o primeiro, segundo, terceiro e quarto básico. Depois fiz o primeiro técnico, segundo, onde fiquei oito anos, pois entrava na escola, tirava a carteira de estudante e abandonava (risos) para ir ao cinema, pois era mais barato. “Eu me formei em contador em 59.Trabalhei na White Martins durante três e meses como escriturário. Como gostava muito de jogar futebol como gosto até hoje, a Estrada havia me oferecido um emprego para trabalhar na Ferroviária, mas como empregado da Estrada pedi demissão fui fazer o exame. Sai dia 10 da White e dia 11 de março de 53 comecei a trabalhar na estrada de ferro. Entrei como escriturário. Futebol eu jogava no time da Atlética da Vila. No time da Ferroviária eu não servia porque não era craque”.
Rubens tem uma divertida história, a de que um dia jogando na preliminar da Ferroviária em 1954 marcou os dois gols contra a Ferroviária e seu time ganhou por dois a um da Ferrinha. “O engenheiro da Ferroviária queria me ‘matar’. Fui até chamado pelo presidente Eugenio de Campos Jr. da época para levar uma bronca onde ele dizia que não podia em órgãos esportivos jogar contra o time, que era contra o estatuto. Argumentei que na oficina tinha centenas de funcionários que sempre jogavam em outros times. E ele contra argumentou que eu tinha marcado os dois gols. Ainda bem que não fui mandado embora”, ri ele.
Rubinho também cita Pereira Lima como um homem inteligente, que falava várias línguas, mas que adorava futebol tanto que fundou três times: América de Rio Preto, Ferroviária e ADA.
Herique Luppi Neto também foi um grande exemplo na estrada de ferro. “Ele desenvolveu um método de letras que especificava o tipo de trabalho é o número que identificava o funcionário. Em uma visita dos franceses, os mesmos ficaram absolutamente encantados com o método que estava à frente de seu tempo. Pronto para ser computadorizado”. Agora quanto aos prefeitos que conheceu em Araraquara ele elege dois como os melhores: Pereira Lima e De Santi.
O grande amor
No footing, conheceu aquela que seria sua esposa. Rubens se casou com Benedita, conhecida como Benê Cabelereira, no22 de julho de 1962. Dessa união nasceram: Renata (dentista), Roberta (psicopedagoga), Rubens (advogado) e Ricardo (engenheiro). Têm oito netos. “Comecei a namorar a Benê em 55 e por coincidência ela também é de Borborema. Namoramos um mês e eu disse para pararmos, pois não ia casar já. Eu tinha 23 anos e disse a ela que só casava com 29 anos pra mais. Voltamos em 57. Namoramos mais sete anos. Casei com 29 anos e meio. Foi na igreja de Santo Antônio. Fomos morar na antiga Rua do Tesouro (nome esse por conta de dizerem que nos anos 40 haviam achado um tesouro na referida rua), hoje Bento de Barros”.
Travessas
Na Vila as ruas não tinham nome. “Eram chamadas de Travessas, como por exemplo, a Primeira Travessa era perto da ferrovia; a Segunda Travessa em frente à igreja Santo Antônio; a Terceira Travessa, a atual Treze de Maio; Quarta (Princesa Isabel) Quinta (Rui Barbosa), Sexta (Barão do Rio Branco) Só para se ter uma ideia. Ia até a sexta, pois depois era só mato. O chamado ‘Estradão’ é hoje a José do Patrocínio”.