quinta-feira, 4, julho, 2024

Torcedores pedem busto para Luciana!

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Carlos André de Souza

Nas últimas semanas, a goleira Luciana ganhou projeção nacional ao brilhar na decisão por pênaltis contra o Corinthians pela final do Brasileirão Feminino de 2019. Foi considerada a grande heroína da conquista que fez da Ferroviária o primeiro time a conquistar duas vezes o título nacional. Sua importância foi valorizada pela equipe na própria premiação do título, onde foi convidada para ajudar a capitã Maglia a levantar a taça, em uma das cenas épicas que ficarão marcadas na história do esporte araraquarense.

Os dias seguintes à conquista foram de muitos frutos colhidos. Entrevistas para programas esportivos de repercussão nacional, carreata com suas companheiras pela cidade, homenagem de autoridades e muita festa. Alguns torcedores, no entanto, acreditam que ela merece mais. Antes mesmo da final, foi c

omum ver comentários de afeanos em matérias relacionadas às Guerreiras Grenás dizendo que a goleira merecia um busto na Fonte Luminosa.

Outros torcedores podem considerar o pedido um exagero, já que até hoje a homenagem só foi atribuída a um jogador, o lendário camisa 10 Bazani, e alguns outros nomes mitológicos do clube estariam “na fila”.

Entretanto, a goleira, que conquistou o coração da torcida com sua determinação, humildade e qualidade, já possui um currículo de respeito. Isso porque ela foi decisiva nas três conquistas nacionais do time araraquarense: a Copa do Brasil de 2014 e os títulos do Brasileirão Feminino de 2014 e 2019.

 

O brilho de Luciana em Araraquara

Luciana nasceu em 24 de julho de 1987 em Belo Horizonte-MG. Fez suas primeiras defesas no futsal e foi incentivada pelo pai a partir para o futebol de campo, onde teve sua primeira oportunidade no Atlético-MG em 2005.

Ela chegou a Araraquara em 2013 para reforçar a Ferroviária, na época comandada pelo técnico Douglas Onça. Na ocasião, a equipe araraquarense era gerida pela Fundesport, que tinha a coordenação do futebol feminino sob o comando de Danilo Zero e Fabrício Maia. Com uma visão inovadora, foram contratadas atletas promissoras, que viriam a formar um dos maiores esquadrões já vistos em um clube no futebol feminino brasileiro. Além de Luciana, outros nomes viriam a brilhar na Seleção Brasileira, como Mônica, Tayla, Daiane, Rilany, Thaisa, Andressa Alves, Erikinha, Raquel, Adriane Nenê, Géssica, entre outras.

O primeiro título de Luciana pelas Guerreiras Grenás foi conquistado já em 2013, quando levantou a taça do Campeonato Paulista, competição que fez da Ferroviária o único time tetracampeão do estado de São Paulo. Os números da equipe no estadual foram impressionantes: 12 vitórias, 6 empates e nenhuma derrota, com 75 gols marcados e apenas 13 sofridos. O time teve a artilheira do campeonato, Raquel, com 22 gols, e aplicou a maior goleada do campeonato: 19 a 0 sobre Botucatu.

Mas o melhor estava reservado para o ano seguinte. Em 2014, a Ferroviária embalou de vez e passou a atropelar todos os adversários que encontrava pela frente. A Copa do Brasil, primeiro título nacional conquistado pelo esporte coletivo de Araraquara, foi comemorada com muita festa. E foi nessa competição que a goleira realmente começou a mostrar seu potencial, ao defender três cobranças na decisão por pênaltis na final contra o São José, time que por muito tempo foi visto como o grande rival das Guerreiras Grenás. Nessa competição, mais uma vez a equipe teve a artilheira – Adriane Nenê com 9 gols – e aplicou a maior goleada ao bater o União Desportiva-AL por 14 a 0. A Ferroviária teve uma campanha de 8 vitórias e 2 derrotas, com 48 gols marcados e apenas 4 sofridos.

No segundo semestre do mesmo ano, veio o Campeonato Brasileiro, onde Luciana conquistou de vez o carinho da torcida. Com uma campanha invicta, a equipe viu seu momento mais turbulento na semifinal contra o Botafogo-RJ, que terminou com dois empates sem gols. Na decisão por pênaltis, lá estava a goleira para fazer uma defesa em uma cobrança e ver a bola acertar o travessão em outra. Na final, o título conquistado sobre o Kindermann-SC na Fonte Luminosa teve invasão de torcida no gramado, fogos e muita comemoração. A campanha afeana contou com 10 vitórias, 4 empates e nenhuma derrota, com 45 gols feitos e 12 sofridos. A artilheira do campeonato foi Raquel com 16 gols e a maior goleada também foi afeana: 16 a 1 sobre o Pinheirense-PA.

 

Longe de casa

O grande desempenho das Guerreiras Grenás em 2014 teve seu lado ruim para os torcedores afeanos, que viram a equipe ser desfigurada quando a Seleção Brasileira Permanente – projeto criado para gerar um entrosamento maior entre as atletas visando as Olimpíadas de 2016 – levou quase todas as jogadoras titulares. Na Seleção, Luciana conquistou a titularidade, porém uma falha contra a Austrália resultou na eliminação da Copa do Mundo de 2015, o que gerou grande decepção na atleta, que cogitou até a abandonar o esporte, decisão que foi contida pela família.

No mesmo ano, a CBF promoveu um ‘draft’ para dividir suas atletas entre clubes do Brasileiro Feminino. Luciana foi sorteada para reforçar o Rio Preto, onde mais uma vez teve uma atuação decisiva e ajudou o clube a conquistar o título do Brasileirão.

No ano seguinte, permaneceu no clube de São José do Rio Preto, porém acabou acusada injustamente por um dirigente de ‘entregar o jogo’ na final do Brasileiro contra o Flamengo. Mesmo infundada, a acusação foi determinante para tirar a goleira da lista de atletas convocadas para os Jogos Olímpicos.

 

Novamente entre as Guerreiras

Luciana foi recontratada pela Ferroviária em 2017 e acumula hoje mais de 100 jogos pelas Guerreiras Grenás. Titular e uma das líderes da equipe, voltou a mostrar sua grandeza no Brasileirão de 2019.

O time araraquarense teve momentos turbulentos na primeira fase e se classificou apenas na última rodada, na 7ª colocação e com uma campanha de seis vitórias, cinco empates e quatro derrotas, com 20 gols feitos e 8 sofridos. Mas foi no mata-mata que as Guerreiras Grenás esbanjaram garra e a goleira se mostrou novamente decisiva. Nas quartas de final, encarou o vice-líder Santos. Com uma derrota por 2 a 1 em casa e uma vitória pelo mesmo placar em Santos, o jogo foi para os pênaltis e Luciana fez a sua parte com duas defesas. Na semifinal, o adversário foi o Kindermann-SC, terceiro colocado na fase de grupos, e os dois empates por 1 a 1 novamente levaram a decisão para os pênaltis, onde Luciana mais uma vez brilhou.

Sua consagração veio na final contra o Corinthians, que vinha embalado pela liderança na primeira fase e por mais de 30 vitórias seguidas, façanha que o colocou no Guinness Book com a maior série de triunfos do futebol mundial. No jogo de ida, mais um exemplo de superação da goleira, que chegou a desmaiar por conta do forte calor das 14 horas de Araraquara. Foi recomendada pelos médicos a deixar o campo, mas se negou a sair. O empate por 1 a 1 em Araraquara e o resultado sem gols em São Paulo levaram a decisão para as penalidades, onde Luciana fez uma defesa e viu uma cobrança passar à direita do gol, para alegria das afeanas. A estrela da goleira voltava a brilhar.

 

Drama familiar

Após conquistar o título, Luciana revelou que quase deixou a equipe para retornar à sua família. O motivo foi um acidente vascular cerebral sofrido pelo pai, Luís, em Belo Horizonte-MG, onde reside sua família.

“O meu pai teve um AVC há um mês e eu pensei em deixar tudo e voltar para casa. Mas meus irmãos, meus sobrinhos e cunhados me deram a maior força. Fiquei aqui e ofereço a meu pai, que não teve nenhuma sequela e está bem lá em Belo Horizonte. Este título e é dele”, salientou a atleta, que também dividiu os méritos com o time, comissão técnica e torcida.

 

Torcedores reforçam importância da camisa 1

Nos jogos das Guerreiras Grenás, uma bandeira exibida pela torcida mostra uma caricatura de Luciana com os dizeres: ‘A melhor goleira do Brasil’.
Quem mandou produzir a bandeira foi o torcedor Diego Coxi, que destaca a importância da camisa 1. “Do mesmo jeito que os torcedores do Palmeiras consideram o Marcos o melhor goleiro do mundo e os sãopaulinos vêem o Rogério Ceni como o melhor do mundo, para nós a melhor goleira do mundo é a Luciana”, resume.

Se a ideia era emocionar a goleira, o objetivo foi cumprido. Após o último pênalti contra o Corinthians, a goleira se dirigiu aos torcedores afeanos, que exibiam a mesma faixa na arquibancada do Parque São Jorge. “Fiquei muito emocionada. No primeiro jogo me mostraram a bandeira e eu chorei bastante porque nunca passou pela minha cabeça receber uma homenagem dessa da torcida. E hoje, novamente, eles vieram com a bandeira aqui e falei que jogaria por eles, porque sair de Araraquara para vir até aqui não é fácil. São cinco horas de viagem e eles nos deram total apoio. Assim que acabou os pênaltis, fiz questão de correr lá e comemorar com essa torcida maravilhosa”, explicou, após a decisão.

Danilo Amorim também é um torcedor apaixonado pelo futebol feminino e um daqueles que pedem o busto para a goleira. “A Luciana é um exemplo que ainda se existe amor à camisa nos dias atuais, coisa muito rara hoje em dia. Quando se fala de Ferroviária e de Guerreiras Grenas, um dos primeiros nomes que se vem à mente é a Luciana, uma pessoa muito humilde e batalhadora, que contando suas passagens por aqui são mais de quatro anos vestindo e honrando essa camisa grená. Conquistou praticamente todos os principais títulos possíveis com a camisa, sendo um dos destaques do time principalmente em decisões de pênalti. Em 2015, devido estar na Seleção Permanente, ela não pôde estar presente na disputa e na conquista inédita daquela Libertadores, o único que falta ainda para ela com este manto grená. Mas agora ela terá a oportunidade nos próximos dias e que consiga este feito que será muito importante para ela, equipe, torcedores e cidade”, explicou.

Redação

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