Como tudo começou
Tudo começou por volta de 1600. Naqueles tempos, São Paulo era uma província pobre. A lavoura açucareira, base e fundamento de seu progresso estava em declínio, suplantada pelas plantações de cana do norte e nordeste, cujas terras levavam vantagem em relação as nossas do litoral. Além disso, Bahia e Pernambuco ficavam a uma distância muito menor de Lisboa, com a viagem consumindo cerca de 30 dias a menos de navegação.
Moral da história: Enquanto no nordeste açucareiro respirava-se lusitanidade, em São Paulo vivia-se em um regime de completo abandono por parte da Corôa. O tratamento diferenciado deu aos paulistas certa independência de atitudes. Nada existe nos arquivos da Câmara Planaltina quanto a importantes acontecimentos daqueles períodos. Acontece a tragédia de D. Sebastião, nada; morre D. Henrique, e nem uma só linha de registro; Felipe apanha a Corôa, e a Câmara permanece calada. O povo paulista já naquela época, dava mostras de seu espírito insubmisso.
Então, cansados de esperar, foram à luta. Logo, o inexplorado interior de São Paulo começava a receber, aos montes, pousadas e trilhas abertas pelos destemidos bandeirantes paulistas. Enquanto uns iam ficando pelas pousadas, iniciando assim muitas das cidades do interior bandeirante, outros seguiam em frente e foram desbravando o Brasil.
Bandeirantes e Pedro José Neto
A iniciativa do povo de São Paulo atraiu novos aventureiros de outras regiões. Gente como a nossa disposta a ir à luta e buscar uma nova vida sem nada esperar da Côrte portuguesa. E foi com um desses homens que teve início nossa história. Por volta de 1790, Pedro José Neto, nascido em Nossa Senhora de Inhomerim, Bispado do Rio de Janeiro, e sua esposa Ignacia Maria Rosa, nascida em Nossa Senhora do Pilar, também Bispado do Rio de Janeiro, embrenharam-se nas matas fugindo do degredo na Vila da Constituição, hoje Piracicaba.
A punição teria ocorrido em razão de Pedro José Neto ter esbofeteado o Capitão Mor de Itu, cidade onde pretendia se instalar definitivamente. Caminhando pelas matas, o casal chegou até onde hoje está a cidade de São Carlos. Andando mais um pouco se depararam com os planos Campos de Araraquara. Gostaram, e ficaram.
1ª Capela, morte e Vila
Aqui, em 1805, Pedro José Neto e seus filhos construíram uma Capela de palha e logo pediram que fosse “…erecta em Freguezia desmembrada de Constituição”. A justificativa era à distância e os perigos que um padre teria que enfrentar para chegar até aqui. Alguns anos depois, finalmente, um religioso, o Padre Malachias, é designado para cá e começa a dar os sacramentos antes mesmo de regularizada à situação do povoado.
Pouco depois, graças a doação verbal de “400 braças em quadra” por parte do Padre Joaquim Duarte Novaes, é criada em 22 de agosto de 1817, pela Resolução Nº.32 do Reino, a “Freguezia de São Bento de Araraquara”. Passados pouco menos de 3 meses de sua maior vitória, o fundador de Araraquara falece vítima de um coice de mula.
A pequena Araraquara, no entanto, começa a se organizar, chegam novos moradores, uma nova Capela, agora de tijolos é construída no lugar daquela de palha, e em 29 de dezembro de 1827, Araraquara pede um professor ao Presidente da Província.
Quatro anos depois, D.Pedro-I abdica ao trono do Brasil e é criada as pressas, no Rio de Janeiro, uma Regência Trina Provisória para governar em nome do novo imperador, Pedro-II, então com apenas 5 anos de idade. Um dos membros da Regência era o Sr. Nicolau de Campos Vergueiro, proprietário de Sesmaria na região de Araraquara. Interessado no desenvolvimento da região, o Sr. Nicolau empenhou-se na elevação da pequena Freguesia de São Bento, a condição de Vila. Araraquara ainda engatinhava, mas tinha um “pistolão” cuidando de seu futuro.
A origem da palavra
Ára(dia, claridade,luz). – Coara(buraco ou cova). Araraquara, Morada do Sol. Nos campos de Araraquara nasceu a cidade, e a denominação dada pelos índios, ficou. As Nações indígenas, porém, estavam por toda parte, e com eles, seus costumes, sua língua e muitas outras “Araraquaras”.
No Dicionário Corográfico e Estatístico de Pernambuco – 1908,Vasconcelos Galvão citas dois rios localizados no Espírito Santo que se chamavam Araraquara,sendo que ao lado de um deles, havia um Engenho, fundado ainda antes da Invasão holandesa, que levava o mesmo nome.Na Carta Corográfica da Capitania de São Paulo de 1766, consta a seguinte citação: “…um riacho que corre entre as gargantas da Serra Araraquara….engrossando-se com o ribeiro do mesmo nome…”.
Já o astrônomo português, Dr. Francisco José de Lacerda Almeida, que por ordem do governo chefiou diversas expedições pelo interior do país, ao passar pelo rio Tietê, em 24 de outubro de 1788, escreveu o seguinte:”…com 3 horas de navegação…se avista à distancia de 3 légoas para N.E. uns Montes de chamão de Araraquara….”.
Importante dizer que a vasta cordilheira chamada de Montes Araraquara era a da margem direita dos rios Tietê e Piracicaba, e dava o mesmo nome ao vastíssimo território compreendido entre os rios Mogi-Guaçú, e o Rio Grande, seguindo até o Paraná. No Amazonas, na divisa com a Venezuela, havia uma Serra Araraquara. Junto à Rio Branco, outra serra do mesmo nome, e mais uma a esquerda do Alto Japurá.
A serra junto a divisa com Minas,próxima a Monte Santo, em Batatais, também tinha a mesma denominação.Já o Morro Araraquara, por sua vez, também a direita do rio Piracicaba, ficava pelos lados de onde hoje está Itirapina.Este sim, na direção dos chamados Campos de Araraquara,onde mais tarde nasceria aquela que eternizaria a palavra indígena; nossa cidade.