Por José Augusto Chrispim
O festival Araraquara Rock 2025 trará algumas novidades em relação às edições passadas e, entre elas, está a inclusão de bandas cover conhecidas da cidade. A inclusão foge da ideia principal do evento que é de dar espaço para bandas autorais.
Outra novidade que tem gerado polêmica nas redes sociais é a inclusão de moto clubes no evento. O público que acompanha o festival há mais de duas décadas, acredita que isso pode apresentar um contexto político, o que descaracterizaria a ideia original do evento.
A reportagem de O Imparcial conversou com a secretária municipal de Cultura, Euzânia Andrade, que falou sobre as novidades desta edição do evento. Veja a entrevista na íntegra:
O Imparcial: Quais são as novidades do Araraquara Rock de 2025 em relação aos anos anteriores?
Euzânia: “O Araraquara Rock 2025 apresenta uma série de inovações, resultado do diálogo constante com o público que acompanha o festival desde suas primeiras edições. A partir deste ano, o evento passa a contar com apresentações em formato de tributo, homenageando bandas que marcaram época, inovaram em suas trajetórias e influenciaram gerações de artistas até os dias atuais.
Acreditamos que valorizar essas referências é essencial. O resgate da memória musical fortalece a compreensão sobre a construção da linguagem artística, seus pioneirismos, origens e fundamentos, que influenciam diretamente a produção contemporânea. Nesta primeira edição da nova proposta, a banda escolhida para o tributo foi Beatles Again, de Araraquara, reconhecida por sua relevância musical. O quinteto atua há mais de 30 anos, com apresentações no Brasil e no exterior. Outra novidade é o palco “Rock History”, que surge como resposta a uma antiga demanda da cena local. Músicos que participaram das primeiras edições do festival manifestaram, ao longo dos anos, o desejo de retomar seu espaço na programação. A proposta resgata essa trajetória, celebrando a história e a contribuição das bandas da cidade para o fortalecimento do Araraquara Rock. O festival também terá início em horário ampliado. A programação começa pela manhã, na parte superior do teatro, com um espaço especialmente preparado para as crianças, que poderão brincar e participar de atividades de pintura e desenho”.
O Imparcial: Com relação à polêmica que vem sendo criada nas redes sociais sobre a participação de motoclubes no evento, não seria mais apropriado realizar o encontro em outra ocasião? Cogita-se que o evento poderia ter um contexto político e, dessa forma, descaracterizar o festival de rock original.
Euzânia: “Não existe nenhuma intenção política, mas entendemos que a relação entre os moto clubes e o rock é histórica e amplamente reconhecida em diversas culturas ao redor do mundo. Essa conexão ultrapassa o gosto musical: representa uma identidade compartilhada baseada em valores como liberdade, coletividade, resistência e espírito de estrada — elementos que dialogam diretamente com o universo do rock.
Ao longo das décadas, os moto clubes se consolidaram como agentes ativos na cena do rock, não apenas como público fiel, mas também como fomentadores culturais. Seja na organização ou no apoio logístico e simbólico a festivais, esses grupos contribuem de maneira significativa para a difusão do gênero, apoiando artistas independentes e consagrados, valorizando a diversidade de vertentes e ajudando a manter viva a tradição dos encontros musicais em diferentes territórios”.
O Imparcial: Qual é a expectativa de público para os três dias de evento?
Euzânia: “O Araraquara Rock mantém, ao longo dos anos, uma média de público constante, reflexo de sua consolidação enquanto festival de relevância nacional e com público cativo.
Atualmente, a média de público é de aproximadamente 3.000 pessoas por dia de evento. Esperamos manter e até amplia-lo”.
O Imparcial: Outra questão que chamou a atenção da população recentemente foi o cancelamento do show da banda Antidemon em Araraquara? Qual seria o motivo do cancelamento?
Euzânia: “Em relação ao cancelamento da apresentação da banda Antidemon no Araraquara Rock 2025, é importante esclarecer que a decisão partiu do prefeito Dr. Lapena, após uma análise do conteúdo da obra da banda. A Prefeitura preza pela liberdade artística e respeita a diversidade cultural, mas também entende que é preciso manter o alinhamento com os valores que orientam a gestão, como o respeito à fé, à família e à identidade da maioria da população. Houve diálogo direto e respeitoso com a banda, e a retirada da apresentação foi feita em comum acordo. Seguimos com uma programação plural, que valoriza os artistas locais, nacionais e o respeito ao público”, finalizou a secretária de cultura.
Festival consolidado
A reportagem conversou também com a vereadora Fabiana Virgílio (PT) que tem uma ligação grande com a cultura em geral da cidade e acompanhou todas as edições do Araraquara Rock. Ela deu sua opinião sobre as novidades da edição 2025.
“Araraquara Rock, esse evento fabuloso que existe há mais de duas décadas na cidade, recebe nessa edição uma mudança significativa, dando destaque a moto clube e música cover, que faz coro com o curador escolhido sendo esse alinhado politicamente com as ideias do atual prefeito, então, nada de novo no front.
Ainda não sei dizer se isso é bom ou ruim, tendo em vista que as bandas covers que se apresentarão, são bandas com bastante história na cidade.
Quanto a presença confirmada dos motoclubes, apesar de sabermos que sua grande maioria faz coro com a extrema direita no Brasil, só lembrar das motociatas do inominável, também é verdade que eles amam a estrada, a liberdade sob rodas e curtir um “bom e velho rock and roll” e a presença de motoclubes sempre foi perceptível nas edições anteriores, mas talvez, esse envolvimento do curador com os motoclubes, resulte nesse encontro este ano.
O foco desse importante evento, criado na gestão de Edinho Silva, deve sempre ser o de incentivar e fomentar bandas autorais, democratizar o acesso à cultura, valorizar a produção, muitas vezes, independentes e movimentar a cadeia produtiva e econômica de festivais como esse promovem na cidade.
Entre erros e acertos, o Festival já se consolidou como a cena gratuita mais importante do Rock no interior e isso teve dedos e mentes e corações e guitarras de muita gente”, resumiu a vereadora.