quinta-feira, 4, julho, 2024

Bate-papo com Jacira

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Café é o pretexto de Dona Maria para que a filha Jacira fique um pouco mais e converse dos temas amargos que sempre ficaram trancados na memória. E é neste clima que nesta quarta-feira (10), Dona Jacira chega à Araraquara para o lançamento de seu livro ‘Café’, a partir das 20h. Na oportunidade, a autora também conduz um bate-papo com o público sobre sua autobiografia, onde declama suas memórias poéticas mais profundas, em uma conversa com a pesquisadora e professora (escutadora) Valquíria Tenório. Para participar é só chegar: o evento é gratuito e aberto ao público.
Café é uma publicação da Editora LiteraRUA em parceria com a Laboratório Fantasma, primeiro livro da artista, griot, guardiã das histórias do seu povo, mestre em artes e ofício, poetisa, mulher e mãe.

Biografia narrada em primeira pessoa, Café nos apresenta palavras impressas que refletem mais que o brilho da poesia que, por vezes, brota do riso e do olhar reflexivo de Dona Jacira. Tal como em um baile, a obras nos oferta palavras que valsam entre um capítulo e outro e vão, suavemente, apresentando a rica história de uma mulher que decidiu perseverar.

Mas, não se engane! A obra descortina mais que a história de uma mulher de personalidade forte. ‘Café’ fala sobre sonhos, desilusões, desejos, identidade, território, justiça e medo. Como bem colocado pela educadora Maria do Rosário, outra mulher lutadora nos palcos da vida, ao prefaciar o livro: “Cuidado, você está entrando em terreno perigoso!”. E o perigo é não parar de folhear as páginas que apresentam não só a história de Dona Jacira, mas refletem também a realidade crua da vida que é imposta as muitas “Jaciras” de nosso Brasil, mulheres que cismam em não desistir da vida, que se recusam a parar de sonhar.

Café não nos oferta uma história triste – ainda que faça rolar uma lágrima aqui e acolá a cada lance narrado e vivido por Dona Jacira -, fala de coragem, de altivez, de bondade, de humanidade. Fala de uma criança que, precocemente virou mãe, mulher, cidadã e que muito cedo enfrentou a dureza da vida, a navalha dos preconceitos e descobriu que a violência podia estar sentada no sofá da sala, na mesa de jantar ou se esconder nas paredes de sua infância.
O livro nos ensina perseverança, arte e amor pela vida. “Vivi momentos muitos duros. Nos quais não havia espaço para o desenho, a pintura, ou mesmo para a poesia e menos ainda para a prosa. Mas, sempre escrevi! Na minha cabeça, escrevi. A arte sempre foi um refúgio, lugar de busca e de encontro!”, afirma a autora. Dona Jacira é daquelas que alerta sobre o valor dos livros. “Aquele que lê e não entende o valor do escrito e seu papel na história, não é nada além de um mero carregador de livros.

Mas, aquele que lê e entende o papel da arte na vida, esse sim, sabe o valor da luta por espaço, por seu território”.  Em Café, desvendamos não só a história de uma mãe que lutou para criar seus filhos. Mais que isso, de uma mulher que compreendeu seu papel social e decidiu ocupar seu espaço na vida tendo como horizonte vencer a opressão, a violência e o preconceito. Uma Carolina Maria de Jesus do nosso tempo.
“Acredito que o livro vai contar e se fazer ouvir pelas milhões de “Jaciras” que estão espalhadas Brasil afora. E, guardada as devidas proporções de espaço e tempo, são histórias que refletem, infelizmente, a realidade de muitas mulheres no Brasil e no mundo até hoje”, alerta o músico e produtor executivo da obra Evandro Fióti, um dos filhos da autora. E completa: “E ainda que ela não tenha ocupado bancos acadêmicos, a forma como a minha mãe escreve, sua perspicácia, inteligência a forma como ela narra e conduz o leitor a um mergulho em suas histórias têm muito a ver com tudo que ela leu, com tudo que ela absorveu da cultura, da arte, resultando na sabedoria que hoje testemunhamos em suas produções e escritos.

Em um momento tão confuso de nossa história, ‘Café’ completa bem mais que a conversa da tarde, ele alerta sobre o que já foi vivido não só por Dona Jacira, mas por todas as “Jaciras” desta época e de todas as épocas passadas.

Dona Jacira nasceu no dia de natal em 1964, cresceu no Jardim Ataliba Leonel, na Zona Norte de São Paulo, e vive hoje no Jardim Cachoeira, na mesma região. É filha de Maria Aparecida, de quem herdou a garra e o gênio forte. Seu pai Estácio, missionário religioso, morreu meses antes do nascimento da caçula do casal.

Jacira é mãe de Katia, Katiane, Evandro (Fióti) e Leandro (Emicida), rapper que dedicou a ela, a música “Mãe”. “Fui apresentado a Dona Jacira como muitas pessoas, através de sua poesia declamada no rap de Emicida. A gente percebe rápido que ela tem uma narrativa única.

Uma marca registrada na palavra que flui feito fumaça de café impresso em cada página de seu livro e também refletida nos versos das músicas de seus filhos”, compara Toni C., editor da obra ao lado de Demetrios dos Santos Ferreira. A escritora é avó de seis netos e dona de uma grande produção literária cheia de poesia, crônicas, histórias infantis e contações. ‘Café’ é seu livro de estreia, publicado pela editora LiteraRUA em parceria com a Laboratório Fantasma.

Serviço
Bate-papo e lançamento de livro ‘Café’ – Dona Jacira
Dia: 10/4, quarta
Horário: 20h
Local: Garimpo
Classificação: Livre
Grátis

Redação

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