sexta-feira, 22, novembro, 2024

Calma, pessoal!

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Recentemente, uma charge que produzi para o jornal O Imparcial causou um certo tumulto no Facebook. A ilustração trazia o presidente Jair Bolsonaro feliz da vida por ter conseguido um autógrafo de Donald Trump em sua bandeira dos Estados Unidos. Para alguns internautas, foi como ofender um familiar. Peço desculpas a quem se ofendeu, mas sinceramente não sei o motivo de tanto rancor, já que o próprio presidente brasileiro já declarou sua admiração pelo mandatário norte-americano e existem vídeos no YouTube com Bolsonaro em posição de continência diante de uma bandeira americana durante uma execução do hino daquele país. Creio que o próprio presidente gostaria da ‘homenagem’ se visse a charge.

Resumindo, foi uma brincadeira, que agradando ou desagradando, cumpriu seu papel de fazer pensar sobre o assunto. Para quem não sabe, a charge tem a função de satirizar, por meio da ilustração, um acontecimento atual, normalmente com personagens reais. A palavra charge é de origem francesa e significa ‘carga’, ou seja, é justamente o ato de exagerar nos traços ou na personalidade de alguém para torná-lo burlesco. As charges existem desde o início do século XIX e não é agora que deixarão de existir porque as pessoas resolveram virar fãs de políticos.

Outra coisa que precisa ser destacada é que, em todos os jornais, a charge integra a página de opinião, normalmente ao lado de artigos (como este, por exemplo) onde os autores exprimem seus olhares pessoais sobre os assuntos do nosso cotidiano. Ou seja, a opinião nem sempre é do jornal, mas do articulista (ou do chargista). E o jornal está aberto a todas as opiniões, porém o mais curioso é que essas mesmas críticas partem de pessoas que não acompanham o jornal.

Foram inúmeros comentários na charge me chamando de esquerdista, comunista, pessimista, terrorista, badernista, trapezista e muitos outros ‘istas’ por aí. Achei engraçado, já que até pouco tempo atrás eu era chamado de direitista pela galera que se revoltava com as charges que eu fazia do Lula, da Dilma e companhia limitada do PT.

Quem acompanha charges de outros jornais pelo Brasil sabe que o presidente é o personagem que ilustra os problemas do país. Assim como na campanha eleitoral o candidato a presidente promete resolver todos os problemas – inclusive aqueles que nem são da responsabilidade dele -, ao ser eleito ele passa a ser o foco de todos os empecilhos. É a vidraça da vez. Sempre foi assim, é assim agora e será assim com o próximo presidente.

Faço charges há pelo menos duas décadas e nesse tempo vários presidentes foram meus ‘alvos’. Comecei com o FHC, passando por Lula, Dilma, Temer e agora o Bolsonaro, isso sem contar os políticos de menor escalão de vários partidos. Obviamente, com o PT no poder por 14 anos, tenho quase mil charges sobre os políticos desse partido. Me feriu no peito um comentário que li de um leitor “assíduo” que disse que nunca viu uma charge do PT no jornal.

Compartilhando uma lembrança com você que lê este texto, certa vez o Paulo Maluf foi fazer uma visita à redação do jornal O Imparcial para uma entrevista. O político, rodeado de seguranças ‘de três metros de altura’, aguardava o início da entrevista e pegou um jornal. Em uma fração de segundo, eu rezei para todos os santos para que ele não abrisse na página da charge, uma vez que ele era o ‘homenageado’ do dia. Minhas súplicas foram atendidas, ele só deu uma olhadinha nas manchetes da primeira página e eu consegui preservar minha integridade física.

Juro de pés juntos que não tenho lado, não admiro nenhum político e se pudesse trocaria todos os políticos brasileiros por governantes suecos ou dinamarqueses. E na minha opinião, mesmo se um dos nossos eleitos fizer algo incrivelmente bom, não deixarei de fazer charges sobre ele, já que ele é muito bem pago para isso e não fará mais do que sua obrigação.

Aliás, não posso deixar de citar essa fase de “polídolos” que vivemos. Admito que foi horrível esse termo que criei agora, mas quebra o galho. Essa idolatria a políticos existiu com o Lula e existe agora com o Bolsonaro. Essa é a prova de que a política virou um verdadeiro Fla-Flu. E pior, sem árbitro de vídeo. O cidadão escolhe um político para torcer, muitas vezes até sem pesquisar sobre seus feitos e ideias, e veste a camisa. Vai até o fim, agigantando qualquer pequeno acerto e tentando justificar de todas as formas os erros. E quanto menos visão crítica tem o povo, mais manipulável ele será. Vemos muitos argumentos bem construídos nos comentários políticos pela internet, mas em 90% dos casos são mensagens ofensivas ou vazias de conteúdo.

Tenho certeza de que o jornal será cada vez mais criticado pelos nossos internautas pelas próximas charges que vêm por aí. Mas um veículo de comunicação não chega a quase 90 anos defendendo um lado que não seja o do povo. Com todas as dificuldades que sempre estiveram na vida do jornal, essa marca só é obtida com credibilidade. E com essa credibilidade, o jornal está voltando a crescer. Conheça o jornal O Imparcial. Assine, leia diariamente e não cometa o erro de julgá-lo por um único post no Facebook. E para concluir, não posso deixar de pedir… Calma, pessoal!

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Redação

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