“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.”
(Citação do livro Macunaíma)
Escrito em 1926 e publicado em 1928, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, escrita por Mário de Andrade, um dos principais nomes do modernismo no Brasil.
A obra vai ao encontro de um momento de busca por uma identidade nacional, fruto das ideias que emergiram a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, em que Mário de Andrade fez parte junto a outros grandes nomes. Sua obra não apenas rompe as convenções literárias vigentes na época, mas também propõe uma abordagem irreverente do folclore e da cultura popular brasileira.
Saindo de São Paulo em direção a Araraquara, Mário de Andrade se refugiava na chácara (hoje conhecida como Chácara Sapucaia) de seu “tio”, Pio Lourenço Corrêa, fundamental para a cultura do país e mentor intelectual com quem Mário conversava sobre áreas diversas, como estudos linguísticos, música, fauna, flora e folclore, e a quem confiava seus textos antes de serem publicados. E foi ali, inclusive, que o poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta e fotógrafo escreveu grande parte daquela que viria a ser sua obra mais conhecida. Mário de Andrade costumava dizer que escreveu Macunaíma em apenas seis dias “deitado na rede em Araraquara”.
Perto de completar 100 anos desse feito em 2026, a Academia Araraquarense de Letras propôs a formação de uma comissão para a idealização de um calendário em comemoração ao centenário, convocando representantes da cultura e educação da cidade. Fazem parte da comissão atual: Ivo Dall’Acqua Júnior, representando o Conselho do Serviço Social do Comércio (Sesc); Fernando Passos, da Academia Araraquarense de Letras; Maurício Trindade da Silva, do Sesc São Paulo; Rafael Barcot Tintor, do Sesc Araraquara; Euzania Andrade, representando a Secretaria Municipal de Cultura; Valquíria Pereira Tenório, da Academia Araraquarense de Letras; Alexandre Silveira de Campos, da UNESP Araraquara; Eduarda Escila Ferreira Lopes, da UNIARA; Ednéia Castro Castagini, do Grupo de Mulheres Empreendedoras de Araraquara (MEA); e Carolina Cechella Philippi, da UNESP Araraquara e Comissão do Centro Cultural Professores Waldemar Saffioti e Heleieth Saffoti.
Como evento precursor, o Sesc Araraquara realizará no dia 27 de março de 2025, às 19h, uma homenagem a uma das maiores pesquisadoras da obra de Mário de Andrade, Telê Ancona Lopez, nome literário de Therezinha Apparecida Porto Ancona Lopez. Professora emérita do IEB-USP, Telê é uma das maiores autoras sobre o modernismo brasileiro e tem se dedicado ao estudo das vanguardas europeias e da crítica textual. Teve contato com o acervo de Mário de Andrade enquanto aluna da USP, época em que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) adquiriu o arquivo da família de Andrade.
O evento, intitulado “Encontro com Telê Ancona Lopez: o processo de criação e escrita de Macunaíma”, contará com a participação de Tatiana Longo Figueiredo, também pesquisadora da obra de Mário de Andrade e será mediado por Maurício Trindade da Silva, doutor em Sociologia da Cultura, membro da comissão e autor do livro “Mário de Andrade, Epicentro: Sociabilidade e correspondência no grupo dos cinco”, pela Edições Sesc. O ator Pascoal da Conceição, na figura de Mário de Andrade, conduz o encontro, enquanto Cida Moreira dará voz ao espetáculo. A direção é de Gonzaga Pedrosa, iluminação de André Lemes e direção de arte de Roberto Gobatto.
Além de sua relevância literária, Macunaíma também exerceu uma grande influência na música, no teatro e nas artes visuais, sendo adaptada para diversos formatos. A celebração dos 100 anos de sua publicação representa uma oportunidade de revisitar a obra e refletir sobre as múltiplas culturas e histórias que constituem o Brasil.
Serviço
“Encontro com Telê Ancona Lopez: o processo de criação escrita de Macunaíma” com Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo. Mediação de Maurício Trindade.
27/03, quinta-feira, às 19h
Retirada de ingressos no dia do evento, a partir das 13h30. Limitado a um ingresso por pessoa.