sexta-feira, 22, novembro, 2024

Futebol feminino é destaque no “Canal Direto com a Prefeitura”

Técnica Jéssica de Lima, da Ferroviária, falou sobre expectativas para a Copa do Mundo e os próximos desafios das Guerreiras Grenás

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Programa produzido pela Secretaria Municipal de Comunicação, o “Canal Direto com a Prefeitura” desta quinta-feira (20) contou com a participação da técnica da equipe feminina da Ferroviária, Jéssica de Lima, que falou sobre sua trajetória, as expectativas para a participação do Brasil na Copa do Mundo Feminina, a busca pela igualdade de direitos das mulheres e os próximos desafios das Guerreiras Grenás.

Jéssica relembrou passagens de sua carreira e os obstáculos que superou até chegar à Ferroviária. “Eu iniciei um tempinho atrás, aos 16 anos, e hoje tenho 42. Não sou muito boa com datas, mas iniciei na equipe do Marília, no interior de São Paulo. Basicamente minha carreira foi mais no interior de São Paulo. Depois do Marília eu fui para o Rio Preto para disputar a Paulistana de 1999. Tive passagem pelo São Paulo e pelo futebol italiano. Voltei, retornei ao Rio Preto, onde eu passei a maior parte da minha carreira, disputando praticamente quase todos os jogos de Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, até finalizar minha carreira em 2018. Já estava com 37 anos e a conta já tinha chegado. Concomitantemente, eu já trabalhava com base, sou formada em educação física, já atuava como preparadora física da equipe, até porque financeiramente a gente não conseguia viver somente do futebol. Eu tentava fazer outros trabalhos nos outros períodos que eu tinha livre. Para conseguir viver do futebol, você teria que parar e tentar buscar outros meios de vida. Então, como eu fui bolsista pelo esporte, consegui fazer faculdade e consegui me manter no esporte. Eu já estava desde 2008, mesmo jogando, fazendo essas situações de preparação física, auxiliar técnica e treinadora da base. Em setembro de 2019 eu recebi o convite da CBF para ser auxiliar técnica da Seleção Brasileira Sub-20. Fiquei lá até setembro de 2022, quando eu recebi a proposta para vir como treinadora da equipe principal da Ferroviária”, destacou.

Ela revela que se sente privilegiada por poder viver de futebol. “De fato, é difícil você sonhar desde pequena com uma coisa e conseguir chegar a viver dela. Eu sei porque eu encontrei muitas amigas minhas de infância e de adolescência, que infelizmente são frustradas até hoje. Algumas se dizem arrependidas por não terem continuado, outras porque o pai não deixou, e outras porque não conseguiam se manter no esporte. Eu me sinto privilegiada nesse sentido”, comentou.
Trabalhos físicos e mentais

A treinadora também falou sobre as pressões física e psicológica que envolvem uma competição internacional como a Copa do Mundo. “Essa preparação tem que ser feita antes. Se você esperar chegar na competição para trabalhar isso, é um tiro no pé. Então na Seleção Brasileira principalmente, onde nós disputamos Sul-Americano e Mundial com as categorias de base, que são muito sensíveis, fizemos o trabalho durante todo o processo visando colocar a pressão antes. Nesses jogos onde já existe essa pressão externa, você tem que dar o máximo de confiança para a atleta e deixá-la extremamente livre, solta, feliz, alegre, e propor um ambiente super leve. A própria Ferroviária também tem psicólogas, na Seleção tinha, tanto nas categorias de base como na equipe principal. Você vai fazendo dinâmicas ao longo do processo, já imaginando cenários de pressão, perdendo o jogo, como fazer com uma jogadora a menos, com a torcida xingando. No caso de Mundial não tem muito isso, já que a torcida é bem mais tranquila em relação às competições de clubes, por conta da rivalidade. Você tenta propiciar uma preparação para que na hora que ela chegue de fato na pressão, ela se sinta segura”, acrescentou.

Ela salientou que o fato de ter sido jogadora facilita para que ela identifique quando há algo que precisa ser conversado dentro do grupo. “Por ter jogado, isso talvez seja uma coisa que facilite, porque eu detecto com uma certa facilidade quando uma atleta está com um comportamento diferente do que tem habitualmente. Se uma atleta que é muito introvertida e fica mais extrovertida, ou aquela que é muito mais alegre e fica fechada, você fica monitorando, juntamente com a parte da psicologia. Aí você vai lá ter uma conversa, às vezes até um abraço. Na Seleção Brasileira, particularmente, fizemos antes dos jogos uma reunião onde realizamos uma dinâmica com as meninas e, no caso, só estavam eu e o treinador. Nos fechamos em uma sala e tivemos um bate-papo muito aberto, onde elas puderam tirar tudo e ter uma confiança em nós. Deixamos claro que estava tudo bem, independente do que acontecesse”, lembrou.

Expectativa para a Copa

Na visão de Jéssica, o Brasil precisará se desdobrar para superar outras potências na Copa do Mundo de Futebol Feminino, que teve início nesta quinta-feira na Austrália e Nova Zelândia. “O Brasil não é favorito. Estamos vendo toda a visibilidade e cobertura que está tendo, mas temos que ter um olhar técnico. O Brasil hoje está em quinto ou sexto lugar em termos de favoritismo. Tem grandes potências que estão mais adiantadas em relação a nós, mas a Copa do Mundo envolve poucos jogos. Eu acho que a primeira fase do Brasil será muito tranquila para passar, talvez até passar em primeiro lugar. Passando em primeiro, dependendo do chaveamento, talvez possamos encontrar umas quartas de final com mais tranquilidade, e aí a equipe vai pegando confiança. Competições de mata-mata entra muito a questão emocional também. Com tudo isso, podemos ter a chance de conquistar uma medalha. E o futebol é muito aberto, o favoritismo dura até o momento em que o árbitro apita. Nesse sentido, eu acho que o Brasil, por mais que não seja favorito, tem chance de medalhar e possivelmente até ganhar a Copa do Mundo”, apontou.
Igualdade de gênero

A técnica afeana também sugeriu ações que ajudem a promover uma maior igualdade de gênero no futebol. “A primeira coisa já está acontecendo, que é dar visibilidade, precisa mostrar que existe. Eu particularmente, quando comecei a jogar futebol, não sabia que existia mulher jogadora de futebol. Era algo que partia de uma forma instintiva minha de jogar futebol, independente de ter referências ou não. A partir do momento que você dá visibilidade, aquela menina que está assistindo televisão com 8 anos percebe que pode jogar futebol e se sente muito mais empoderada a praticar a atividade”, mencionou. 
Para ela, ta

mbém é importante quando a mídia dá voz às jogadoras. “Quando você mostra a vida de uma ou outra atleta, isso traz a questão da referência. Eu estava vendo ontem uma reportagem falando da Tamires, falando que ela é mãe, a dificuldade que ela enfrentou por ser mãe. Com isso, uma menina que tem aquele sonho de ser mãe, mas quer ser jogadora, olha uma Tamires, que traz esse exemplo, e faz com que as mulheres tenham mais coragem de ter determinadas ações em detrimento aos homens, que são mais libertos por conta de toda a estrutura social que temos. Nesse sentido, aos pouquinhos vamos conquistando mais espaço, vamos entrando em lugares onde não entrávamos e vamos quebrando tabus. Hoje eu ando na rua, o Uber conversa comigo sobre futebol, vou ao açougue e a pessoa fala comigo por eu ser treinadora da Ferroviária. Não precisa ir longe, se pegarmos seis anos atrás, se você colocasse uma mulher como treinadora, todo mundo acharia estranho”, exemplificou.
Guerreiras em ação

A equipe feminina principal da Ferroviária teve um período de descanso por conta da paralisação em decorrência da Copa do Mundo, porém voltou aos treinos nesta quinta-feira e se prepara para uma verdadeira maratona de jogos decisivos que terá pela frente. “Coincidentemente, tivemos hoje a reapresentação. Nesta semana elas terão um período de testes físicos, para ver como que vão retornar, como que estão, para projetarmos a programação das próximas semanas. Teremos em agosto o Brasileiro e o Paulista. Iniciaremos com o Paulista e logo de cara teremos umas pedreiras, com uma sequência de três jogos contra o São Paulo, sendo um pelo Paulista e dois pelo Brasileiro. Serão jogos difíceis e emocionantes. Estamos na semifinal do Campeonato Brasileiro e vamos buscar essa final, ao mesmo tempo em que estamos buscando nos classificar para a semifinal do Paulista. Demos uma renovada nas energias e isso é muito bom porque aqui em São Paulo é muito cansativo, pois tem jogos de semana e de final de semana por conta das disputas simultâneas do Paulista e do Brasileiro. O Brasil é grande, então você acaba viajando muito mais, treinando, e tudo isso cansa, por isso foi super providencial essa parada para voltarmos com tudo”, frisou.

Redação

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